O Grupo ND iniciou uma série de entrevistas com os pré-candidatos ao governo do Estado de Santa Catarina. O quarto entrevistado no programa “Conexão ND Especial Voto+”, na Record News, foi o senador da República Dário Berger (PSB).
Na entrevista, o pré-candidato destacou algumas obras que realizou como prefeito de São José e de Florianópolis. Anotou que os mutirões são soluções baratas para resolver a demanda crescente pela saúde. O senador também apontou as medidas que colocará em prática no enfrentamento do desemprego caso seja eleito. Confira a entrevista na íntegra.

O senhor tentou ser candidato em 2010 pelo MDB e perdeu as prévias para Eduardo Pinho Moreira. E agora o senhor é candidato pelo PSB. Por que essa mudança? Por que o senhor não tentou o MDB?
Eu tentei, mas não consegui. A minha primeira tentativa foi em 2010, na sucessão do então governador Luiz Henrique da Silveira. Naquela oportunidade eu concorri com Eduardo Moreira nas prévias, perdi as prévias e o Eduardo Moreira acabou não sendo candidato a governador. Nós fomos buscar o Raimundo Colombo (ex-governador). Parabéns para o Colombo. Estava na hora certa, no momento certo. Colombo virou governador com o nosso apoio. Quatro anos depois eu e o Mauro Mariani, que sempre fomos uma corrente um tanto contrária dentro do MDB, imaginávamos que deveríamos ser candidatos novamente. Não deu certo, apoiamos o Colombo, mas eu encaixei uma candidatura de senador junto com Colombo, me elegi senador e, em 2018, foi o Mauro Mariani o candidato a governador, que infelizmente perdeu a eleição. Agora em 2022 o cenário se repete. Eu, como você viu aí, já fui vereador, fui prefeito de São José, fui prefeito de Florianópolis, sou senador da República e não sou carreirista. Só me falta ser candidato a governador e seria uma honra pra mim ser candidato a governador e ser governador de Santa Catarina.
Muitos dos seus eleitores e correligionários do MDB alegam que o senhor tem um perfil ideológico de centro-direita ou de centro e que agora foi para o PSB com a esquerda. Não levou nenhuma liderança, nenhum parlamentar federal, estadual ou prefeito de expressão em Santa Catarina. Como é que o senhor explica isso?
Eu sempre fui ideologicamente um candidato de centro, mas com muita sensibilidade social, progressista, democrático. É só você ver a forma como eu atuei como prefeito de Florianópolis. Eu privilegiei naquela oportunidade quem mais precisava. Por exemplo, a Tapera. Quando eu assumi a Prefeitura de Florianópolis, a Tapera não estava no mapa de Florianópolis. A Tapera virou um bairro com certa qualidade de vida a ponto de eu fazer 87% dos votos no bairro na reeleição. Esse sempre foi o meu viés. Eu tentei ser candidato junto ao MDB, que me colocou uma série de dificuldades. O meu sonho sempre foi ser candidato a governador, continuo com essa expectativa. Uma janela apareceu para mim, uma porta se abriu, o PSB me convidou e eu hoje formo um grupo de sete partidos dos quais o PSB é protagonista. São partidos que a característica vai muito mais além que meramente uma frente de esquerda. É uma frente democrática, ampla, com sete partidos, uma frente progressista que tem por objetivo construir uma unidade para disputar as eleições em Santa Catarina. Eu estou muito satisfeito porque fui muito bem recebido, apesar de algumas críticas pontuais de pessoas que, certamente, já não gostavam de mim no ado e vão continuar não gostando, porque unanimidade em política não existe.
Dentro dessa ampla frente partidária o senhor tem também o desafio de constituir a candidatura ao governo do Estado tendo o Décio Lima, do PT, como outro pré-candidato muito fortalecido entre todos esses partidos. Tem o PDT, que já sinalizou com uma vaga ao Senado. Como é que o senhor espera ser o candidato da frente democrática diante de forças políticas importantes?
