A visita do presidente argentino Alberto Fernández ao Brasil, na última terça-feira (2), trouxe preocupação a oposição ao governo Lula. A crise no país teria sido o motivo da antecipação da viagem, que era para acontecer apenas no final de junho.

O presidente Lula recebeu Fernández no Palácio da Alvorada, em um encontro de quatro horas. E discutiu com ele formas de ajudar a Argentina.
A Argentina enfrenta uma grande crise. A inflação anual chegou a 104,3% em março, a maior dos últimos 31 anos. O peso está perdendo valor diante do dólar e o país tem pouca reserva da moeda americana, dificultando a movimentação de importação.
A credibilidade no mercado internacional também está baixa, por isso Fernandez veio pedir ajuda. O temor de parlamentares brasileiros da oposição é que Lula autorize financiamentos no país com recursos do BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Uma das possibilidades divulgadas é de liberar crédito para 200 empresas que enviam produtos para a Argentina e a outra financiar obra do gasoduto, para que o gás chegue até o Brasil. Mas o presidente brasileiro não se comprometeu, disse que vai procurar uma solução, e que não vai financiar.
Diplomacia e repetição 675721
Diante desse ime, a cientista político Fernanda Arraes, da UDF (Universidade do Distrito Federal), que acompanhou a movimentação em torno dessa visita, afirma que o pronunciamento do presidente Lula reforçou a busca pela diplomacia.
“Várias vezes, durante discurso, o presidente se coloca como um intermediador em negociações, como com os BRICS e o FMI que ele cita algumas vezes. Ele faz uma menção a possibilidade inclusive de criação de um fundo nos BRICS e auxilio dos BRICS, mesmo com a Argentina não sendo membro do grupo”, afirma a especialista em política internacional.
Para a estudiosa do assunto, essas negociações vão se estender e podem colocar o Brasil como “um intermediador e um país que auxilia os países vizinhos”.
Já sobre a ajuda pratica para a Argentina, ela afirma que está sendo tomada com cautela.
“Tudo o que estamos vendo são acenos. Isso mostra protagonismo do Brasil, e chama a atenção de outros países. Até essa demora para tomar uma decisão é um aceno positivo, que mostra preocupação e uma decisão que não é precipitada, para o mercado internacional”, explicou.
Já o também cientista político Alexandre Rocha, que também tem acompanhado essas negociações do governo federal, acredita que é uma situação que o País já enfrentou em outros governos do presidente Lula.
“É algo que o governo Lula – 3ª edição – repete o que fez anteriormente. Pretende manter influência geopolítica na região, sobretudo com recursos do BNDES. Isso, em si, não é um problema, inclusive, pode ser até uma estratégia do próprio BNDES. A questão é como o financiamento é ofertado, em especial quem são os governos e os países considerados parceiros”, explicou sem posicionamento.
Porém, o professor afirma que no ado, não funcionou. “Esse formato gerou dúvidas sobre a credibilidade da estratégia, que priorizava governos do campo da esquerda. Ademais, vale destacar problemas e suspeitas de corrupção nos projetos financiados. Diante disso, caso se concretize mesmo esse financiamento à Argentina, o governo Lula deveria ter cautela para não repetir situações duvidosas do ado; sobretudo em não comprometer recursos públicos do BNDES em ações mais de cunho político do que estratégia de desenvolvimento econômico”, avaliou.