Seminário sobre consciência negra termina com ataques racistas em Araquari 5m5k29

Professores realizavam seminário online quando um grupo de pessoas invadiu a transmissão e ou a xingar os participantes; polícia investigará o caso

O que era para ser uma reunião para discutir sobre as relações étnico-raciais terminou com ataques racistas a um grupo de professores do Norte de Santa Catarina.

O caso ocorreu na última terça-feira (10) durante um seminário online promovido pelo NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) do IFC (Instituto Federal Catarinense) Campus Araquari.

Professora foi uma das atacadas no seminário Professora Alessandra era uma das participantes que sofreram ataques durante a live – Foto: Reprodução/ND

Uma das participantes foi a professora Alessandra Bernardino. Por ser militante da área e atuar no Conselho de Igualdade Racial de ville, ela foi uma das convidadas a mediar o evento, que marcava a abertura do mês da consciência negra e contava com a presença de alunos do ensino médio e do curso de licenciatura da instituição.

“Já fazia 40 minutos dessa mesa quando entrou um grupo de pessoas dizendo boa noite e atrapalhando a apresentação. O coordenador pediu para que elas respeitassem as convidadas. Foi nesse momento que começaram os xingamentos”, relembra.

Além de xingamentos, os “invasores” também teriam gritado ofensas como “macaco” aos participantes. Assustada,  Alessandra saiu imediatamente da live, mas relata que colegas informaram que o grupo também teria divulgado vídeos pornográficos durante o ataque a transmissão.

A cena é parecida com o que ocorreu com o professor Jonathan Prateat, em agosto deste ano.  Ele também foi alvo de ataques racistas durante uma transmissão online promovida pela Acij em ville.

Polícia irá investigar o caso 1e2j2m

A Polícia Civil de Araquari já foi informada sobre a situação e um inquérito será aberto. Ainda não se sabe a origem e os responsáveis pelas ofensas. As imagens do seminário não foram divulgadas.

Para Alessandra, tudo que ela busca é justiça e que as medidas cabíveis sejam tomadas para refrear este tipo de ataque.

“Nós já procuramos a justiça para que esse caso seja resolvido e nenhuma outra pessoa e por essa situação. Enquanto mulher negra, militante, servidora pública e remanescente quilombola, eu exijo o mínimo de respeito. Como eu sempre digo em meus textos: racistas não arão”, pontua.

IFC e Compir emitem notas de repúdio e3r1o

Em nota, o IFC afirmou que repudia “veementemente qualquer manifestação de cunho discriminatório”. Além disso, a instituição afirmou que está reunindo todas as informações e documentos necessários para que os órgãos competentes possam apurar o ocorrido.

O COMPIR (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial) também emitiu nota sobre o caso. No texto, eles relembraram a situação com o professor Jonathan Prateat e afirmou que “é inissível que esses discursos e atos de ódio continuem ocorrendo”.

Veja as notas na íntegra: 5f1b5h

  • IFC

“Na noite de 10/11/2020, durante evento da programação do Mês da Consciência Negra promovida pelo NEABI do Campus Araquari do Instituto Federal Catarinense, pessoas que se infiltraram entre os participantes da sala virtual iniciaram uma sequência de ataques com textos, falas, sons e imagens obscenos, ofensivos e racistas. 

A gestão do Campus Araquari repudia veementemente qualquer manifestação de cunho discriminatório e reitera o compromisso institucional com a justiça social, a equidade, a cidadania, o respeito e a ética.

No momento estamos reunindo informações e documentos para solicitarmos aos órgãos competentes a apuração e responsabilização dos envolvidos.

Reforçamos nosso apoio ao trabalho dos núcleos inclusivos da instituição e prestamos especial solidariedade ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – NEABI, alvo destes ataques, e a todas as pessoas que, infelizmente, presenciam ou sofrem ataques desse tipo na nossa sociedade. 

Desejamos muita força e coragem aos que mobilizam as lutas por igualdade de direitos e nos posicionamos ao lado do NEABI-Araquari e contrários a qualquer tipo de desrespeito e discriminação.”

