
O furto de fios é uma prática comum e que provoca inúmeros transtornos, desde as pequenas cidades até as grandes capitais brasileiras. Em Florianópolis não seria diferente.
Em um dos casos mais recente, a Ponte Hercílio Luz — um dos cartões postais da capital catarinense — ficou parcialmente às escuras em decorrência da subtração dos cabos de energia.
Regularmente, a Guarda Municipal de Florianópolis realiza operações, em conjunto com empresas de telefonia, concessionárias de energia elétrica e demais forças de segurança para coibir esse tipo de crime. A estratégia mais recente mira nos receptadores dos cabos furtados, que costumam ser estabelecimentos irregulares que atuam como ferros-velhos.
O furto de fios tem como finalidade a revenda do cobre, matéria-prima que pode ser facilmente reciclada e vendida para terceiros. O ND Mais apurou, junto às forças de segurança, que o quilo desse material pode chegar a R$ 30 no mercado paralelo.

Ferragens e lojas especializadas vendem esses cabos em rolos a partir de 100 metros, com preços que iniciam em R$ 100 e podem chegar a quase R$ 300, a depender da espessura e condução compatível.
Conforme apurado pelo ND Mais, o furto de fios é uma alternativa para obtenção de dinheiro rápido e não tem necessariamente relação com a atuação de organizações criminosas. A maioria dos responsáveis por esse tipo de crime, segundo a secretaria de Segurança Pública de Florianópolis, é composta por pessoas em situação de rua e em dependência química.
Guarda Municipal mira receptação para coibir furto de fios 5m3o4l
A união entre os setores de inteligência da Guarda Municipal, empresas de telefonia e concessionárias de energia elétrica dá origem, periodicamente, à operação Fio Desencapado. A força-tarefa mapeia possíveis espaços de receptação do produto de furtos e roubos, vistoria os estabelecimentos e aplica sanções aos responsáveis pelo local.
“Não adianta eu pegar quem está roubando e não fechar quem está recebendo, e esse tipo de material, geralmente, quem recebe são os ferros-velhos. Então, a gente vai ao comércio que recebe, que comercializa esse material para saber se lá tem produto sem procedência”, explica a Secretária Municipal de Segurança Pública e vice-prefeita da capital, Maryanne Mattos, à reportagem do ND Mais.
Na edição mais recente da operação Fio Desencapado, desencadeada na quinta-feira (22), a Guarda Municipal apreendeu cerca de 80 quilos de fios, reconhecidamente pertencentes à rede elétrica pública da cidade. Além disso, cinco pessoas foram encontradas em situação degradante de trabalho, semelhante à escravidão. Um homem foi conduzido à delegacia.
Na semana anterior, a ofensiva apreendeu mais de três toneladas de fios de cobre, sem procedência comprovada, em ferros-velhos na região norte de Florianópolis. Além disso, armas sem registro e drogas foram encontradas nos estabelecimentos. Quatro pessoas foram presas na ocasião.
“A gente chega nos locais e tem esse produto sem nota fiscal, sem procedência e picotado. O proprietário tem que informar de onde comprou, qual a procedência e se quem está fornecendo tem alvará, ou se existe, né? Porque quando não há, ele [o proprietário] vai ter que responder por isso”, destaca a secretária.
Características de cabos auxiliam na identificação 6z3v4f
Cabos utilizados por concessionárias como a Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A) e COSIP (Contribuição para Custeio dos Serviços de Iluminação Pública) não são vendidos em lojas de departamento, assim como aqueles que são instalados por empresas de telefonia que operam em todo o país.
“Quando eles [os criminosos] roubam esses produtos, eles picotam para ser fácil de carregar”, explica a secretária Maryanne Mattos. Os fios utilizados por essas empresas possuem características próprias, como enlaces, numerações e amarrações internas, o que auxilia na identificação de itens que sejam produtos de furto de fios.

Em muitos dos casos, no entanto, os fios chegam como uma grande massaroca aos ferros-velhos, o que facilita a descoberta da origem dos materiais. O processo de corte pode afetar as características da estrutura e dificultar, ou até inviabilizar, essa identificação. Por esse motivo, segundo a Polícia Civil, é importante agir na receptação desses materiais.
“As empresas que reciclam o cobre fazem a compra desse produto, direto do receptador, e lucram com a revenda dele”, pontua o diretor do Departamento de Investigação Criminal da Grande Florianópolis, delegado Pedro Henrique Mendes, que colabora com a operação, liderada pela Guarda Municipal da capital.
“O nosso papel nessa força-tarefa é que as pessoas sejam presas pelo crime de receptação qualificada. A Polícia Civil estando junto garante o andamento da ocorrência e ajuda a direcionar melhor as circunstâncias da prisão também”, complementa o delegado Mendes, sobre a responsabilização em casos de furto de fios.
Secretaria de Segurança quer ampliar monitoramento 5e463i
Em entrevista ao ND Mais, a secretária de Segurança de Florianópolis informou que a pasta estuda ampliar o videomonitoramento na cidade, com objetivo de coibir a ação dos criminosos. O objetivo é possibilitar a atuação dos agentes de segurança seja simultânea ao cometimento do furto de fios e outros crimes.
“Queremos contar com apoio de inteligência para que a gente possa, ao perceber movimentações estranhas, em horários que não seriam normais aquele tipo de movimentação, gerar um alerta e agir no momento em que houver o delito”, explicou Maryanne Mattos.
Além de afetar a iluminação pública e telefonia, o furto de fios, muitas vezes, ocasiona falta de energia elétrica em hospitais, supermercados, semáforos e residências, provocando graves prejuízos à sociedade.

A inteligência da Guarda Municipal, segundo a secretária de Segurança da capital catarinense, mantém contato direto com as autoridades de municípios da Grande Florianópolis, como São José e Palhoça, para que não haja intercâmbio de materiais furtados entre as cidades. Segundo Maryanne Mattos, o apoio do governo do Estado, a partir da Polícia Civil, Celesc e Polícia Militar, vem contribuindo também neste sentido.