
A morte do Papa Francisco na última segunda-feira (21) “deu a largada” para uma disputa pelo futuro da Igreja. Nos próximos dias, um conclave — ritual para a escolha do novo pontífice — deverá ocorrer e o próximo líder dos católicos será definido.
O último papa fez algumas reformas significativas no Colégio Cardinalício ao romper com a antiga tradição de que bispos de certas dioceses na Europa e nos Estados Unidos fossem automaticamente feitos cardeais. Ao contrário, ele nomeou bispos de países “inéditos” como Tonga, Mianmar, Mongólia, República Centro-Africana e Haiti, o que desagradou um grupo de católicos norte-americanos. É aí que entraria em ação o “Red Hat Report” (“Relatório do Chapéu Vermelho”, em tradução livre).
O que é o ‘Red Hat Report’, plano que ‘derrubaria’ o Papa Francisco 696va
O Papa Francisco buscava romper com as tradições conservadoras da Igreja e incluir grupos minoritários dentro da agenda católica. Além de nomear cardeais de países muitas vezes esquecidos, ele também deu início a um processo de reforma que inclui dar papéis maiores às mulheres na instituição, como nomear mais diaconisas.
Suas críticas à desigualdade econômica e seu foco nos direitos dos imigrantes e na crise climática irritaram também os católicos que queriam um líder que ditasse as leis sobre ensinamentos morais, sem entrar em agendas políticas.

Segundo uma investigação feita pelo jornalista católico francês Nicolas Senèze, intitulada “Como a América quer mudar o Papa”, grupos de empresários ultraconservadores teriam se unido com lideranças católicas estadunidenses para elaborar o plano de “contra-ataque” às ações do pontífice argentino.
Conforme o repórter, o “Red Hat Report”, plano referenciado também pela CNN, teria sido encomendado por ex-policiais e agentes do FBI, advogados, jornalistas e acadêmicos para estudar a vida de cada cardeal nomeado por Francisco, visando destruir suas carreiras, caso suas ideias fossem próximas à do argentino, manipulando as biografias dos cardeais mais progressistas.
Tal plano, de acordo com Senèze, enfraqueceria a posição do Papa dentro da Igreja e possibilitaria um “golpe de Estado”.
Operação ‘Red Hat Report’ não derrubou o Papa Francisco, mas pretende destruir seu legado, dizem vaticanistas 2x2ur
Segundo Senèze, em 2020, o plano chegou em uma nova fase. Ao perceberem que Francisco se mantinha influente no poder, os conspiracionistas teriam começado a se preparar para o próximo conclave, já que, naquele ano, o argentino já estava com 84 anos e seu papado não iria durar muito mais tempo.
A segunda fase consistiria em preparar dossiês sobre os cardeais disponíveis para o próximo conclave, eliminando aqueles que pretendem dar continuidade às reformas implementadas pelo Papa Francisco, prejudicando a credibilidade deles.

Outro vaticanista, o jornalista Vicens Lozano compartilha da teoria da existência do “Red Hat Report”. Segundo ele, que é autor do livro “Vaticangate”, Francisco concentrou a Igreja nos pobres, refugiados, imigrantes, mulheres, na comunidade LGTBQIA+ e no meio ambiente. Isso fez ele ser considerado um outsider no Vaticano.
A recepção positiva por parte da esquerda ao Papa Francisco, segundo Lozano, teria motivado o grupo estadunidense a agir para prejudicá-lo. A internacionalização do Colégio Cardinalício também tira o peso dos cardeais europeus e norte-americanos e permite que representantes de outros continentes possam negociar seus próprios interesses dentro do conclave.
Até o momento, não há comprovações sobre a existência do “Red Hat Report”, mas a divulgação dessa informação tem chamado a atenção da imprensa internacional e dos vaticanistas, que observam de perto a preparação e as movimentações para o próximo conclave, que decidirá o próximo Papa, seja ele contrário ou favorável às ideias de Francisco.