A depressão pós-parto é um transtorno psiquiátrico que tem seu início entre a gestação e o período de até um ano após o nascimento do bebê. A condição, inclusive, teve sua nomenclatura alterada por conta do período em que acontece.

O transtorno pode começar até mesmo durante a gestação, e não somente após o parto. Por isso, a área tem utilizado o termo depressão perinatal.
“Já tem estudos mostrando que cerca de metade dos casos de depressão chamadas de ‘pós-parto’ já começavam na gravidez”, afirma a psicóloga Anna Nogueira, especialista em Psicologia Perinatal e Familiar Sistêmica.
Cerca de 25% das mulheres que se tornam mães são acometidas pelo transtorno. Os fatores que levam a depressão perinatal são múltiplos, podendo envolver genética, características pessoais, estressores, questões comportamentais, entre outros.
Carine Bueno, hoje mãe de duas crianças, conta que os sintomas da depressão começaram ainda na gestação.
“Já na gravidez eu comecei a acreditar que eu e meu bebê éramos um problema para o meu marido. Meu bebê era um problema para mim, por mais que o amasse, eu não o queria. Nós dois éramos um problema para o meu marido e a única solução para este problema, na minha cabeça, era que nós dois morrêssemos”, relata.
A psicóloga explica que o conjunto de mudanças que acontecem no nascimento do bebê impactam na vida da mãe de forma profunda. São mudanças de contexto de vida, social, profissional, familiar e conjugal, que propiciam o adoecimento psíquico.

Carine explica que teve um choque de expectativas muito grande ainda durante a gravidez, que ocasionaram diversas brigas com o marido.
“Eu não identifiquei sozinha que estava com depressão pós-parto. Eu só chorava muito, brigava o tempo todo com meu marido, o choro do bebê despertava em mim uma raiva e um ódio muito grande que me descontrolava e me fazia ser agressiva com ele”, conta a mulher.
Entre os sintomas da depressão perinatal estão a perda da vitalidade, perda de prazer em fazer coisas que antes gostava, irritabilidade, pensamentos negativos quanto a capacidade da mulher como mãe, entre outros.
A psicóloga destaca que nem toda pessoa deprimida fica sem conseguir levantar da cama. É possível que haja excesso de sono ou insônia, excesso de apetite ou perda o apetite.
Esses sinais ainda se confundem com o desgaste físico decorrente da gestação e dos cuidados com o bebê, especialmente nos primeiros meses.
“A gente tem que tomar muito cuidado no caso da depressão perinatal, principalmente quando ela acontece após o parto, porque muitos dos sintomas podem ser confundidos com um cansaço porque essa mulher não está dormindo, porque essa mulher está em adaptação”, acrescenta a psicóloga.
Todo esse contexto pode mascarar os sintomas e dar a ideia de que o período difícil ará sozinho, atrasando um possível diagnóstico e tratamento.
No caso de Carine, a situação chegou ao ápice. Carine conta que tentou algumas vezes tirar a vida do bebê e que na última tentativa, a dela também. Isso como uma forma de buscar uma “saída” para a situação.
A psiquiatra que acompanhava Carine a socorreu durante a tentativa. Depois disso, a mulher ficou em tratamento intensivo psiquiátrico até que a situação fosse estabilizada.
Anna reforça que se os sintomas forem persistentes por mais de duas semanas, o melhor a se fazer é procurar ajuda.
“É melhor começar um tratamento bem cedinho, do que esperar ar sozinho, porque muitas vezes não a sozinho e pode agravar. E o agravo de uma depressão perinatal ou de um burnout, por exemplo, prejudicam muito a relação da mãe com o bebê, podem prejudicar o desenvolvimento cognitivo e psicológico do bebê, e a saúde mental dessa mãe como um todo”, explica a psicóloga.

Alguns fatores colocam as mães em um grupo de risco para a depressão perinatal.
São eles: histórico pessoal de depressão ou outros transtornos psiquiátricos, histórico familiar de depressão perinatal, transtorno bipolar, esquizofrenia, perdas gestacionais anteriores, gestações com risco de saúde, mulheres que estão em crise conjugal ou que são mãe solo, crises profissionais, perdas familiares recentes, situação de vulnerabilidade social, entre outros.
“Mulheres que estão nessas categorias, o ideal seria que tivesse um acompanhamento psicológico na gravidez. Ela pode ir numa psicóloga perinatal, de preferência, e fazer algumas consultas ao longo da gestação para ver como ela está, como formato de avaliação mesmo”, afirma Anna.
A vida da mulher que se torna mãe a por mudanças profundas e definitivas. Novos papéis sociais são reafirmados dentro da família, do casal, do trabalho. Além disso, a mulher transforma a si mesma, e leva um tempo para reencontrar a si mesma.
“É preciso entender que depois que um filho chega tudo muda. As coisas não voltam a ser como antes. O teu tempo, o teu ritmo, a tua velocidade não serão mais como eram antes. E entender isso ajuda demais a manter uma boa saúde mental”, finaliza a psicóloga.