A coordenação da CEV (Comissão Estadual da Verdade) entregou aos representantes dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo o relatório final, encerrando 18 meses de atividades. “Resgatamos uma parte da história do Estado e esclarecemos a morte do ex-prefeito de Balneário Camboriú, Higino Pio, único morto pela repressão em solo catarinense”, destacou Anselmo da Silva Livramento Machado, representante da OAB-SC e coordenador da Comissão Estadual da Verdade.
Higino Pio foi assassinado em 3 de março de 1969, no “camarote do capelão” da Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina, na avenida Max Schramm, no bairro Estreito, em Florianópolis. “Temos um gigantesco ivo no campo dos direitos humanos. Se perguntarmos às pessoas, vão dizer que em Santa Catarina não teve ditadura, que não teve tortura ou mortos”, argumentou a secretária Angela Albino (Assistência Social), que representou o Executivo na cerimônia.
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O desembargador Ricardo Roesler, que representou o Tribunal de Justiça, enalteceu o trabalho dos membros da CEV e comparou a tarefa da comissão com o dia-a-dia dos magistrados. “Na busca da verdade o juiz também trabalha com fatos, mas às vezes a verdade real não é atingida”, comparou Roesler, que garantiu que o Judiciário analisará “com cuidado o relatório”. Já Dirceu Dresch (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa pediu ao governo do Estado a impressão de 5.000 exemplares do relatório final para distribuir nas escolas.
Segundo apurou a CEV, em Santa Cataria foram realizadas mais de 700 prisões, que resultaram no assassinato de sete catarinenses, três desaparecidos e quatro mulheres barbaramente torturadas.
Assassinados
– Arno Preis, de Forquilhinha, advogado, assassinado em Tocantins, militante do Molipo
– Frederico Eduardo Mayr, de Timbó, universitário, assassinado em São Paulo, do Molipo
– Hamilton Fernando Cunha, de Florianópolis, gráfico, assassinado em São Paulo, militante da VPR
– Higino João Pio, de Itapema, prefeito de Balneário Camboriú, assassinado em Florianópolis, do Partido Social Democrático (PSD)
– Luiz Eurico Tejeda Lisboa, de Porto União, estudante, assassinado em São Paulo, militante da ALN
– Rui Osvaldo Pfutzenreuter, de Orleans, jornalista, assassinado em São Paulo, do movimento Posadista
– Wânio José de Mattos, de Piratuba, capitão da Polícia Militar, morto no Chile, da VPR
Desaparecidos
– Divo Fernandes d’Oliveira, marinheiro, de Tubarão, desaparecido no Rio de Janeiro, militante do PCB
– João Batista Rita, universitário, de Criciúma, desaparecido no Rio de Janeiro, militante do 3MGM
– Paulo Stuart Wright, deputado, de Herval do Oeste, desaparecido em São Paulo, era dirigente da AP (Ação Popular)
Torturadas
– Clair de Flora Martins, militante da AP
– Derlei Catarina De Luca, da AP
– Marlene de Souza Soccas, do PCB
– Terezinha Moliterno Nunes Garcia
Militares catarinenses que sofreram repressão
– Alfred Darcy Addsion, tenente da cavalaria, preso e cassado, de São Francisco do Sul, sindicalista
– Ari Lorenzetti, da Marinha Mercante
– Augusto Luis de Brito, oficial da Marinha Brasileira, preso e cassado
– César Brumm, oficial da marinha, expulso em 1964
– Nery Clito Vieira, coronel da Polícia Militar, de Chapecó. Foi preso e cassado, pertencia ao PCB
– Wânio José Fernandes, tenente da Polícia Militar, preso em 1964, posteriormente cassado, banido e assassinado no Chile, de Piratuba, militante da VPR
Sacerdotes catarinenses presos
– Antonio Alberto Soligo, de Caçador. Integrado na produção com os metalúrgicos, no ABC, foi preso em 1969 e bastante seviciado em São Paulo, militava na AP
– Osni Carlos Rosenbrock, vigário de Tubarão, preso em 1964 por ajudar na organização do Sindicato Rural
– Paulo Martinechen Neto, vigário de Joaçaba, preso em 1964
Com informações da Agência Alesc