  • NEABI-Araquari 

“Na noite de 10/11/2020, durante a mesa redonda virtual que marcava o início da programação do Mês da Consciência Negra promovida pelo NEABI do Campus Araquari do Instituto Federal Catarinense, pessoas que se infiltraram entre os participantes da sala virtual iniciaram uma sequência de ataques com textos, falas, sons e imagens obscenos, ofensivos e racistas, para perplexidade, tristeza e indignação das mais de sessenta pessoas que acompanhavam o evento no momento. O evento, planejado e construído com muito carinho e dedicação pelo NEABI, visa justamente trazer luz aos problemas enfrentados pelas pessoas afrodescendentes e indígenas em nossa sociedade e demonstrar a necessidade de discussões sobre esse tema. Repudiamos esses atos criminosos e adiantamos: Não irão nos amedrontar! Não irão nos calar! Resistiremos! 

Nossa instituição é pública e o seu debate deve ser público e amplo, já que está mais do que provado, inclusive pelos ataques ocorridos, que o racismo existe, a violência nos afeta social e pessoalmente e está, sim, próxima de todos nós!

Nós, do NEABI, agradecemos as inúmeras mensagens de solidariedade após o ocorrido durante a transmissão online da atividade programada e reforçamos a todos o convite e a responsabilidade de juntarem-se a nós na luta antirracista incansável, construindo conhecimento, demonstrando o que é o respeito, exercendo a solidariedade, vivendo a empatia, espalhando o amor. O evento, violentamente interrompido na noite de ontem, conta ainda com outras atividades previstas durante este mês. 

O ataque de ódio ao nosso grupo e à nossa escola serviu para que a instituição e uma parte da sociedade possam “ver com seus próprios olhos” e “sentir na pele” o que é ar por situações de racismo, violência, constrangimento e se conscientizar, de uma vez por todas, que a discussão sobre as relações étnico-raciais na Educação, os Direitos Humanos, as questões de gênero, a diversidade sexual e os valores democráticos devem ganhar cada vez mais espaço para discussão e conhecimento e fazer parte daquilo que se aprende na escola e na academia. É preciso ter coragem para enfrentar os retrocessos, a ameaça à liberdade, a violência contra o outro e dar espaço ao respeito mútuo que se deve ter para viver em sociedade. Por tudo isso, demandamos apuração dos ataques ocorridos no nosso evento, colocando-nos à disposição das autoridades competentes para contribuir na investigação para punição dos responsáveis.

Esse ataque não irá diminuir nossos esforços na luta antirracista e na busca pelo reconhecimento e pelo respeito à população afro-descendente, aos povos originários e à diversidade que compõem a sociedade brasileira. Fazemos coro com a fala da escritora negra, favelada, Carolina Maria de Jesus, autora do famoso livro Quarto de despejo: ‘Ah, comigo o mundo vai modificar-se. Não gosto do mundo como ele é.'”

  • Compir

“O COMPIR – Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, vem a público REPUDIAR VEEMENTEMENTE O ATO RACISTA E HOMOFÓBICO sofrido pelos professores e alunos do NEABI no dia 10 de novembro de 2020, em aplicativo de reunião não presencial via internet.
O NEABI foi covardemente atacado por indivíduos que, após entrarem na plataforma onde ocorria a videoconferência de modo aberto, começaram a ofender o NÚCLEO de forma racista e homofobica, sendo o ataque cibernético feito através de palavras de cunho pejorativo, textos e vídeos pornográficos e de cunho Neo-Nazistas.
Desde o início da pandemia, situações como esta vem se repetindo em videoconferências e outras formas de encontro virtual como o ocorrido ao Professor Jonathan Prateat em evento em agosto último.
É inissível que esses discursos e atos de ódio continuem ocorrendo e, desta forma, o COMPIR, através de seus conselheiros, se solidariza com o NEABI e o IFC – Campus Araquari e presta total apoio para que medidas cabíveis sejam tomadas.

Respeitosamente,

COMPIR
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial
ville – Santa Catarina”

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