Mas agora só morre por coronavírus? E quantos
morrem por outras doenças?
Se você não fez essa pergunta nos últimos meses, ao menos a deve ter ouvido por aí ou lido nos comentários em redes sociais. A pandemia da Covid-19 não trouxe apenas um problema de saúde pública. Mostrou-se também um desafio quando o assunto é informação.
O ND+ fez um levantamento para demonstrar o real impacto do novo coronavírus na mortalidade de Blumenau. A cidade é a terceira maior de Santa Catarina e quarta com mais mortes pela doença do Estado.

O que dizem os números? 441f1g
Como os dados totais de óbitos de 2020 não foram fechados pelos órgãos de saúde pública, a reportagem faz uma comparação das mortes por Covid-19 com as duas doenças que mais mataram em Blumenau no ano de 2019.
Naquele ano, 1.929 pessoas morreram na cidade. O ranking das principais causas foi liderado pela pneumonia bacteriana e o infarto agudo do miocárdio, com 144 e 121 óbitos, respectivamente.
Em 2020, a Covid-19 sozinha quase alcançou esse número. A doença tirou a vida de 256 pessoas. É praticamente o triplo de óbitos em decorrência do câncer de brônquios e pulmões, terceira maior causa de mortes em Blumenau em 2019.
Os dados já contabilizados no Sistema de Informação sobre Mortalidade, usado em todas as esferas do governo, apontam que em 2020 a Covid-19 deve ser a principal causa de mortes em Blumenau, dado que só será consolidado quando todos os números forem ratificados.
De maio, data do primeiro óbito na cidade, até julho, último mês com números fechados, a doença causada pelo coronavírus matou sozinha mais do que a pneumonia e o infarto.
Apenas nestes três meses, 2020 registrou 533 óbitos em Blumenau: são 20 a mais que no ano anterior. A diferença pode parecer pequena, mas a redução está nas chamadas “mortes por causas externas” – aquelas decorrentes de homicídios e acidentes de trânsito.
Com as primeiras restrições impostas pelo governo do Estado e incialmente endurecidas pela prefeitura de Blumenau, a redução no atendimento para este tipo de caso foi drástica dentro dos hospitais. Em 2019, as mortes por causas externas fizeram 59 vítimas, enquanto em 2020 foram 38. Ou seja, o aumento no total geral de mortes é reflexo do novo coronavírus.
“A Covid-19 veio como uma avalanche e mostrou para nós, profissionais da saúde, que é uma doença com letalidade importante, principalmente em grupos específicos, o que fez com que aumentasse a mortalidade”, afirma o médico infectologista Ricardo Freitas, que atua no enfrentamento à pandemia.

Uma comparação com a última pandemia: H1N1 4067r
Em 2009, quando o mundo enfrentou a pandemia da H1N1, Blumenau, registrou nove mortes pela doença. A Covid-19, em quatro meses, matou 14 vezes mais. A diferença pode ser explicada nas ferramentas de enfrentamento ao vírus, segundo o médico.
“O H1N1, que parecia ser uma pandemia, logo foi contido e o conhecimento ficou muito bem embasado. Não havia dúvidas. Os médicos e Poder Executivo trabalhavam coesos em cima de uma informação, o que tornava mais fácil o atendimento. Desta pandemia, houve uma polarização […]. E isso gerou confusão em nível mundial. Se você pudesse trabalhar de maneira uniforme e deixasse que a Saúde cuidasse da Saúde, talvez o impacto da Covid-19 fosse um pouco menor”, aponta Freitas.
Mas não morreu de Covid-19,
ele tinha outra doença.
Essa é outra frase comum nas redes sociais. A explicação, segundo o infectologista, está no fator decisivo da Covid-19 para o desfecho de morte. Freitas explica que a doença causada pelo novo coronavírus afeta diversas áreas do organismo, não apenas os pulmões. Em pessoas com as chamadas comorbidades, pode acelerar a patologia e contribuir para levar ao óbito mais rápido do que se a pessoa não estivesse infectada.
Em entrevista ao portal ND+, Freitas fala sobre os impactos da doença na saúde pública e na política, a polarização decorrente da Covid-19, o desafio de enfrentar uma doença completamente nova e a interferência das redes sociais na negação da patologia e na disseminação de informações incorretas sobre medicação.