Superando barreiras culturais e sociais, muitas mulheres desempenharam um papel fundamental na área da saúde e no desenvolvimento médico em Blumenau. Mulheres inspiradoras, que não apenas se destacam como profissionais da saúde, mas também demonstram imensa solidariedade e compaixão em suas carreiras. Um legado deixado na história da cidade.

Mulheres extraordinárias cujas histórias são exemplos de como a dedicação, a compaixão e os propósitos podem salvar e mudar vidas, impactando positivamente na comunidade médica, apesar dos obstáculos impostos pela história. Durante séculos, as mulheres tiveram uma presença significativa no campo da medicina, mesmo em tempos em que sua participação era considerada inapropriada ou até mesmo proibida.
Hoje, elas conquistaram feitos inéditos e trilharam seu próprio caminho na área da saúde em Blumenau. Algumas delas você vai conhecer nesta reportagem, que faz parte de uma série especial produzida pelo ND +, em comemoração ao Mês da Mulher.
Irmã Aloysianis: uma cidadã blumenauense 29576z
Na história da medicina, as mulheres têm sido particularmente notáveis em seu trabalho durante tempos de guerra, realizando cirurgias, cuidando de doentes e feridos, oferecendo conforto e apoio emocional aos pacientes. Catharina Tielkes, mais conhecida como Irmã Aloysianis, foi uma delas.

Figura marcante na saúde em Blumenau, de acordo com registros históricos (Blumenau em Cadernos, tomo III e XV), ela nasceu no dia 28 de agosto de 1893, em Bochold, na Alemanha.
Se formou em enfermaria em 1914, atuando na linha de frente russa durante a primeira Guerra Mundial, prestando serviços aos soldados feridos em combate nos hospitais militares. Na mesma época, sofreu um grave acidente na mão esquerda. Ferimento que, anos depois, a obrigou a amputar o seu antebraço para salvar sua vida.
Ingressou em 1919, na Ordem das Irmãs da Divina Providência, para dedicar sua vida ao próximo. Por ordens superiores e por sua experiência, veio à Blumenau com o Dr. Jungbluth para prestar assistência em cirurgias e atendimentos. Além disso, ela foi a responsável por implantar, juntamente com o médico, o primeiro aparelho de raio X no Hospital Santa Isabel.

Durante o período de 1928 a 1933, ela exerceu a função de diretora do Hospital Santa Isabel e superiora das Irmãs residentes no local, deixando um exemplo de caridade, abnegação, zelo apostólico e amor ao próximo. Sua dedicação incansável ao cuidado dos enfermos e necessitados foi notável em toda a sua trajetória. Seu trabalho exemplar e serviço à comunidade a tornaram merecedora do título de Cidadã Blumenauense, conferido pela Câmara Municipal.
“Vim para Blumenau, esperançosa de cumprir o meu ideal de servir a Deus e ao povo, como enfermeira. Isso só foi possível graças à compreensão e colaboração geral. Vi crescer Blumenau e seus filhos, nestes últimos quarenta anos, compartilhando dos seus sofrimentos e também das suas alegrias. É por isto que aceito emocionada, este título por demais honroso, que acabais de me conferir. Humildemente agradeço às autoridades e ao povo, pedindo a Deus forças para continuar trabalhando por Blumenau”, disse ao receber o título na época. O depoimento foi registrado na revista “Blumenau em Cadernos”.
No dia 29 de abril, em Blumenau, ela faleceu aos 80 anos após dedicar mais de meio século de serviço no Hospital Santa Isabel. Deixando um legado e uma inspiração para muitas mulheres que desejaram seguir carreira na área da saúde na cidade. Sua abnegação e compromisso com seus pacientes foram verdadeiros exemplos de excelência profissional e humanidade.
Um exemplo de pioneirismo atual a ser seguido 613e1u
Atualmente, são muitas as mulheres que se destacam no meio médico em Blumenau. Danielle de Lara é pioneira. Foi a primeira mulher a desbravar e se formar em neurocirurgia em Santa Catarina, há quase 15 anos.

