Dona Lola, que pariu 19 filhos, dos quais dois morreram em criança, e ainda ou três abortos, confessa que, até o fim dos anos 1970, era difícil a família que não perdesse crianças e jovens, principalmente na Cachoeira do Bom Jesus.
A salvação era o chá de ervas cultivadas no próprio terreno. Até o chá de esterco de gado ajudava a combater a coqueluche. O Norte da Ilha era uma região carente de tudo, a começar pelo o, onde bastava chover pouco para formar barreiras de lama. Médicos? Só uma vez por mês.

Os irmãos Nelinho e Nelito foram almas boas que levavam doentes para o Hospital de Caridade. Vermes, malária, sarampo, coqueluche, comuns na região, tornavam assustador o índice de óbitos infantis.
Os problemas sanitários provocavam muitos males. A Prefeitura de Floripa só em 1980 que deu à grande parte das famílias nativas casinhas de madeira, que serviam de privada sobre buraco aberto perto da residência. Para limpar impurezas fecais, usava-se papel de embrulho ou folha de bananeira.
Comuns os terrenos tomados de plantas essenciais para o chá, como o sabugueiro, laranja, e quem não criasse animais, recorria aos estercos dos pastos vizinhos. “Pra tudo havia o remédio caseiro. Minha mãe Maria das Dores, que morreu com 101 anos, só ia dormir depois do chá de erva-doce”, recorda Lola.
Na praia da Cachoeira…
– Ô Venanço, quando não tinha patente tu fazias onde?
– No mato, longe das cobra, responde Venâncio às gargalhadas.
– Mas tu não usava urtiga, não né?
– Puta meda, Lelo, sonhou com a cobra, foi?
– Venanço, naquela época nunca que eu ouvi falar em papel higiênico. Papel jornal também era difícil. A folha de bananeira era de mais asseio, mas a gente precisava ver se não tinha aranha nem abelha escondida.
– Meu avô morreu com 107 anos e ele fazia patente de madeira. E como a família era grande e alguns com diarreia, a cada mês o vovô precisava cavar mais um buraco. Banho de gamela? Duas vez por semana, mas a gente comia bem e não era muito de escovar dente. E dormia bem depois de apagar a vela. Pulava da cama antes das 5 horas. Tempo bom, aquele – emociona-se Venâncio.