Eu espero que eu possa ser o escolhido da frente progressista, porque eu tenho retrospecto eleitoral de vitórias sucessivas. Além disso, nós vamos ter um grupo de companheiros, de pessoas, de siglas partidárias que dignificam também Santa Catarina e dignificam o projeto político e a discussão política em torno da democracia, em torno da liberdade, em torno da justiça social. O que está em jogo nessa eleição é muito mais do que uma disputa insensata entre direita e esquerda. O que está em jogo nesse momento é que o Brasil a por uma série de dificuldades. Não há dúvida de que a gente pode afirmar que o país empobreceu, a situação é complexa, nós precisamos agir rápido. Nós estamos com uma inflação de dois dígitos, o que corrói o orçamento doméstico e também o padrão de vida, principalmente daqueles que ganham menos. Nós estamos com uma taxa de juros também desenfreada que já ultraa os dois dígitos e isso é muito ruim porque sem dinheiro, sem crédito, não há investimento, sem investimento não há produção, sem produção não há consumo, sem consumo, não tem imposto e efetivamente a roda da economia não gira.
A questão da saúde é recorrente. Nós temos mais de 100 mil consultas eletivas represadas. Pessoas que precisam de uma cirurgia e não fizeram no decorrer da pandemia. Falta recurso? Falta vontade política? Aporte de recurso financeiro federal? Como resolver?
Falta sensibilidade social. O governante que não tem sensibilidade social não tem nada. Sensibilidade social significa o governante se colocar no lugar da pessoa que precisa de uma cirurgia eletiva. Quando fui prefeito de Florianópolis, fiz os mutirões de cataratas, o mutirão de cirurgias eletivas, contratei inclusive a antiga maternidade Carlos Correia. Nós fizemos uma revolução em saúde, zeramos a fila de cirurgias eletivas. Isso é um negócio que é fácil de fazer, se faz com pouco dinheiro, se faz com mutirão, eu sei como fazer, já fiz e vou fazer. E acho que o que precisa é determinação política. Dinheiro é o que mais tem em Santa Catarina hoje. Enquanto no Hospital Infantil a ala de queimados está fechada há mais de um ano, enquanto as UTIs pediátricas estão faltando para atender as nossas crianças, principalmente agora que o frio chegou, o governo está distribuindo recursos pra todos os municípios através de Pix. Isso é um absurdo. Isso não é estabelecer prioridade. O governante tem que cuidar primeiro das pessoas. Esse é o grande desafio que nós temos.

Onde é que o governador Moisés mais acertou na sua avaliação?
Eu acho que o governador Moisés acertou pouco para te falar a verdade. Eu acho que nós eleitores erramos quando escolhemos o governador Moisés. Eu me lembro quando ele começou a formar o governo dele, o cidadão não podia ter sequer uma agem pela política, porque a política era destruidora. Não tinha ninguém sério na política, ninguém prestava na política. E o governador Moisés veio com essa tese, encheu o governo de gente incompetente, que não souber o que fazer no início, e, lamentavelmente, hoje ele pratica o que é mais velho na política de todos os tempos, desde a minha existência como político ou como ser humano. É o toma lá dá cá. É topa tudo por dinheiro, distribui em Pix, eu não sei onde nós vamos parar com isso.
Uma questão grave que envolve os principais municípios catarinenses é o desemprego, mas há também muita oferta de trabalho. Como resolver esse problema se for eleito governador?
Através da educação. Se nós desejamos construir um país diferente no futuro só tem um caminho na minha opinião: a educação. Educação no sentido amplo, na facilitação de um cidadão fazer um curso superior, de ele fazer um curso profissionalizante, de qualificar a mão de obra, de criar oportunidade. Um governador é um construtor do futuro, um indutor de políticas públicas que possam fazer com que a economia de Santa Catarina possa girar e crescer e, girando, vai criar uma série de oportunidades. Então o meu sonho é fazer com que Santa Catarina seja o Estado das oportunidades. Como é que nós vamos fazer isso? Nós vamos adotar critérios de qualificação de mão-de-obra. Nós vamos fazer parceria com as universidades. Se for necessário, com a Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), com o sistema S, com quem estiver disponível para que a gente possa preparar a nossa mão-de-obra para exercer as atividades que hoje têm demanda e nós não temos mão-de-obra qualificada, como é o caso da tecnologia.
O sistema educacional está falhando?
O que aconteceu com o Ministério da Educação nesses quatro anos de governo? Nós tivemos quatro ministros, um mais incompetente que o outro, um mais incapaz que o outro. O que se fez pela educação no Brasil nos últimos quatro anos? Não se fez absolutamente nada. Andamos pra trás, retroagimos, retrocedemos. O que houve foi uma disputa insensata, uma política de ódio e de rancor e educação requer também sensibilidade social. Nós temos que respeitar as pessoas como elas são e não como nós gostaríamos que elas fossem. Só assim, porque na marra nós não chegamos a lugar nenhum.
