Ao lado das praias mais famosas do Norte da Ilha, o Canto do Lamim foi a primeira ligação entre Canasvieiras e Jurerê. Com pouco mais de três quilômetros e, curiosamente, asfaltada somente nas extremidades, a ruazinha histórica segue o mesmo percurso do rio Papaquara, que deságua poluído e assoreado na Estação Ecológica de Carijós. A falta de saneamento básico e de conservação do miolo sem pavimentação é só o que muda o semblante sossegado de quem mora lá.
“Isso aqui deixou de ser caminho de carro de boi faz tempo, mas alguns trechos ainda são como antigamente, cheios de pedras e buracos”, compara Darci Pascoal Pereira, 58, que na infância brincou no chão batido do último engenho de farinha do lugar. “Hoje, não sobraram nem as ruínas”, completa.
A proximidade com a especulação imobiliária que a partir dos anos 1980 transformou comunidades tradicionais do Norte da Ilha em bairros populosos e sem a infraestrutura adequada, também mudou o perfil do Lamim. A terra fértil, onde engenhos de farinha e cachaça eram rodeados por extensas roças de cana-de-açúcar, mandioca, milho e feijão, agora é ocupada basicamente por chácaras e sítios protegidos por cercas elétricas e câmeras de vigilância eletrônica.
“A maioria dos ricos só aparece aqui de vez em quando”, diz Darci, que mora a pouco mais de 300 metros da chácara do ex-deputado estadual Júlio Garcia, até onde vão o asfalto e a linha de ônibus da empresa Canasvieiras.
“Já cansei de pedir na intendência, mas faz tempo que não é feita manutenção neste trecho esburacado”, confirma o morador, que aproveita para fazer outra observação importante. Além de esquecida, a localidade é mal sinalizada, confundida com o loteamento do Lamim, que fica do outro lado, entre a SC-401 e a rua Francisco Germano da Costa. “Isso atrasa a entrega de correspondências e mercadorias”, acrescenta.
o mais curto fora do orçamento
Em Canasvieiras, a rua do Lamin começa na rua Francisco Germano da Costa (antiga rodovia Virgílio Várzea, a 50 metros do rio Papaquara). O primeiro quilômetro é asfaltado e ocupado basicamente pela comunidade tradicional. Segue, esburacada por mais um quilômetro e meio em área de mata atlântica degradada na encosta do morro da Galega, até a outra extremidade, também pavimentada, chegando em Jurerê Tradicional.
Apesar das condições precárias, a rua do Lamim encurta em pelo menos dois quilômetros o percurso entre os dois bairros, feito normalmente pela rua Tertuliano Brito Xavier.
A pavimentação, prometida nas duas campanhas eleitorais para a prefeitura vencidas pelo peemedebista Dário Berger (2004 e 2008), como lembra Antônio Tomaz, 66, que mora há 25 anos no Lamim de Jurerê, não está no orçamento da Secretaria Municipal de Obras.
O sistema elétrico precário, com apenas uma fase, é outra reclamação de quem mora na parte esquecida do Canto do Lamim. “Se ligar uma máquina mais potente, cai tudo”, revela Darci Pascoal Pereira, que, além do asfalto, espera melhorias na rede da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) para valorizar o lote que pretende botar à venda. “Atualmente, um terreninho com 360 metros quadrados custa pelo menos R$ 100 mil”, avalia.