Medo de engravidar? Atenção, você pode sofrer de tocofobia; entenda a condição

Combinar métodos contraceptivos, não conseguir relaxar durante as relações sexuais e fazer diversos testes de gravidez são características de mulheres tocofóbicas

Maria Eduarda, 18 anos, se sentia ansiosa e insegura todas as vezes que mantinha relações sexuais. Por dois meses, a estudante sentia dores de cabeça, ânsia de vômito e inchaço em algumas partes do corpo só em pensar constantemente que poderia ter um bebê no seu útero, mesmo usando métodos contraceptivos. “Sentia um medo e uma insegurança muito fortes. Não conseguia parar de pensar que poderia estar grávida”, contou.

Tocofobia é o termo usado para classificar pessoas com o medo excessivo de engravidar. – Foto: Freepik/reprodução/NDTocofobia é o termo usado para classificar pessoas com o medo excessivo de engravidar. – Foto: Freepik/reprodução/ND

O motivo do pânico de Maria Eduarda tem nome: tocofobia, termo dado a mulheres que têm medo excessivo da gravidez e do trabalho de parto, e que não conseguem confiar nos métodos contraceptivos.

“Meu dia inteiro era pensando na possibilidade de ter um bebê. Não conseguia esquecer. Via vídeos, fazia meditação. Mas não conseguia, era o dia todo pensando que poderia estar grávida”, explica a estudante.

Ataques de pânico, crises de ansiedade, irritabilidade, impaciência, mudança no padrão do sono e mobilizações emocionais intensas ao falar sobre gestação e parto podem ser caraterísticas de pessoas tocofóbicas.

Segundo a psicóloga especialista em psicologia perinatal Mayara Floriani, os sintomas da tocofobia podem variar de mulher para mulher, mas  algumas características podem ajudar a identificar a fobia.

“Quando falamos em saúde mental o diagnóstico não é tão simples. É necessário uma avaliação cautelosa para encontrar a melhor forma de oferecer apoio e tratamento para a mulher”, relembra a psicóloga.

Maju Ferreira é influencer e estudante do último semestre de Medicina. Após ouvir o termo pela primeira vez, ela usou as suas redes sociais para orientar as suas seguidoras sobre os medos e mitos que rondam a educação sexual.  “Uma das coisas que influenciam positivamente no tratamento contra a tocofobia é a informação e o autoconhecimento”, diz.

De acordo com Maju, a fobia de engravidar pode ser considerada um tipo de transtorno de ansiedade. “É um medo muito grande de um método contraceptivo não funcionar ou uma insegurança durante as relações, e até nos parceiros sexuais”, explica.

Com mais de 170 mil seguidores no Instagram, Maju Ferreira usa sua rede social para compartilhar informações sobre educação sexual. – Foto: @mjferreiraa/reprodução/NDCom mais de 170 mil seguidores no Instagram, Maju Ferreira usa sua rede social para compartilhar informações sobre educação sexual. – Foto: @mjferreiraa/reprodução/ND

Mulheres que têm medo irracional em relação ao trabalho de parto também podem ser consideradas tocofóbicas. Para Mayara, é importante saber diferenciar a fobia do trabalho de parto da vontade de não ter filhos.

“O grande problema é a patologização desenfreada, ou seja, tudo vira doença. Muitas vezes a mulher não quer ter filhos, apresenta resistência ao parto e tem seus motivos para escolher não gestar. O diagnóstico de tocofobia acaba surgindo de uma maneira inadequada”, comenta a psicóloga.

Sophia Cavalcante, de 19 anos, é uma das mulheres que vivem com medo e insegurança constante de engravidar, e já chegou a fazer mais de 20 testes de gravidez em um mês. A estudante de Odontologia acredita ter tocofobia desde que teve a sua primeira relação sexual. Mesmo usando preservativo, ela tomou a pílula do dia seguinte para garantir que não engravidaria. “Não tinha conhecimento sobre o assunto”.

A ginecologista e obstetra Gabriela Pascueto afirma que o uso regular da pílula do dia seguinte desorganiza os hormônios naturais femininos. “Vai causar uma bagunça no ciclo menstrual e isso não é saudável para a saúde da mulher”.

A combinação de mais de um método contraceptivo é comum entre pessoas com medo extremo da gravidez. A ginecologista explica que associar meios de proteção pode ser uma forma de melhorar a eficácia contraceptiva, mas ressalta que é preciso atenção.

“Não é legal combinar métodos que sejam hormonais. A dose de hormônio pode ser muito grande e causar prejuízo para a saúde da mulher. Mas associar métodos que não sejam hormonais é interessante. Às vezes fazer o DIU com um preservativo, além de melhorar a taxa de segurança contraceptiva, protege contra as infecções sexualmente transmissíveis”.

Maria Eduarda começou a confiar no seu método contraceptivo após dois meses se sentindo tocofóbica. Além de confiar nos meios de proteção, a estudante relata que parou de acreditar nas fakes news a respeito do tema.

“Tem mulheres que relataram terem engravidado tomando anticoncepcional. Mulheres que usavam camisinha e mesmo assim engravidaram. Outras que menstruaram durante seis meses e estavam grávidas. Muitas histórias, a maior parte mentiras. Então você lê aquela mentira e pensa: ‘nossa, estou grávida’,  mesmo a menstruação estando correta, mesmo tomando o anticoncepcional direitinho indicado pelo médico”.

Para Maju, não existe um único motivo que cause a tocofobia. Entretanto, acredita que os conteúdos postados na internet podem influenciar no desenvolvimento do medo. “Nos vídeos do TikTok teve uma história de uma menina que engravidou virgem. Depois teve outra história de menstruar durante a gravidez. Esse tipo de vídeo começou a ficar popular”, relatou.

Mas afinal, é possível menstruar na gravidez?

A médica ginecologista explica que o sangramento durante a gravidez é classificado como sangramento gestacional. Segundo ela, é necessário saber diferenciar o sangue de menstruarão do sangramento que ocorre durante a gestação. “O sangramento na gravidez não é algo esperado. Sempre precisa de uma investigação. Então, eu acho que é mais sobre alertar as pessoas que tiveram sangramento gestacional”, diz.

Será que sofro de tocofobia?

Segundo Mayara, a mulher que se identificar com os sintomas de tocofobia deve buscar ajuda profissional.

“É necessário fazer acompanhamento e tratamento psicológico. Em algumas situações, até tratamento psiquiátrico. No processo de psicoterapia é possível dar espaço para a mulher falar sobre como se sente, afinal de contas, muitas não são acolhidas, visto que a gestação é algo muito incentivado em nossa cultura e sociedade”, diz.

Maju Ferreira também incentiva a busca por ajuda de pessoas capacitadas. “A terapia é uma ajuda extremamente incrível para quem tem qualquer tipo de transtorno de ansiedade. Sempre falo para correr atrás de informação e de psicoterapia sempre que possível”, finaliza.

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