A onda de recorde de calor na América do Norte, com temperaturas que am dos 50°C, causou estragos e mortes nas últimas semanas. Segundo informações do The Guardian, mais de 500 pessoas podem ter morrido no Oeste do Canadá por conta das temperaturas.
Partes dos Estados Unidos também registraram marcas históricas de calor. Enquanto isso, o frio no Brasil também é extremo, e chegou até a registrar neve neste inverno em Santa Catarina. Com isso, será que existem chances de sofrermos com um verão parecido?

De acordo com o NOAA (Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos), no último sábado (10) a temperatura no Estado de Utah chegou a 47,2°C, mais alta da história no local.
Na sexta-feira (9), a máxima em Death Valley alcançou 54,4ºC, marca próxima do recorde de 56,7ºC registrado em 1913.
Um estudo feito pela Universidade de Columbia, chamado “O surgimento de calor e umidade muito severo para a tolerância humana”, publicado em 2020, antecipa a tragédia que ocorre nestes países e é analisado como base para entender o que acontece.
Radley Horton, o chefe do estudo da Universidade de Columbia, escreveu: “Mesmo que tenham saúde perfeita, que estejam sentados à sombra, que usem roupas que, em princípio, facilitam o suor, mesmo que tenham um suprimento infinito de água. Se houver umidade suficiente no ar, é termodinamicamente impossível evitar o superaquecimento do corpo”.
O meteorologista Piter Scheuer explica que o contraste de temperaturas entre os hemisférios é comum para a época do ano. “Faz muito frio em uma região, e muito calor em outra, isso faz parte do equilíbrio do planeta”.
No entanto, reconhece que a atual situação de calor na América do Norte é perigosa. “Os Estados Unidos e Canadá têm previsões acima dos 44°C, que é uma temperatura que de fato pode ser fatal para algumas pessoas que têm uma imunidade mais baixa, por exemplo uma pessoa idosa. Estas temperaturas vêm de uma massa de ar muito quente, chega a ser gritante”, afirma.
Segundo ele, as localizações geográfica destes países proporcionam episódios mais extremos, o que é um pouco diferente em relação ao Brasil, mas não extingue o alerta.
“Aquela região é uma área muito continentalizada, então existem sistemas de frio muito intenso no inverno e calor muito forte no verão, por isso é mais comum esses episódios de ondas de calor mais extrapolantes nessas regiões. É uma área com abrangência maior de extremos meteorológicos. Aqui no Brasil, até pode acontecer isso sim, eu mesmo já registrei temperaturas maiores de 40°C em Florianópolis, por exemplo, então não pode ser descartado em algum momento vir a acontecer, porém nas devidas épocas e devidas proporções”, explica.
Desequilíbrios climáticos colaboram para eventos extremos 356x2t
Nos últimos tempos, termômetros catarinenses já registraram temperaturas próximas dos 40°C no verão e um frio muito intenso com até neve durante o inverno.
Vários fenômenos extremos como ciclone-bomba, deslizamentos, queimadas, tornados e enchentes também foram vistos no Estado.
Estes extremos têm se tornado cada vez mais frequentes em Santa Catarina, como avalia a professora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Marina Hirota, que é especializada em meteorologia e climatologia.
“O que está acontecendo são forçantes, diferentes formas de você perturbar um sistema que demorou milhões e milhões de anos para entrar nesse equilíbrio. Então imagine uma perturbação extra, que não fazia parte do sistema e agora está fazendo, que somos nós, em uma grande quantidade no planeta. Isso causa uma perturbação que, depois que acontece, demora um tempo para estabilizar de novo”, explica Hirota.

A pesquisadora, professora da UFSC e integrante do IPCC ( Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), Regina Rodrigues, também afirma que estudos indicam alterações significativas por conta do aquecimento da Terra.
“Quando você coloca os gases do efeito estufa [em modelos de previsão], aumenta muitas vezes a probabilidade. Um evento que iria ocorrer no sistema natural uma vez no século, vai acontecer várias vezes por causa do aquecimento”.
De acordo com Regina Rodrigues, os territórios em Santa Catarina caminham para uma alteração que, na prática, já começa a diminuir os períodos de chuva e aumenta as ondas de calor.
“É um desequilíbrio, isso significa que a gente está em uma fase que chamamos tecnicamente de transiente. É como se o sistema estivesse perturbado e buscando esse novo equilíbrio e se ajustando a ele. E nesse momento, é que esses eventos extremos vão acontecer com muito mais frequência e intensidade, e a gente vai perceber isso, com a raça humana vivendo em muito mais lugares do planeta do que antes”, explica Marina Hirota.