Talvez muita gente nem saiba, mas as tecnologias nucleares estão muito presentes no nosso dia a dia. Ganhando cada vez mais espaço, suas aplicações são variadas. Na medicina, por exemplo, a radioatividade é usada no tratamento de câncer e no diagnóstico de doenças a partir do raio-x.

Harlley Hauradou, doutorando em Energia Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – explica que a medicina nuclear é uma fonte utilizada para gerar diagnósticos de doenças e tratamentos contra o câncer e hipotireoidismo.
“A radioterapia utiliza de elétrons para gerar o raio-x , que acabam ajudando no tratamento de pessoas, além da própria radiografia normal”, explica Hauradou.
Na agricultura, muitos estudos de solos, plantas e animais são feitos com tecnologias nucleares. Além disso, diversos alimentos que consumimos no nosso dia a dia podem ter sido transportados utilizando métodos de conservação usando a radiação.
“No transporte de alimentos em longas distâncias, há o risco dos alimentos apodrecerem. Uma das formas de mitigar esse risco é fazê-los ar por um processo de irradiação, que vai matar muitas bactérias e pragas que poderiam contaminar esses alimentos e tornar a carga inútil”, destaca Hauradou.

Hoje, as tecnologias nucleares estão até mesmo na indústria. Materiais radioativos estão presentes para ajudar a medir espessuras, por exemplo, ou então para garantir a qualidade de produtos, como os pneus.
“Eles am os pneus por um processo de verificação com irradiação e nisso é possível averiguar se está tudo correto, num controle de qualidade rigoroso dentro da indústria”, conta Hauradou.

Tecnologia nuclear na geração de eletricidade 2m5g5x
É na geração de energia que ouvimos falar mais sobre tecnologia nuclear. No Brasil, a participação dentro da matriz elétrica ainda é muito pequena – menos de 1% -, apesar de o país configurar entre os maiores detentores de reserva de urânio do mundo. Hoje, são duas usinas nucleares em funcionamento e uma terceira em construção, todas no Rio de Janeiro.
Os Estados Unidos são o maior produtor de energia nuclear, mas é a França que tem o maior percentual de eletricidade gerada por energia nuclear. O país opera hoje com 56 reatores, produzindo mais de 70% de sua eletricidade por meio da energia nuclear, que é considerada uma das fontes de energia com menor produção de dióxido de carbono, gás causador do efeito estufa.

“Primeiro, obviamente, há a questão do benefício ambiental, porque é uma energia de baixo carbono. Do ponto de vista econômico, há enormes benefícios. Na França, por exemplo, o preço da eletricidade é um dos mais baixos da Europa devido à energia nuclear”, explica Marie-Àgnes, diretora de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da EDF, maior companhia de energia da França.
Segundo ela, esse baixo preço também é uma grande vantagem para as empresas, sendo um dos principais fatores que atraem as indústrias nucleares para a França.
Além disso, a instalação dessas indústrias gera benefícios sociais. ” São mais de três mil empresas, cerca de 50 bilhões em receita e 200 mil empregos para os ses, muitos deles empregos qualificados”, afirma a diretora.
Tecnologias nucleares e a transição energética 3c5w34
Marie-Àgnes destaca o papel que a energia nuclear tem no processo de transição energética dentro da gestão de resíduos. Na França, existem instalações para reciclar urânio e plutônio, que buscam tornar essa gestão mais eficaz.
“Se temos nas energias renováveis uma das melhores soluções na luta contra as mudanças climáticas, também temos na energia nuclear uma possibilidade de descarbonizar a economia”, diz.
Na França, assim como em outros países do mundo, a aposta tem sido em novas tecnologias de reatores nucleares. Diferente das grandes estruturas das usinas nucleares, os SMRs (pequenos reatores nucleares) são compactos, podendo ser instalados e transportados com mais facilidade.

“Há um novo mercado para esses pequenos reatores, que além de fornecer eletricidade, vem sendo usados na produção de calor para as indústrias ou casas. Isso tem levado cada vez mais países a requisitarem o seu uso”, conclui Marie-Àgnes.