Ainda dentro desse relacionamento entre governo estadual e federal, Santa Catarina aportou quase meio bilhão de reais de dinheiro estadual nas rodovias federais. Como é que o senhor avaliou essa situação?
Eu fui contra isso. Não fui contra pelo fato de alocar recursos para concluir as obras do governo federal, que efetivamente precisam ser concluídas o mais rapidamente possível. Quando o governador de Santa Catarina esteve em Brasília para discutir com a bancada federal essa questão, eu sugeri a ele que, pelo menos, nós fizéssemos uma parceria com o governo federal. Para cada R$ 1 que o governo estadual colocasse, o governo federal colocasse outro R$ 1 e nós dobraríamos a nossa capacidade de execução das obras. Isso não aconteceu. Eu fui contra por que eu acho uma indecência tirar dinheiro do povo catarinense para fazer obras do governo federal. Por que Santa Catarina é um dos Estados mais prejudicados pelo governo federal. Veja bem, nós contribuímos para o governo federal com cerca de R$ 80 bilhões por ano. Sabe quanto é que retorna para nós? Um pouco mais de 10% disso. Se isso retornasse para nós ainda em obras de infraestrutura, para facilitar o nosso sistema viário, para transportar nossa riqueza, seria uma dádiva. Mas não, esses 10% que vêm do que nós produzimos é para recursos vinculados da educação, da saúde, da assistência social. Isso é inaceitável. O governo federal não demonstra nenhuma sensibilidade para entender a importância de Santa Catarina. Eu sou uma voz solitária que levanta essa questão sistematicamente porque eu não ito que os recursos produzidos em Santa Catarina não retornem para Santa Catarina pelo menos de maneira razoável.

Eleito governador como é que o senhor modifica essa situação?
Vou colocar a boca no trombone. Como eu tenho feito, mas eu tenho sido uma voz solitária. Tu lembras do pacto federativo? Eu, ingenuamente, até não tenho vergonha de dizer que naquela oportunidade eu imaginava e pensava que o pacto federativo seria uma recondução, uma rearrumação das atividades e dos recursos para atender às prioridades e as peculiaridades dos Estados brasileiros. Não, o pacto federativo é o seguinte: é a destinação e a distribuição dos recursos. Como é que nós produzimos R$ 80 bilhões e recebemos R$ oito bilhões em troca? É o nosso recurso que está ajudando ao desenvolvimento de outros Estados da federação pelo pacto solidário dos Estados. O que não é justo com Santa Catarina. Isso precisa ser corrigido através da legislação, através de um presidente da República, de uma política, de propósito de princípios para equalizar isso de maneira mais justa. Porque da forma como vai acontecer um dia isso vai explodir. Os Estados Unidos, por exemplo, os estados federados, quando foi instituída a democracia, eles começaram pelo orçamento. Imagina se um Estado nos Estados Unidos retornasse para eles 10% daquilo que eles produzem?
O senhor que viaja muito, as estradas estão realmente ruins?
Uma vergonha. Tem que ter um plano emergencial de infraestrutura em Santa Catarina. Primeiro para recuperar as rodovias e as SCs que estão esburacadas, aos pedaços. A SC de Concórdia a Chapecó é uma vergonha. Não tem acostamento, uma vergonha, numa região altamente importante economicamente para o Brasil e para Santa Catarina, então é uma questão de prioridade. Santa Catarina precisa de um governador que tenha experiência, que já tenha sido testado, que já tenha sido aprovado para enfrentar esses problemas que são os mesmos de sempre, de toda a sua existência e de toda a sua história. Não tem mágica. É arregaçar as mangas e estabelecer o foco, a meta e o objetivo, para depois fazer política e fazer gracinha distribuindo Pix.
Sobre privatizações, o senhor acredita que esse seria um caminho para a questão rodoviária, para questão das empresas públicas catarinenses?
Sou contra a privatização pela privatização. Eu não gosto de vender o que é meu, também não gosto de vender o que é dos outros. Muito menos vender o que é do povo catarinense e o que é do povo brasileiro. O que aconteceu com a privatização recentemente na Eletrosul? Nós vendemos, privatizamos a Eletrosul Geração porque dava prejuízo, porque não tinha eficiência. Sabe o que aconteceu depois da privatização? A Tractebel Energia foi a empresa que, nos próximos dez anos seguintes da privatização, mais teve lucro de toda a história do Brasil.