“Minha missão é levar aos pacientes e familiares a melhor alternativa em cirurgia cerebral minimamente invasiva”, é o que diz a Dra. Danielle de Lara, médica preceptora do Serviço de Residência Médica em Neurocirurgia do Hospital Santa Isabel e professora do curso de medicina na Universidade Regional de Blumenau (FURB).
Vencendo o preconceito de uma área que agrega mais homens do que mulheres, enfrentando situações desagradáveis por conta disso, até mesmo por parte de paciente, Danielle acredita que é possível mudar esse cenário com investimento em educação, oferecendo as mesmas oportunidades a meninas e meninos e incentivando o desenvolvimento racional e cultural desde a infância.
“Infelizmente, ainda existem situações em que a mulher é considerada incapaz ou inferior. Pacientes me dizendo que não se sentem seguros de serem operados por mim, por eu ser mulher. E o pior, já ouvi isso de outras mulheres, mas acredito que ser a primeira neurocirurgiã em Blumenau trouxe uma grande mudança de olhar para a especialidade. Mostrar que quando há dedicação e paixão, seu sexo, cor da pele ou crença não fazem diferença no seu desempenho profissional”, relata.
Hoje, com muito incentivo dos pais, ela se tornou referência em cirurgia cerebral minimamente invasiva e cirurgia transnasal por vídeo. Concluiu dois anos de Fellowship em Cirurgia Endoscópica Cerebral no departamento de “Minimally Invasive Skull Base Surgery” em “The Ohio State University Medical Center”, Ohio, Estados Unidos, em 2012. Também faz parte como membro internacional da Sociedade Norte Americana de Base Crânio (NASBS).
Uma memória que a marcou foi a de sua primeira aula de Neurologia no curso de Medicina. No segundo que percebeu a complexidade e a beleza do funcionamento do cérebro humano, conta que teve a certeza de que queria trabalhar com essa área.

“Sou a primeira médica da minha família e tenho uma família muito presente em cada etapa dessa trajetória, sempre muito incentivada e celebrada. Meus pais sempre me fizeram crer que eu seria capaz de realizar tudo o que eu acreditasse e que não deveria me abalar pelos obstáculos e sempre seguir em frente”, relembra.
Danielle é sem dúvidas um exemplo para outras mulheres que escolhem atuar na área médica. Desde que retornou ao Brasil, o serviço de Neurocirurgia, do qual faz parte, já formou outras três médicas na especialidade.
Ela tem 41 anos e além de uma profissional incrível, também é uma mãe que se considera uma eterna otimista e acredita em um futuro mais igual e justo entre mulheres e homens.
Com relação ao seu impacto, ressalta a importância em dar confiança e apoio para outras mulheres, “tento fazer a minha parte quando educo minha filha, como professora universitária e com meus residentes. Por isso meu conselho é que ensine aos seus filhos o respeito ao outro, quem quer que ele seja. Respeite as crenças, as ideias e o trabalho alheio. E ensine seus filhos que eles são incríveis e invencíveis, sejam meninos ou meninas”, finaliza.

43 anos de história: muito carinho e dedicação 4v61
Outra profissional que desempenha um papel fundamental e se destaca no Hospital Santa Isabel, é a enfermeira Cecília Zuffo. Sua história com a enfermagem começou quando era bem jovem, por influência das suas irmãs, que já trabalhavam na área.

Começou sua jornada no oeste de Santa Catarina, no campo de pediatria, mas foi em Blumenau que encontrou sua verdadeira paixão, trabalhar em obstetrícia e cirurgia, área que atua até hoje. “Me identifico com a área, já que ajudar as pessoas em momentos delicados como o nascimento de um filho é algo muito gratificante”, relata.
Durante muitos anos, ela se dedicou a estudar e acompanhar as inovações e tecnologias em sua área de atuação. Essa busca constante pelo conhecimento permitiu que ela aprimorasse suas habilidades e adotasse novas ferramentas e técnicas em seu trabalho, tornando-o mais seguro e eficiente, como foi o caso das cirurgias por vídeo.
“Minha maior aquisição foi o meu conhecimento e aperfeiçoamento técnico, e hoje o mais gratificante para mim é ar esse aprendizado para as novas gerações”, comenta.
Ao longo de 43 anos no HSI, Cecília viveu muitas experiências e realizou grandes conquistas. Ela continua transformando a vida de inúmeras pessoas que am por seus cuidados. “A minha maior alegria será ver minha filha se tornar médica, daqui a menos de 100 dias. O maior fruto que vou colher dessa jornada de trabalho e meu maior motivo de orgulho”, destaca.
