Enquanto as máquinas avançam para a construção dos 50 quilômetros do Contorno Viário da Grande Florianópolis, restos do ado de Santa Catarina estão sendo descobertos. São cerâmicas, artefatos em pedra e indícios da ocupação indígena recuperados graças ao Programa de Monitoramento, Resgate Arqueológico e Educação Patrimonial, implantado pela concessionária Autopista Litoral Sul e licenciado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Até agora, segundo conta a coordenadora de Meio Ambiente da Autopista Litoral Sul, Daniela Bussmann, já foram identificados seis sítios arqueológicos. Cinco no entorno das obras e um no traçado da rodovia. A descoberta mais recente aconteceu no final do ano ado.
Foram quatro meses de coleta detalhada de artefatos no trecho do Contorno que a pela região da Pedra Branca, em Palhoça, na Grande Florianópolis. “É um trabalho minucioso, que garante a preservação da história da região. Um compromisso e um legado que a obra deixa para a população e para quem vai utilizar as pistas no futuro”, comentou a coordenadora.
Todo o material encontrado nos sítios arqueológicos foi removido por meio de uma parceria da concessionária com a Unesc (Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina), sediada em Criciúma. No local há um laboratório de arqueologia onde as peças estão sendo devidamente catalogadas, estudadas e datadas. No futuro, devem compor um acervo voltado à história do contorno e das comunidades que viviam na região.
Expectativa por mais descobertas
Atualmente o maior volume de obras se concentra na região de Biguaçu, onde até hoje há comunidades indígenas. O programa de monitoramento mantém um profissional, técnico da área, à frente das máquinas. “Esse profissional vai acompanhando todo o trabalho e identificando os sinais da existência de algum material histórico. O trabalho é paralisado para que se confirme ou não que se trata de um sítio arqueológico”, explica Daniela.
Em Biguaçu, na região do Rio Inferninho 1, foi identificado, na fase chamada de prospecção arqueológica, o sítio mais significativo de todo o projeto. Ele foi reconhecido como sítio histórico, por apresentar vestígios do período colonial ou pós-colonial, como resquícios de construções, informa o arqueólogo Valdir Schwengber, responsável pelo trabalho no Contorno Viário de Florianópolis.
“Ao realizar o monitoramento, o arqueólogo em campo se antecipa a potenciais impactos sobre sítios arqueológicos. O objetivo não é apenas constatar a presença do sítio na área do empreendimento. É identificá-lo, mantendo a sua integridade para a preservação ou para a realização do seu estudo em condições mais próximas possíveis da forma como foi deixado, há milhares de anos”, garante.
Peças comprovam ocupação indígena
As demais áreas identificadas, inclusive a mais recente, bem no eixo da estrada, em Palhoça, são reconhecidas como sítios líticos. Neles as equipes encontraram evidências de artefatos em pedra e materiais cerâmicos, ambos associados ao período pré-colonial e que comprovam a ocupação por povos indígenas que habitavam o local antes da chegada dos colonizadores. Três das cinco ficam em Biguaçu, nas localidades de Santa Terezinha I, Rússia I, Rússia II e dois em Palhoça, no Aririú I e na região do condomínio Pedra Branca.
Os trabalhos na região da Pedra Branca impediram a obra de avançar sobre o trecho por quase três meses. Segundo a coordenadora de Meio Ambiente da Autopista Litoral Sul, não há como o traçado da estrada ser modificado a cada novo sítio arqueológico. O local fica interditado até que todo o material seja recolhido.
Outra parte do trabalho é realizada por meio do levantamento dos dados a partir de pesquisas arqueológicas regionais (histórico das pesquisas, registro de sítios, sínteses regionais, etc.) e de dados coletados em campo. O conteúdo também é apresentado para crianças e adolescentes no programa de Educação Patrimonial, que busca educar para preservar o patrimônio arqueológico, cultural e histórico, fortalecendo as relações das pessoas com suas heranças e bens culturais.