Uma grande incerteza política ronda o Brasil após o primeiro turno das eleições realizadas neste domingo (2). O resultado das urnas derrubou as expectativas dadas por muitas previsões que colocavam o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) como possível vitorioso já no primeiro turno, sem a necessidade do embate direto com o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 76 anos, obteve 48,43% dos votos, enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro, alcançou 43, 20%. As métricas afastaram a distância mais confortável entre os candidatos projetadas pelas pesquisas de intenção de voto.
A vantagem de apenas cinco pontos para Lula traz um cenário de indefinição e projeta semanas de uma campanha intensa e agressiva em um país profundamente dividido, segundo os analistas consultados pela AFP (Agência Press).
As principais pesquisas mostravam uma escalada confortável para o candidato do PT, com uma vantagem que alcançava 14 pontos, resultado que dava a possibilidade de vitória no primeiro turno para Lula.
Os números de domingo corresponderam ao cenário “otimista” defendido pela equipe de campanha de Bolsonaro, de 67 anos, deixando-o com chance de reeleição.
“Final aberto” 1u476g
“O final está em aberto e a situação, equilibrada. Bolsonaro terá apoio mais forte do que Lula em estados importantes”, comentou Leandro Consentino, cientista político do Instituto Insper.
Ele citou os casos do Rio de Janeiro, onde o governador alinhado a Bolsonaro, Cláudio Castro, foi reeleito no primeiro turno; São Paulo, que terá um segundo turno com um ex-ministro de Bolsonaro como favorito, e Minas Gerais, onde venceu um governador com perfil antipetista.
Os três estados reúnem 40% dos eleitores 2e491v
O bolsonarismo também saiu mais forte nas eleições legislativas e para governadores em outros estados.
Bolsonaro itiu que “tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população”, mas disse que “tem certas mudanças que podem vir para pior”.
Lula, que planejava comemorar sua vitória no primeiro turno, itiu que terá que lutar por cada voto. “Isso, para nós, é apenas uma prorrogação. Vamos ter que viajar mais, fazer mais atos públicos, mais comícios”, disse o ex-presidente, que esteve à frente do cargo máximo do poder executivo entre 2003 e 2010.

Lula ou seus últimos dias de campanha pedindo voto “útil” para derrotar o presidente no primeiro turno. Por sua vez, Ciro Gomes, implacável com Lula e Bolsonaro, desidratou na reta final, ficou em quarto lugar com 3% e seus votos “se mostraram úteis para Bolsonaro”, explicou Adriano Laureno, analista da consultora Prospectiva.
Marco Antonio Teixeira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, disse que a senadora Simone Tebet, terceira colocada com 4,2%, e Ciro Gomes podem ter “papel relevante” no segundo turno se declararem apoio a Lula ou Bolsonaro.

Tebet prometeu que anunciaria sua posição no “momento certo”, enquanto Ciro Gomes pediu um tempo para conversar com o partido antes de se manifestar.
Falta de propostas deram o tom aos discursos 4b3a5u
A campanha de Lula foi “excessivamente retrospectiva, centrada apenas nas realizações dos seus mandatos anteriores”, avaliou Paulo Calmon, cientista político da UnB (Universidade de Brasília).
“Faltou uma discussão mais prospectiva, apresentando planos para o futuro e contrapondo o discurso bolsonarista centrado excessivamente na pauta de costumes e nas questões de corrupção”, acrescentou.
Durante a campanha, Bolsonaro atacou, sem provas, a confiabilidade das urnas eletrônicas, o que gerou temores sobre a atitude que adotaria.

No domingo, ele evitou comentar sobre a transparência do processo e disse que aguardaria um posicionamento das Forças Armadas sem ser mais explícito.
O presidente, que também havia questionado as pesquisas, garantiu que derrotou “a mentira”. Bolsonaro tem governado em meio a crises, principalmente com uma gestão questionável da pandemia e um constante desafio às instituições democráticas. Mantém sólido apoio entre o eleitorado evangélico, agronegócio e setores conservadores.
Lula, que presidiu o Brasil em um período de forte crescimento e deixou o poder com um índice de popularidade invejável, volta à arena política sem conseguir se livrar da mancha da corrupção, embora suas condenações no na Lava Jato tenham sido anuladas.
Libertado em 2019 após ficar preso durante 19 meses, Lula conta com o apoio das classes populares, mulheres e jovens.
“O segundo turno promete ser uma disputa acirrada. O presidente vai investir para diminuir sua rejeição entre jovens e mulheres e, ao mesmo tempo, aumentar a do PT, demonizando-o”, disse Calmon. “Será uma campanha agressiva e de baixo nível”, acrescentou.