O brasileiro já tem fama de ser criativo e empreendedor e o título nas mãos dos criciumenses comprova essa crença. A cidade de Criciúma, no Sul catarinense, que antes era conhecida pela produção de carvão, agora se destaca na inovação, tecnologia e criatividade com startups que surgem a todo momento.

As soluções são diversas: há desde serviço de transcrição de áudio até plataforma que conecta pacientes e médicos.
Jeisson Simionato, morador do município, está à frente de um desses negócios. Médico cardiologista há 10 anos, em 2019 resolveu se dedicar a uma solução inovadora para a área em que atua e desde então vem trabalhando nesse projeto, em parceria com outros colegas.
“Sempre gostei muito de ler sobre inteligência artificial, big data, e via que toda essa tecnologia existia na saúde, mas em grandes empresas, dentro de aparelhos, em exames de diagnóstico. No dia a dia do médico, dentro do consultório, essa tecnologia não chega. E poderia ajudar muito no atendimento”, conta.
Ele relata alguns dos problemas vivenciados na profissão pela falta de soluções. “Quando atendemos, por exemplo, uma pessoa pela primeira vez, por mais técnicas que tenhamos, é difícil dar repostas concretas, porque faltam informações. Às vezes, na hora, ela esquece os remédios que toma ou não consegue relatar adequadamente os diagnósticos que já recebeu”, ressalta.
“Muitas vezes, esse paciente também ao sair do atendimento não compreende o que foi falado durante a consulta, por mais que o médico tenha explicado. Ou ele se esquece quando chega em casa, ou porque durante o atendimento ficou preso num ponto específico por preocupação”, complementa.
O insight 5x5x5o
A partir dessas dificuldades, então, surge a Darwin Saúde Inteligente, uma plataforma que reúne informações médicas sobre pacientes, como exames, diagnósticos de doenças, histórico de peso e de pressão ao longo da vida, entre outras funções. Esses dados podem ser ados e atualizados a qualquer momento pelo paciente e, se autorizado, pelo seu médico também.
“Cada paciente-usuário tem um perfil dentro da Darwin, que ele pode alimentar com informações por meio do aplicativo. Ali, ele pode inserir desde dados pessoais, exames laboratoriais até quais medicamentos consome. Dessa forma, é possível montar um histórico completo de sua saúde”, explica Simionato.
O sistema ainda está em fase de validação, mas até o final do ano deve ser lançado. “Estamos testando em uma clínica com muitos atendimentos, para ver a questão de segurança de dados e de estabilidade do programa, mas os s já são muito positivos”, comenta o médico.
Revolução no mercado 291h71
A proposta da startup Darwin é ousada. “Nós queremos diminuir a morbidade e mortalidade de pacientes, aumentando a eficiência do atendimento médico e estimulando o autocuidado”, destaca o empreendedor.
De acordo com ele, os médicos terão na palma da mão, por meio da plataforma, os históricos, gráficos e relatórios sobre a saúde do paciente que, por sua vez, receberá conteúdos e dicas personalizadas para as suas necessidades.
“Com o ar do tempo, a Darwin conhecendo que o seu Paulo, de 55 anos, é hipertenso e diabético, através da sua inteligência artificial, começa a monitorar os riscos dele e a mostrar para o médico, lá na hora do atendimento, que a função do rim desse paciente está piorando ou ele está desenvolvendo tal doença”, explica.
A ideia, além de dar esse e ao médico, é proporcionar conteúdo de valor ao paciente. “Por conhecer a saúde dele, podemos começar a oferecer informações direcionadas. Por exemplo, como está a sua pressão? Faz dois meses que você não a registra no sistema. Sabe medi-la adequadamente? A nossa proposta também é de educar”, assinala.
Jornalista cria plataforma de transcrição de áudio 1a3y41
Projetos como o de Jeisson não faltam em Criciúma. “Temos diversas startups na cidade, desde aquelas que estão na fase da validação até as que já conquistaram o mercado e atendem clientes dentro e fora do país”, comenta o diretor de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Criciúma, Aldinei Potelecki.
