Luiz Cancellier: uma trajetória de amor incondicional à UFSC 6r3j41

A morte do reitor encerrou uma carreira brilhante, que incluiu a forte militância estudantil em defesa da universidade e em favor da restauração democrática c554w

Foi uma semana difícil para os familiares, amigos, alunos, servidores e colegas de magistério do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, morto em circunstâncias trágicas na segunda-feira, dia 2, aos 59 anos. Este domingo, dia 8, deve ser marcado por mais emoção, com a missa de 7º dia programada para as 11h, no Templo Ecumênico da UFSC. Até sexta-feira centenas de pessoas já haviam confirmado presença na homenagem póstuma.

Cao, como era conhecido desde a infância, morreu depois de uma operação barulhenta da Polícia Federal, autorizada pela Justiça Federal, realizada no dia 14 de setembro. O reitor foi preso com mais seis pessoas, num mutirão policial absurdo, que reuniu mais de 100 agentes e delegados da PF de todo o Brasil. A acusação: supostos desvios no programa de bolsas do ensino a distância do curso de istração. A polícia divulgou um dado que foi mal compreendido: a investigação teria detectado R$ 80 milhões em irregularidades, quando na verdade esse é o valor orçado para o programa em todo o seu alcance (começou em 2006 e não foi renovado na gestão de Cancellier).

Acusado de suposta interferência istrativa nas investigações internas, Cao não ou a prisão, a humilhação pública e a desonra. Tinha convicção de sua inocência, mas desistiu de comprová-la, 18 dias após a Operação Ouvidos Moucos. Pesou em sua desistência a proibição judicial de frequentar o campus. A UFSC era a razão de viver do reitor desde 1977.

Assembleia de estudantes, fim da década de 1970. Cancellier aparece ao microfone. Atrás dele, o jornalista Hélio Costa, que, salvo engano, atuava na TV Cultura canal 6. À esquerda, bem no anto da imagem, o ex-deputado Manoel Dias, do PDT - Celso Martins/Divulgação/Direitos Reservados
Assembleia de estudantes, fim da década de 1970. Cancellier aparece ao microfone. Atrás dele, o jornalista Hélio Costa, que, salvo engano, atuava na TV Cultura canal 6. À esquerda, bem no canto da imagem, o ex-deputado Manoel Dias, do PDT – Celso Martins/Divulgação/Direitos Reservados


Carismático e dedicado

Mas quem era o Cao?

Um sujeito simples, cordato, conciliador, carismático, envolvente, irado pelos alunos, pelos ex-companheiros de movimento estudantil, pelos amigos e colegas de trabalho. Quem conviveu com ele sabe que era muito difícil não gostar do jornalista, do professor, do advogado, do ser humano Luiz Cancellier, classificado por uma amiga comum como “uma pessoa de plena bondade”.

Chegou à UFSC há 40 anos para estudar Direito.

Paralelamente aos estudos, ingressou na militância política contra a ditadura civil-militar de 1964. Ligou-se à Juventude do MDB, hoje PMDB, que formou um grupo – tendência, no jargão da esquerda – chamado Unidade, simpático ao PCB. Essa tendência rivalizava com outras, como os marxista-leninistas da antiga Ação Popular, marxistas independentes e trotskistas da Liberdade e Luta, a Libelu, além dos comunistas do PCdoB, então alinhado com a China, enquanto o PCB era pró-URSS.

Foram cerca de 20 estudantes, de todas essas tendências, que formaram a delegação catarinense rumo ao Congresso de Reconstrução da UNE, em Salvador, em maio de 1979. Cao estava entre os delegados.

Lutas democráticas

Lutando pelo Estado de Direito e pela restauração democrática, Cao continuou a militar na ala esquerda do MDB, aproximando-se de lideranças progressistas como Francisco Küster, Murilo Canto e Nelson Wedekin. Sua afinidade com Wedekin o fez abandonar o jornalismo diário em O Estado para trabalhar como assessor do candidato a senador, em 1986.

Depois de assessorar Wedekin no Senado, Cao conseguiu concluir a graduação em Direito e aplicou-se nos estudos e nos aperfeiçoamentos posteriores, como mestrado e doutorado, tudo na UFSC.

Professor da universidade, chegou a diretor do CCJ (Centro de Ciências Jurídicas), a plataforma de sua candidatura à Reitoria, em 2015. Foi uma luta difícil, mas ele conseguiu realizar o sonho de dirigir a UFSC, com apoio de ampla parcela dos professores, alunos e servidores.

Sua trajetória foi interrompida por um equívoco, um erro grosseiro desse espírito justiceiro e histérico que tomou conta do Brasil desde a instauração da Operação Lava Jato. A força do jato policial/judicial empurrou para o ralo alguns princípios mais elementares do Direito e da Justiça, como a presunção da inocência e o direito à ampla defesa: prende-se alguém suspeito, investigado ou acusado para, depois, buscar delações e provas que possam formar a culpa. Cancellier foi vítima desse açodamento policial e judicial: acabou condenado previamente, sem que tivesse tido a oportunidade de se defender das acusações que lhe pesavam. Logo ele, que sempre se apresentava assim: “Sou um homem do Direito”.

Nota – Há quem utilize a grafia “Cau”. Tenho adotado a grafia “Cao”, porque ele assinava suas matérias em O Estado, quando trabalhamos juntos, como “Cao Cancellier”. Em tempos posteriores, inclusive no exercício da Reitoria, ele mesmo se assinava Cau.

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