A pesquisadora e oftalmologista Carina Costa Cotrim, que nasceu em Belo Horizonte (MG) e mora em Florianópolis desde 2015, fez um estudo pioneiro no Brasil para recuperar a visão de idosos acometidos por uma doença bastante comum, mas ainda sem tratamento disponível. Trata-se da DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade), na forma seca, enfermidade que é a terceira maior causa de cegueira irreversível no país. A pesquisa foi realizada entre 2013 e 2015, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) e publicada na revista “Clinical Ophthalmology”, como resultado do mestrado de Carina.

No estudo, dez pacientes com mais de 50 anos e em estado avançado da doença macular seca foram submetidos a uma injeção intraocular, com 0,1 ml de células-tronco (contendo um milhão de células). O material foi retirado da medula óssea localizada no osso da bacia de cada paciente e em seguida as células-tronco foram selecionadas e injetadas nos olhos dos pacientes. “Tudo é feito no mesmo dia, com anestesia local, e o paciente sai apenas com um tampão e um colírio para evitar infecções”, explica Carina.
Os voluntários para receber o tratamento experimental foram selecionados em Ribeirão Preto e am um termo de responsabilidade. Eles aram por uma bateria de exames, antes e depois de se submeterem ao procedimento, para investigar se tinham alguma outra doença e o estado de suas retinas. Foram feitos exames de contraste, avaliação de cores e uma série de outros procedimentos.
As pessoas foram acompanhadas e examinadas no dia seguinte ao recebimento da injeção, e mais cinco vezes durante um ano. A maioria apresentou melhora na fixação de cores e na acuidade visual, alguns estabilizaram e nenhum paciente piorou. “É importante frisar que este é um estudo inicial, feito com apenas dez pessoas – portanto não é representativo de toda uma população, e com o objetivo de avaliar a segurança do uso dessas células como possível tratamento para a doença”, aponta a médica.
Essa segurança é avaliada por meio de testes periódicos para verificar se não houve complicações, infecções, descolamento da retina e desenvolvimento de outras células indesejadas, como tumores, por exemplo. “Sabemos que ainda estamos longe da cura, mas os resultados mostraram que há segurança no uso das células-tronco, com melhora da visão dos pacientes e que há uma esperança de tratamento no futuro para os casos avançados da doença”, avalia.
Outros estudos
De acordo com Carina Cotrim, outras pesquisas sobre a degeneração macular seca estão em andamento no mundo. Ela cita os estudos da pesquisadora Susanna Park, da Universidade da Califórnia (EUA), que também investiga o uso das células-tronco no tratamento da enfermidade e outros cientistas que avaliam o uso de células embrionárias. As células-tronco foram escolhidas por terem a capacidade de se transformar em outros tipo de células, resgatar células doentes e ainda liberar fatores de crescimento que melhoram o ambiente da retina.

A próxima etapa é ampliar os testes em novos estudos, para confirmar os resultados, mas por enquanto não há data para que isso ocorra. “Estou realizando outros dois estudos sobre doenças oculares e há uma série de burocracias que precisam ser cumpridas, respeitando a ética médica”, afirma.
O que é a DMRI
Como o próprio nome sugere, a Degeneração Macular Relacionada à Idade é uma doença degenerativa que acomete as pessoas idosas, a partir dos 50 anos. Ela gera uma perda ou diminuição da visão central e dificuldades na leitura, mesmo com o uso de óculos de correção e afeta 8,7% de idosos no mundo.
“É uma doença multifatorial, com caráter genético, mas que também pode ser ocasionada por fatores externos, principalmente em quem já tem a tendência genética”, revela Carina Cotrim. Os fatores externos incluem idade, radiação solar, tabagismo mesmo que ivo e dieta rica em gorduras e pobre em vitaminas, especialmente a luteína e a zeaxantina – que sabidamente afetam a saúde da retina.