Respeito à sexualidade feminina e garantia de consentimento sexual são aspectos intimamente relacionados. Às mulheres é garantido o direito de decidir sobre as suas próprias vivências sexuais e as parcerias devem obter sempre o consentimento claro e contínuo nas relações.

O consentimento não é um contrato repleto de cláusulas que você vai e seguir a risca. Ele é sobre dizer sim. O consentimento pode ser dado e retirado a qualquer momento. Ele deve ser livre e esclarecido. Ele é específico. Vamos refletir sobre cada afirmativa para melhor compreender o tema, que é pauta de conversa nos meus atendimentos clínicos e na plataforma Sexo sem Dúvida.
O que você aceita ou recusa entre quatro paredes? O que você gostaria de experimentar e não tem coragem? Começou, não pode parar? Novo consentimento a cada nova transa?
É fundamental compreender o conceito de consentimento sexual. Ele se refere à permissão voluntária de todas as partes envolvidas nas vivências sexuais. Eu gosto de usar o termo vivências sexuais para não reduzir o consentimento apenas ao ato sexual em si, mas a tudo o que envolve o encontro sexual.
O consentimento visa garantir o conforto, o respeito e a plena consciência do que está acontecendo e do que pode vir a acontecer. Não deve haver nenhum tipo de coação nem coerção e nem o uso de substâncias que alterem o nível de consciência. É preciso estar ali de forma presente e consciente para dizer sim.
Ponto importante: quem cala não consente! O consentimento DEVE ser Livremente dado, específico, informado e revogado a qualquer momento.
Livremente dado: ninguém deve se sentir obrigada a concordar com atividades sexuais. O consentimento deve ser livremente dado sem coerção, pressão ou ameaças de qualquer tipo.
Específico: o consentimento deve ser dado para aquela atividade sexual em questão. Concordar com uma atividade não implica ter consentido para outras.
Informado: as informações devem estar todas clara e compreendidas por todas as partes envolvidas, inclusive ter ciência de possíveis consequências e riscos envolvidos.
Revogado: o consentimento pode ser retirado a qualquer momento caso alguém não se sinta confortável por qualquer razão ou se deseja interromper a atividade sexual.
Importância do consentimento nas vivências sexuais 246017
As vivências sexuais saudáveis envolvem sempre negociações. O sexo de ontem pode não ser o sexo de hoje. A prática sexual que você gostava pode não te interessar mais. E isso precisa ser dito, conversado. Olha a importância da comunicação aqui mais uma vez.
Você pode inicialmente concordar e fazer algo sexualmente, mas saiba que você tem o direito e a possibilidade de mudar de ideia. Você pode interromper o ato sexual e isso não pode ser um problema!
Nada substitui a boa comunicação que deve nortear as relações sexuais. Estando ou não em um relacionamento. De curto ou longo prazo. Perceba ainda que o consentimento sexual está ligado à percepção que você tem em relação à sua sexualidade, à sua autonomia sexual, ao seu conhecimento de corpo, ao que te excita ou não, ao que te dá ou não prazer.
É preciso legitimar o desejo sexual feminino para, assim, o consentimento se tornar válido. Não cabe à mulher corresponder às expectativas sexuais da parceria. Por isso devemos também falar sobre o consentimento nos casamentos. Não é porque casou que seu corpo não te pertence. As escolhas sexuais continuam sendo suas.
Temos ainda uma cultura que ensina a mulher a silenciar através das desigualdades de gênero, das violências sexuais e das pressões sociais, a não se comunicar nem se posicionar antes, durante e nem depois das vivências sexuais. Não é dado a ela o benefício do não, de verbalizar diante de seu desconforto.
Logo, quando se trata de consentimento sexual no contexto da sexualidade feminina é de suma importância garantir que as mulheres tenham a capacidade de tomar decisões informadas e autônomas sobre as suas vivências sexuais. Três pontos importantes a serem aqui considerados:
Educação para a sexualidade: educação sexual abrangente e compreensiva é fundamental para capacitar mulheres a compreenderem seu próprio corpo, desejos, limites e como se comunicar sobre sexualidade. Isso permite que elas tomem decisões informadas e consensuais.
A compreensão do “não” como resposta completa: as mulheres (e todas as pessoas) têm o direito de dizer “não” às vivências sexuais a qualquer momento, mesmo que tenha dito sim anteriormente.
Prevenção de violências e relacionamentos abusivos: conhecer e garantir o consentimento é uma maneira de prevenir a violência sexual. A conscientização sobre os direitos das mulheres e o respeito pelo consentimento são os cruciais para combater a cultura de estupro e a violência de gênero. E contribui para as relações sexuais saudáveis, respeitosas e consensuais.
A pauta sobre consentimento é tão atual e importante que é o tema do Dia Mundial da Saúde Sexual de 2023). A data, celebrada em 4 de setembro, ganhou espaço em 2010 em diversos países do Mundo e também no Brasil, sob a coordenação da diretoria da WAS (World Association of Sexology) no Brasil e também da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana), da qual sou Delegada Distrital por Brasília.
Se você quiser se aprofundar no tema e aproveitar os eventos gratuitos que acontecerão nos meses de agosto e setembro com o objetivo de promover conhecimento científico sobre a saúde sexual, com profissionais renomados, siga a Was e SBRASH nas redes sociais, inscreva-se e participe.
As reflexões e discussões sobre consentimento já vêm acontecendo, mostrando possíveis intervenções e soluções. O consentimento é o que protege a liberdade e a dignidade humana.
Vamos juntas pela cultura de proteção e prazer!