Do dinheiro rápido ao apagão: quem compra e quanto se paga pelos fios furtados em Florianópolis 466x6

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Operação integrada busca responsabilizar os compradores dos cabos de cobre, que ficam responsáveis por revender os materiais para empresas recicladoras
Operação Fio Desencapado realizou apreensão de fios furtados no Monte Cristo – Foto: Daniela Ceccon/Arquivo/NDOperação Fio Desencapado realizou apreensão de fios furtados no Monte Cristo – Foto: Daniela Ceccon/Arquivo/ND

O furto de fios é uma prática comum e que provoca inúmeros transtornos, desde as pequenas cidades até as grandes capitais brasileiras. Em Florianópolis não seria diferente.

Em um dos casos mais recente, a Ponte Hercílio Luz — um dos cartões postais da capital catarinense — ficou parcialmente às escuras em decorrência da subtração dos cabos de energia.

Regularmente, a Guarda Municipal de Florianópolis realiza operações, em conjunto com empresas de telefonia, concessionárias de energia elétrica e demais forças de segurança para coibir esse tipo de crime. A estratégia mais recente mira nos receptadores dos cabos furtados, que costumam ser estabelecimentos irregulares que atuam como ferros-velhos.

O furto de fios tem como finalidade a revenda do cobre, matéria-prima que pode ser facilmente reciclada e vendida para terceiros. O ND Mais apurou, junto às forças de segurança, que o quilo desse material pode chegar a R$ 30 no mercado paralelo.

Ponte Hercílio Luz, parcialmente apagada após furto de fiosIluminação cênica da ponte Hercílio Luz foi prejudicada por roubo de fios em maio de 2025- Foto: Thainá Klock/Divulgação/ND

Ferragens e lojas especializadas vendem esses cabos em rolos a partir de 100 metros, com preços que iniciam em R$ 100 e podem chegar a quase R$ 300, a depender da espessura e condução compatível.

Conforme apurado pelo ND Mais, o furto de fios é uma alternativa para obtenção de dinheiro rápido e não tem necessariamente relação com a atuação de organizações criminosas. A maioria dos responsáveis por esse tipo de crime, segundo a secretaria de Segurança Pública de Florianópolis, é composta por pessoas em situação de rua e em dependência química.

Guarda Municipal mira receptação para coibir furto de fios 5m3o4l

A união entre os setores de inteligência da Guarda Municipal, empresas de telefonia e concessionárias de energia elétrica dá origem, periodicamente, à operação Fio Desencapado. A força-tarefa mapeia possíveis espaços de receptação do produto de furtos e roubos, vistoria os estabelecimentos e aplica sanções aos responsáveis pelo local.

“Não adianta eu pegar quem está roubando e não fechar quem está recebendo, e esse tipo de material, geralmente, quem recebe são os ferros-velhos. Então, a gente vai ao comércio que recebe, que comercializa esse material para saber se lá tem produto sem procedência”, explica a Secretária Municipal de Segurança Pública e vice-prefeita da capital, Maryanne Mattos, à reportagem do ND Mais.

Na edição mais recente da operação Fio Desencapado, desencadeada na quinta-feira (22), a Guarda Municipal apreendeu cerca de 80 quilos de fios, reconhecidamente pertencentes à rede elétrica pública da cidade. Além disso, cinco pessoas foram encontradas em situação degradante de trabalho, semelhante à escravidão. Um homem foi conduzido à delegacia.

Trabalhadores em condições degradantes foram localizados em ferro-velho na capital catarinense - Allan Carvalho/PMF/ND
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Trabalhadores em condições degradantes foram localizados em ferro-velho na capital catarinense - Allan Carvalho/PMF/ND
Operação integrada em Florianópolis mira estabelecimentos apontados como locais de receptação de produtos oriundos do furto de fios elétricos - Allan Carvalho/PMF/ND
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Operação integrada em Florianópolis mira estabelecimentos apontados como locais de receptação de produtos oriundos do furto de fios elétricos - Allan Carvalho/PMF/ND
Dentre os materiais apreendidos, estão 80 quilos de fios reconhecidos como parte da rede elétrica pública do município - Allan Carvalho/PMF/ND
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Dentre os materiais apreendidos, estão 80 quilos de fios reconhecidos como parte da rede elétrica pública do município - Allan Carvalho/PMF/ND

Na semana anterior, a ofensiva apreendeu mais de três toneladas de fios de cobre, sem procedência comprovada, em ferros-velhos na região norte de Florianópolis. Além disso, armas sem registro e drogas foram encontradas nos estabelecimentos. Quatro pessoas foram presas na ocasião.

