O novo Anuário do FBSP (Fórum Brasileiro da Segurança Pública) divulgado nesta quinta-feira (20) revela um cenário obscuro: o Brasil nunca registrou tantos estupros como em 2022. Foram 74.930 casos, envolvendo mulheres, meninas, homens e meninos.
Santa Catarina está entre os estados que registraram aumento de vítimas vulneráveis: foram 3058 vítimas, 350 casos a mais que o ano anterior. Nesta categoria se enquadram menores de 14 anos, pessoas enfermidade, doença mental ou sem discernimento. O aumento de 11,2% é o 12º maior entre as Unidades da Federação.

Foram 3.058 vítimas vulneráveis frente a 2.708 registradas no anterior em Santa Catarina. Já entre os casos envolvendo mulheres com mais de 14 anos e não vulneráveis foram documentadas 1.483 vítimas, uma a menos que 2021, de acordo com o Anuário.
O FBSP monitora os casos desde 2011, ano em que foram contabilizados 43.869 registros de abuso sexual no Brasil. Em 2022, as 74.930 ocorrências representam, em média, mais de oito casos por hora. O estudo detectou alta em quase todos os anos entre 2011 a 2022 – apenas os anos de 2015 e 2020 registraram baixas.
Os dados devem ser ainda maiores envolvendo a população vulnerável. O FBSP cita estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que mostra que somente 8,5% dos estupros no Brasil são reportados às polícias e 4,2% pelos sistemas de informação da saúde. O número estimado de casos é da ordem de 822 mil – o equivalente a 93 por hora, segundo o Portal R7.
Fechamento de escolas e pandemia 45566j
O estudo sugere que o fechamento das escolas em função das medidas de isolamento social adotada na pandemia de Covid-19 pode ter ” ampliado a vulnerabilidade de crianças e, inclusive, que parte das notificações decorre de abusos iniciados e/ou ocorridos durante o lockdown”.
Boa parte das denúncias costuma ser realizada por professores. “Os profissionais que mais reportam episódios de maus-tratos e abusos contra crianças nos EUA são aqueles vinculados à educação (21%)”, ilustram as estudiosas.
“Embora não tenhamos pesquisas sobre o tema no Brasil, é comum ouvir relatos de profissionais de educação, ou mesmo de policiais, que indicam que foi o professor ou a professora que notou diferenças no comportamento da criança e primeiro soube do abuso”.
Há mais casos ou mais registros? 5w4h3y
As pesquisadoras Samira Bueno, Marina Bohnenberger, Juliana Martins e Isabela Sobral também debatem no artigo incorporado ao anuário as razões do aumento: seriam mais casos no Brasil ou aumento das denúncias?
“Podemos ter como hipótese que estamos diante de um aumento das notificações já que as vítimas estão mais informadas e empoderadas. É inegável o efeito de campanhas como a #PrimeiroAssédio, promovida pela organização Think Olga, que viralizou nas redes sociais em 2015 e resultou em mais de 82 mil compartilhamentos em apenas cinco dias”, destacam.
“Este argumento precisa ser relativizado quando verificamos o perfil das vítimas. No Brasil, 6 em cada 10 vítimas são vulneráveis com idades entre 0 e 13 anos, que são vítimas de familiares e outros conhecidos. Ou seja, ainda que estas crianças e adolescentes estejam mais informadas sobre o que é o abuso, é difícil crer na hipótese do empoderamento como única explicação para o fenômeno”, destacam as estudiosas.
“Estudos recentes sobre abuso sexual contra crianças no período da pandemia têm sugerido que o fechamento das escolas em função das medidas de isolamento social pode ter ampliado a vulnerabilidade de crianças e, inclusive, que parte das notificações decorre de abusos iniciados e/ou ocorridos durante o lockdown, mas que só vieram à tona quando as crianças voltaram a frequentar as escolas”, sugerem.