Um estrondo ensurdecedor. Pratos, pessoas, cadeiras voando e um desespero generalizado. Esta foi a experiência vivenciada pelos ageiros do Kattamarã III na noite do dia 11 deste mês, depois que a embarcação bateu em uma pedra, durante um eio em Florianópolis.

Mais de uma semana após o acidente, que além de trazer medo às pessoas, destruiu um farol histórico perto da ilha dos Guarazes, a causa ainda não foi elucidada.
A Marinha abriu uma investigação, porém, o prazo para conclusão é de 90 dias. A Três Fronteiras, empresa que presta o serviço, também faz uma apuração própria e, inicialmente, alegou que houve uma alteração na maré.
Agora, explica que o capitão precisou fazer um desvio e sair da rota. Mesmo sem respostas para o acidente, a empresa pretende retomar as atividades no início da semana que vem, após obter as devidas certificações.
Presente no Kattamarã III na hora do acidente, o Alvaro Fernando Correa Lima, 38 anos, estava com cinco parentes na embarcação.
A primeira explicação dos funcionários da embarcação, reada a quem estava no catamarã, foi de que foi preciso desviar de uma rede de pesca. Alvaro conta que, depois, viu na TV a empresa contando que foi por causa da maré. “A culpa parece que é de todo mundo menos deles, e estão minimizando algo bem grave, que poderia ter sido trágico”, afirma.
Conforme Alvaro, o acidente ocorreu no jantar, interrompido por um estrondo. “Minha sogra sentiu mais o efeito, caiu da cadeira, bateu a cabeça e os óculos voaram longe. A sorte é que o catamarã estava vazio naquele dia, mas o susto foi muito grande. Uma mulher grávida ou super mal com o susto”, relata Alvaro.
No alvoroço, com as pessoas desviando dos cacos para não se cortar, Alvaro conta que ajudou uma senhora a encontrar o irmão no barco. Segundo ele, a empresa devolveu o dinheiro da turbulenta viagem aos ageiros, mas não orientou as pessoas sobre como agir.
“Simplesmente aram perguntando se estava tudo bem e viram que todos estavam assustados, em estado de choque”, disse Alvaro. Segundo ele, o barco ficou cerca de 25 minutos preso à pedra até sair escoltado pelos bombeiros.
Nova vistoria será realizada nesta quinta-feira 234lp
Conforme o construtor da embarcação, Antonio Gamboa Junior, da Estaleiro Paz, que faz parte do grupo operador do Kattamarã III, a embarcação está num estaleiro em Navegantes, onde recebeu reparos, e está apta a navegar.
Uma certificadora vistoriou o reparo e liberou a embarcação. Nesta quinta-feira (20) pela manhã haverá nova vistoria, desta vez com a embarcação flutuando para emissão do novo certificado. O documento será levado à Marinha.
Em Navegantes desde domingo, o catamarã deve retornar à ilha neste sábado. “O prejuízo foi uma pequena fissura na proa. Em questão de duas a três horas depois de docada [condição que permite modificações e reparos no barco] estava pronta”, explicou Gamboa.
Sobre a investigação própria da empresa, Gamboa disse que o capitão teve que fazer um desvio e sair da rota, ando a navegar em área sem sinalização. “A Marinha abriu uma sindicância e vai investigar o que ocasionou. O capitão, por enquanto, continua”, afirmou Gamboa. Ele defende que a embarcação é adequada para navegar na região e há condição de navegabilidade na rota.
Em nota à imprensa, a SC (Capitania dos Portos de Santa Catarina) informou que autorizou a ida da embarcação para Navegantes para os devidos reparos e que, depois disso, deverá ser vistoriada por engenheiro competente para a emissão de novo certificado de segurança da navegação, possibilitando a retomada das atividades.
A Capitania reiterou que o IAFN (Inquérito sobre Fatos e Acidentes da Navegação) para verificar as causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente, tem prazo de encerramento em 90 dias.
Nova rota em acordo com pescadores 2az2a
Mesmo defendendo que a rota atual é segura, a operadora da embarcação vai mudar o trajeto no retorno às águas de Florianópolis. A mudança é para atender a uma demanda de pescadores. Segundo o pescador Silvani Ferreira, do bairro João Paulo, desde que o serviço começou a operar, em 2 de fevereiro, mais de cem redes de pesca foram danificadas pela embarcação.
Na quarta-feira (19), o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Juliano Pires, promoveu um encontro entre os pescadores e representantes do catamarã para que as duas atividades se alinhem. Ele avaliou que a conversa foi positiva: “As atividades entenderam que é plenamente viável coexistir de forma harmônica e definimos alternativas para o bom convívio”, disse Pires.
No entendimento dos pescadores, a avaliação da reunião também foi positiva. “Sugerimos que eles façam a mesma rota do scuna, que nunca deu problema. Sai do trapiche da Beira-Mar Norte e segue até a Ilha de Ratones, depois retorna pela mesma rota. É importante mudar, não só pelo acidente, mas pela segurança dos pescadores”, ponderou Ferreira.
Para o construtor da embarcação, a reunião também foi muito produtiva: “Vamos estabelecer uma nova rota e pedir para não colocarem redes nos horários que serão reados. Conversamos também sobre uma proteção nas hélices, que vamos analisar para ver se há possibilidade”, afirmou Gamboa.