Dentre elas está a da jornalista Kamili Guimarães. Criada ainda durante a faculdade, a startup, que leva o nome de Klipping, oferece serviço de transcrição de áudio para repórteres. Apesar de recente, o projeto já conquistou o mercado criciumense, além do apoio de um sócio-investidor e um prêmio na área de inovação.

Agora, o foco dela e da equipe é dar voos maiores com a Klipping. “Toda semana estamos fazendo melhorias e investindo em mais tecnologia na plataforma, porque o nosso próximo o é fazer o escalonamento de mercado. Enquanto isso, também estamos fazendo apresentações da plataforma para fora de Criciúma”, comenta.
Projeto de faculdade que virou um negócio para a vida 6n642n
A Klipping surgiu durante o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Jornalismo de Kamili, em 2020. Ela decidiu abrir mão do modelo tradicional e apostar em um projeto de empreendedorismo, em conjunto com o então acadêmico de Engenharia de Computação, na época, Marcelo Loch.
Juntos, eles desenvolveram a ideia que rendeu, no ano seguinte, o título estadual de Projeto Acadêmico Inovador no Prêmio Inovação Catarinense da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina), além de R$ 15 mil.
De início, o projeto era voltado para facilitar o processo de clipagem realizado pelos assessores de imprensa, porém, com o tempo, a ideia mudou, assim como o nome que antes era E-Klipping.
“Esse foi o momento mais desafiador, porque eu tive que tomar a decisão que a Klipping não era mais aquilo que eu tinha idealizado, que não era mais uma ferramenta que seria vendida para as assessorias de comunicação. Foi preciso muita maturidade para entender que o meu negócio não era mais aquele”, relembra.
Hoje, com quase um ano de mercado, a startup criciumense se posiciona como uma empresa de tecnologia de transcrição de áudios, voltada para jornalistas que trabalham em veículos de comunicação.
Polo de startups 1f1c4c
Criciúma, no Sul catarinense, quer que histórias como a de Jeisson e Kamili se tornem cada vez mais frequentes. “Isso é muito importante para o município, porque, além de gerar emprego, renda e oportunidades, projeta Criciúma como um promissor polo de inovação no Estado”, pontua Potelecki.
Segundo ele, para que isso aconteça, diversas iniciativas estão sendo desenvolvidas na cidade. Entre elas, o programa Inova Criciúma, que, por meio do Fundo Municipal de Inovação, investe R$ 250 mil em dez startups do município.
A edição deste ano contou com 30 projetos inscritos. Desses, 13 foram considerados aptos e dez devem ser escolhidos, de acordo com critérios estabelecidos no edital. O resultado será divulgado na próxima segunda-feira (29).
Outra iniciativa em desenvolvimento na cidade é a Lei de Inovação do Município (nº 7.375), aprovada em 2018, mas que no momento a por atualizações, por conta do Marco Legal das Startups e a nova Lei de Licitações do Governo Federal.
“Ela vai trazer muitas oportunidades para o município permitindo, por exemplo, que façamos a chamada Encomenda Tecnológica e a implantação do SandBox Regulatório“, informa o diretor.
Criciúma este ano também iniciou o projeto Cidade Inovadora, em parceria com o Sebrae, para realizar o diagnóstico de todo o ecossistema de inovação da cidade.
“Identificamos os principais atores e agora estamos estruturando um pacto pela inovação do município, envolvendo todos esses atores que compõem a chamada tríplice hélice: governo, academia e iniciativa privada”, explica Potelecki.
Para o futuro, projetos ambiciosos pela frente. “Já definimos no próprio plano diretor a possibilidade de criação de áreas para a implantação de parques tecnológicos e de inovação em Criciúma”, revela.
Impulsionar Santa Catarina 463v39
As iniciativas, além de estimular o desenvolvimento de Criciúma, elevam a atuação do Estado, que já se destaca no setor.
Segundo dados da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), o faturamento das empresas com base tecnológica em Santa Catarina é de R$ 17,7 bilhões. Isso representa 7% do faturamento total do setor de tecnologia no Brasil.
A participação do segmento no PIB estadual também é superior à média brasileira. Uma parte dessa contribuição vem do Sul catarinense, onde, em 2019, o faturamento foi de R$ 720 milhões, representando 4% do valor total arrecado no Estado.