“A gente chega nos locais e tem esse produto sem nota fiscal, sem procedência e picotado. O proprietário tem que informar de onde comprou, qual a procedência e se quem está fornecendo tem alvará, ou se existe, né? Porque quando não há, ele [o proprietário] vai ter que responder por isso”, destaca a secretária.

Características de cabos auxiliam na identificação 6z3v4f

Cabos utilizados por concessionárias como a Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A) e COSIP (Contribuição para Custeio dos Serviços de Iluminação Pública) não são vendidos em lojas de departamento, assim como aqueles que são instalados por empresas de telefonia que operam em todo o país.

“Quando eles [os criminosos] roubam esses produtos, eles picotam para ser fácil de carregar”, explica a secretária Maryanne Mattos. Os fios utilizados por essas empresas possuem características próprias, como enlaces, numerações e amarrações internas, o que auxilia na identificação de itens que sejam produtos de furto de fios.

Operação Fio Desencapado Operação Fio Desencapado mira na receptação de fios furtados em Florianópolis – Foto: Reprodução/GMF/ND

Em muitos dos casos, no entanto, os fios chegam como uma grande massaroca aos ferros-velhos, o que facilita a descoberta da origem dos materiais. O processo de corte pode afetar as características da estrutura e dificultar, ou até inviabilizar, essa identificação. Por esse motivo, segundo a Polícia Civil, é importante agir na receptação desses materiais.

“As empresas que reciclam o cobre fazem a compra desse produto, direto do receptador, e lucram com a revenda dele”, pontua o diretor do Departamento de Investigação Criminal da Grande Florianópolis, delegado Pedro Henrique Mendes, que colabora com a operação, liderada pela Guarda Municipal da capital.

“O nosso papel nessa força-tarefa é que as pessoas sejam presas pelo crime de receptação qualificada. A Polícia Civil estando junto garante o andamento da ocorrência e ajuda a direcionar melhor as circunstâncias da prisão também”, complementa o delegado Mendes, sobre a responsabilização em casos de furto de fios.

Secretaria de Segurança quer ampliar monitoramento 5e463i

Em entrevista ao ND Mais, a secretária de Segurança de Florianópolis informou que a pasta estuda ampliar o videomonitoramento na cidade, com objetivo de coibir a ação dos criminosos. O objetivo é possibilitar a atuação dos agentes de segurança seja simultânea ao cometimento do furto de fios e outros crimes.

“Queremos contar com apoio de inteligência para que a gente possa, ao perceber movimentações estranhas, em horários que não seriam normais aquele tipo de movimentação, gerar um alerta e agir no momento em que houver o delito”, explicou Maryanne Mattos.

Além de afetar a iluminação pública e telefonia, o furto de fios, muitas vezes, ocasiona falta de energia elétrica em hospitais, supermercados, semáforos e residências, provocando graves prejuízos à sociedade.

Fios apreendidos em ação da PMSCFurto de fios mira na revenda ilegal do cobre, material de fácil reciclagem e reaproveitamento – Foto: Reprodução/PMSC/ND

A inteligência da Guarda Municipal, segundo a secretária de Segurança da capital catarinense, mantém contato direto com as autoridades de municípios da Grande Florianópolis, como São José e Palhoça, para que não haja intercâmbio de materiais furtados entre as cidades. Segundo Maryanne Mattos, o apoio do governo do Estado, a partir da Polícia Civil, Celesc e Polícia Militar, vem contribuindo também neste sentido.