Pelo décimo ano consecutivo, o tricampeão de Roland Garros, Gustavo Kuerten, abre nesta quinta-feira (11), a Semana Gustavo Kuerten 2018, que recebe atletas do tênis de quatro a dezoito anos para competições em diversas vertentes do esporte. Essa nova edição recebe competições como o torneio internacional de tênis em cadeiras de rodas, tênis infantil, beach tênis, copa infanto juvenil além do festival de minitênis.

Como uma das grandes novidades da edição 2018 do evento, foi apresentada a parceria com a Federação sa de Tênis, Gustavo Kuerten foi nomeado embaixador de Roland Garros no primeiro semestre de 2018. Na manhã e tarde desta sexta-feira (5), o ex-tenista recebeu cerca de 700 crianças no “Encontrão do IGK”, e conversou com a reportagem do Notícias do Dia sobre a parceria com a Federação sa, os resultados alcançados do projeto, o momento da modalidade no país, além do próximo ciclo olímpico.
Entrevista com o ex-tenista Gustavo Kuerten 6uj3t
JND – Qual será o grande plus do evento após a parceria com a Federação sa de Tênis?
GUGA – Esse foi o nosso título, a consagração. Percorrer dez anos, evoluir bastante, perceber que dentro de tudo que a gente pensava, de entrelaçar e unir forças, nada melhor do que se aproximar da maior referência possível do tênis, que é um torneio de Grand Slam, que tem a ver com a nossa história, que traz a inspiração, o símbolo maior do que representa o tênis e o esporte aqui no Brasil. Considero como um grande troféu que a gente pode celebrar e saborear ao longo dessa caminhada de dez anos. Que isso sirva de motivação para continuar produzindo mais, ano que vem teremos uma vaga pro campeão da 16 anos, para o Roland Garros. Ano que vem a Lacoste leva para Le Petit, esse que é o campeonato mundial da categoria 14 anos, um garoto indicado pela nossa curadoria, um menino e uma menina para representar o Brasil nesse torneio na França. Os cadeirantes que foi lá em cima já é essa referência, o maior torneio da América latina. O beach tênis que vem crescendo imensamente. A gente percebe que em termos de experiência no tênis nós atingimos já o máximo a alcançar com a estrutura possível. Essa de Roland Garros simboliza bem essas parcerias que podemos fazer pro futuro.

JND – Quais os resultados alcançados nesses dez anos em termos de formação de atletas, inclusão social e crescimento da modalidade?
GUGA – Essa semana de fato serviu inicialmente como a intenção de resgatar a competição do tênis juvenil, ter um ambiente mais agradável, que estimulasse as crianças, os vínculos de mais importância para aquele momento. Percebemos que o maior valor da semana era que ela servia como laboratório do tênis brasileiro e um parâmetro de que ponto nós estávamos. Olhando nessa perspectiva dos últimos dez anos, nós evoluímos bastante, principalmente em alguns quesitos fundamentais como a base do tênis. O nível hoje dos profissionais que estão envolvidos com as crianças, os garotos, jovens e até na transição do profissional, são melhores. O investimento neles ainda é precário, inicial, precisa ar para o razoável para começar a ter maiores efeitos, mas a gente vai chegar lá se mantiver o barco no prumo, talvez esse próprio ano chegue, já esteja nesse nível, se não, muito em breve.
JND – Como você enxerga o atual momento do tênis no Brasil?
GUGA – Temos uma geração muito boa, garotos que estão ainda no juvenil, mas já ciscando no profissional, com pretensões grandes, de chegar nas cabeças. Isso, talvez como geração seja um ponto fora da curva, mas também é normal para o Brasil, nosso país tem muito potencial. Na formação de atletas temos excelentes células, com resultados já nos profissionais e também em transição, como no juvenil.
JND – O Brasil está pronto para as próximas Olimpiadas?
GUGA – O Brasil seguramente nunca estará pronto para uma Olimpíada, isso é normal, infelizmente é a realidade da forma que o esporte é conduzido no país. Ainda é visto com amadorismo, desinteresse, até mesmo porque a realidade e as necessidades mais básicas, elas também são enxergadas da mesma forma. Seria incoerente exigir do esporte que a visão fosse profissional e bem conduzido, com devido interesse. A realidade do nosso país diverge disso. Ainda que os problemas sejam, hoje, praticamente espalhados por todas as áreas, é um problema de Estado. O momento é super delicado, um país repartido, procurando se encontrar. A vantagem que temos é que também sempre foi esquecido, ou, pouco alimentado, foi ruim, sempre foi complicado fazer esporte no Brasil, então, estamos acostumados a lidar com essa situação.
JND – Como popularizar o tênis no Brasil?
GUGA – Essa parte do esporte é tangível, tem vezes que as expectativas se perdem. Eu percebi bem desde 1997 que todo mundo falava: “vamos popularizar o tênis, fazer ele ser uma grande máquina no Brasil”, não é simples assim. Popularizar é, tanto é que aconteceu, tem um ídolo, populariza. Leva um pouco para as escolas, para as comunidades, mas isso não dá garantia que o esporte terá um ciclo de aprimoramento, de desenvolvimento, porque requer mais cuidado, mais trabalho, investimento de iniciativa privada. Precisa ter dinheiro vindo do esporte, não só o financiamento público como acontece na maioria desses projetos. Eu acredito que se for por essa ordem do financiamento público, pode ser aproveitado para um pontapé inicial, para começar projetos que são difíceis tirar do papel, mas depois precisa ser auto-sustentável, precisa andar por si só. Já pelo lado da cidadania, ai eu concordo que a iniciativa pública tem que investir, no esporte há educação, saúde, cultura, está tudo aqui dentro. Mas promover um atleta de elite? Tem outras preocupações maiores. É fato que os nosso atletas olímpicos não tem dinheiro para viajar e hoje é preciso mais do que isso, é preciso formar um fundo para que um dia eles tenham condições de viajar por outras frentes , que se monte algo interessante, ou nas universidades, nas confederações, mas que eles tenham auto-suficiência para promover todos os seus esportes e não ficar na mão de um ciclo olímpico.