Aos 74 anos, a aposentada Eluisa Rosa de Souza não esquece a noite de 23 de setembro de 1966. Deitada na cama do hospital, na cidade de Imbituba, no Sul do Estado, atordoada pela dor e pelos remédios que estava tomando, ouviu o médico dizer ao marido e aos demais familiares que se preparassem para o pior. “Sei que ele entrou no quarto e me examinou. Disse que tinha feito o que podia e que voltaria pela manhã para a certidão de óbito. Depois só me lembro de acordar muito melhor no outro dia”, recorda.
Ao conversar com as freiras que cuidavam de Eluisa, o médico pediu que fosse dado conforto à família. Elas não pensaram duas vezes, levaram todos para capela e pediram a interseção da então Madre Paulina, que já era conhecida por curar os doentes desenganados. “Pela manhã ele me examinou de novo e ainda assim não acreditava, continuava dizendo que eu não sobreviveria, mas eu já estava bem e continuei bem”, acrescenta Eluisa.
“Só pela mão de Deus”, disse o médico, abrindo caminho para a comprovação do primeiro milagre da Madre Paulina. Eluisa, à época com 24 anos, era vítima de um aborto espontâneo e foi acometida de uma forme hemorragia interna. Durante a noite do dia 23, seu coração parou de bater por um longo período. E, sem nenhuma explicação científica, voltou a bombear o sangue normalmente, sem deixar nenhuma sequela. A congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição levou o caso à Roma, garantindo, 25 anos depois, a beatificação da 1ª Santa Brasileira. A canonização só veio 11 anos depois, com o segundo milagre.
Novas graças são catalogadas
Eluisa virou devota da Santa, mas à época nem imaginava que a sua vida aria por tamanha transformação. “Até hoje, onde vou sou convidada a dar o meu depoimento. Eu não achava que seria tão importante, que seria o auge e ao mesmo tempo o ponto de partida da história da Santa”, continua. A aposentada, de família humilde, se sente abençoada todos os dias e segue com fé a missão de angariar cada dia mais devotos para a Santa. No último final de semana, participou da programação alusiva aos 50 anos do milagre, na cidade de Imbituba. Em outubro estará em Nova Trento, para os 25 anos da beatificação.
No Santuário de Santa Paulina, na comunidade de Vígolo, em Nova Trento, onde Santa Paulinha começou o trabalho de atenção aos doentes e deu início à congregação religiosa, mesmo depois do milagre de Eluisa e da menina Iza Bruna Vieira de Souza, de Rio Branco (AC), que permitiu a canonização, os relatos de novos milagres continuam chegando. A coordenadora do Santuário, irmã Ana Tomelin, explica que como a Santa já foi canonizada, já não são mais realizadas investigações. “As pessoas que nos procuram, nós catalogamos e divulgamos pelos nossos meios de comunicação, para que sirvam de alento para as pessoas e de ânimo para os missionários”, acrescenta.
Fiéis demonstram gratidão
As Irmãzinhas da Imaculada Conceição não sabem dizer quantos relatos de graças e milagres já receberam desde a fundação da congregação. No Santuário, no entanto, os fiéis deixam a gratidão bem clara. Em placas, fotos e fitas coloridas na subida da Colina de Santa Paulina e no Salão das Graças, onde além desses materiais estão expostos os chamados ex-votos: peças em cera lembrando partes do corpo humano, curadas por interseção da Santa. No local, inaugurado em 2011, também estão aparelhos ortopédicos que se tornaram desnecessários, capacetes de motociclistas salvos de acidentes, casas em madeira simbolizando a conquista da casa própria, e milhares de cartas de famílias agradecidas pela cura de familiares.
Os relatos das graças são atualizados constantemente e podem ser lidos pelos visitantes. Nas cartas são encontradas histórias como a da menina Isadora da Cunha, de apenas 3 anos, que tinha problemas de visão e foi desenganada pelos médicos. A mãe conta na carta, de dois de março deste ano, que depois de pedir a ajuda da Santa, o problema se reverteu permitindo que a criança tenha uma vida perfeitamente normal. Milhares de outras mães, que alegam ter recebido a ajuda da Santa para engravidar, também deixam no local fotos dos bebês e de suas famílias, felizes com a conquista.