
O subdistrito do Estreito foi incorporado a Florianópolis há exatos 75 anos, completados em 1 de janeiro deste ano. Originalmente Arraial de Santa Cruz do Estreito, depois agem do Estreito, Estreito e João Pessoa – este último nome adotado em 1930, em homenagem ao líder paraibano assassinado naquele ano –, quando a parte continental ainda pertencia a São José.
Sobre a incorporação à Capital, o falecido historiador Iaponan Soares registrou em seu livro “Estreito – Vida e Memória”:
“Em 1943, o governo do Estado constituiu uma comissão para promover a revisão territorial de Santa Catarina, considerando alguns fatores como:
– Inferioridade de Florianópolis com relação a outras capitais brasileiras pela sua má composição territorial;
– A localização do distrito colocado em frente à capital, onde a Ponte Hercílio Luz demanda ao Continente, tem seu crescimento evidenciado em função do grande contingente de funcionários, empregados e operários que trabalham na Capital e ali residem;
– A pouca assistência istrativa que a prefeitura de São José tem dedicado ao Estreito “.
Outro decreto do mesmo ano (1944), também assinado pelo interventor Nereu Ramos, estabeleceu os limites entre a Florianópolis redesenhada e São José: “Começa na barra do rio Maruim, na baía Sul de Santa Catarina, segue por esta até a foz do rio Araújo, sobe por este até a sua nascente mais oriental, daí continua pelo divisor entre as água que correm para as baías Norte e Sul de Santa Catarina, até alcançar no morro do major Garriga a nascente do ribeirão Büchele, desce por este até a foz do rio Serraria”.
Mesmo tendo um território de apenas 12,1 quilômetros quadrados, ou seja, cerca de 3% dos 436,5 quilômetros quadrados da capital catarinense, a região continental ou por imensas transformações urbanas e sociais ao longo dessas sete décadas e meia em que pertence à Capital. De aspecto acanhado até os anos 1980, é hoje uma das áreas que mais se desenvolvem na Grande Florianópolis. Na última década tornou-se referência indispensável para a construção civil, com dezenas de novos prédios compondo um novo perfil urbano, desde o Jardim Atlântico até as praias de Coqueiros.

Identidades locais
Nos tempos do desmembramento, o Continente era chamado genericamente de Estreito. Todas as suas unidades internas eram subordinadas ao nome geral. A expansão urbana, da década de 1950 para frente, terminou por criar identidades locais bem distintas. Quem morava no Balneário era do Balneário – e lá se tomava banho de mar, sim, até os anos 1970 –, do Canto era do Canto, de Capoeiras era de Capoeiras e dos Coqueiros era dos Coqueiros.
O que também se definiu naturalmente, ao longo dos anos, foi a vocação de cada bairro. Capoeiras, Jardim Atlântico, Coloninha e Canto seriam mais residenciais, da mesma forma que toda a ponta de baixo do Continente, a partir de Coqueiros. O Estreito era o bairro “do comércio”, por onde se espalhavam pequenas atividades, ligadas ao ramo automotivo ou a móveis usados, bazares, lanchonetes. Não havia uma expressão econômica destacada.
O salto de crescimento a partir dos anos 1970, principalmente após a inauguração da segunda ponte – a Colombo Salles (1975) – é que provocou alterações mais visíveis em todo o Continente. Coqueiros resistiu durante bom tempo à questão comercial, mas, com a franca ocupação regional surgiram de forma quase espontânea as lojas mais necessárias ao cotidiano das pessoas – padarias, armazéns, farmácias. Poucos bairros escaparam desse fenômeno da urbanização, que de alguma forma integra o conceito de cidade: a mistura de residencial com comercial. Recentemente, a abertura da Avenida Poeta Zininho (Beira-mar Continental) foi responsável pela sacudida econômica mais expressiva do Estreito, fato que contribuiu para a explosão mais acentuada da construção civil.
Uma “devolução” territorial
A Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926, foi fundamental para integrar a Capital a São José. Até então, as duas cidades eram ligadas pelo transporte marítimo – tanto de ageiros, quanto de mercadorias. Mas a área mais próxima à Ilha, o atual Estreito, era considerado socialmente como subúrbio, onde residia a população mais pobre da região e o comércio tinha baixa expressão.
A incorporação de parte do território josefense a Florianópolis na verdade foi uma “devolução”: até 1833, Desterro ia da Ilha até o Planalto Serrano, em direção Oeste, e, além de São José, incluía São Miguel (hoje Biguaçu).

População expressiva
- Pelo Censo 2010, do IBGE, Florianópolis tinha 421 mil habitantes naquele ano. Desse total, aproximadamente 120 mil moravam nos bairros continentais, especialmente Estreito, Abraão, Coqueiros e Capoeiras. Numa projeção de 2018, do mesmo IBGE, a Capital teria 492.977 habitantes. Em proporção, o Continente teria cerca de 160 mil habitantes.
- Levantamento da ACIF (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), que tem uma sede regional no Continente, indicava há 10 anos que a região tinha mais de 600 estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços.
Bairros do subdistrito
A seguir, os bairros que integram a região continental de Florianópolis, conforme a divisão oficial registrada pelo Ipuf, por meio da Lei 5.504, de 21 de julho de 1999. Todos compõem o subdistrito do Estreito:
– Estreito
– Balneário
– Canto
– Jardim Atlântico
– Coloninha
– Monte Cristo
– Capoeiras
– Abraão
– Bom Abrigo
– Itaguaçu
– Coqueiros
Nota: não existe o bairro Novo Estreito, a expressão é apenas um recurso de marketing usado pelas construtoras. O que chamam de Novo Estreito é na verdade uma parte alta do Jardim Atlântico. O Bairro de Fátima, no entorno do Santuário de Fátima, tem apenas um sentido afetivo para os moradores.
Tripeiro, com orgulho
Entre os nativos mais velhos persiste a convicção “sou tripeiro, com orgulho”. Tripeiro é o apelido que se dá aos moradores mais antigos do Estreito. Sua origem é bem conhecida e curiosa. Até a década de 1960, o bairro sediava o matadouro municipal, onde os bois eram abatidos e carneados. As partes nobres eram separadas para venda aos moradores da Ilha. Os chamados “miúdos” eram distribuídos gratuitamente para a população local. Muitos ficavam à porta do abatedouro, à espera do “fato” (tripas), matéria-prima de um prato típico e popular, a dobradinha. Estes, que aguardavam o subproduto bovino, eram chamados de tripeiros. O que acabou virando um apelido genérico para designar os habitantes do bairro.