“Ô abre alas, que eu quero ar”. Você já deve ter ouvido essa marchinha e talvez até tenha lido a frase cantarolando. Essa melodia famosa foi a primeira marchinha de Carnaval registrada no Brasil, em 1899. A autora Chiquinha Gonzaga fez a canção para a escola de samba Rosas de Ouro, do Rio de Janeiro. O sucesso foi tanto que se tornou a canção mais famosa da compositora e hoje, 124 anos depois, ainda é conhecida entre os brasileiros.
As marchinhas marcaram a história do Brasil e, de lá pra cá, o sucesso delas se espalhou por todo país, chegando inclusive em Florianópolis.

O compositor e músico André Calibrina conta que o concurso de marchinhas é antigo na região. Há décadas ocorrem os festivais de marchinhas, com cantorias criadas pelos blocos. “Não se pode falar em Carnaval sem falar em marchinha. Carnaval é a marchinha e samba. Os festivais de marchinha são muito antigos aqui na Ilha”.
Por isso, a Capital criou em 2001 o Concurso Carnavalesco de Marchinhas e Marchas-Rancho. Este ano acontece a 20ª edição o evento, que é separada em três etapas e a final acontece nos dias 15 e 16 de fevereiro, no Largo da Alfândega.
A competição seleciona composições inéditas e valoriza o talento dos artistas locais. Josué Costa, de 77 anos, participa do concurso desde as primeiras edições. “É importante manter a tradição das marchinhas, para que elas não se acabem como acabaram outras tradições. Como aconteceu com os carros alegóricos. Então, a gente pede que não deixem morrer as marchinhas”, comenta.
O medo de que a tradição se perca, segundo Costa, se dá pela falta de interesse dos jovens. “A gente vê um monte de coroa fazendo marchinha. Temos uma equipe de marcheiros que são pessoas com certa idade. A gente quer que as pessoas mais novas, os jovens, se interessem pelas marchinhas. Que se inscrevam e participem do concurso. Para que isso não se perca”.
Willian Farias, compositor e intérprete, participa pela quinta vez do concurso e diz que o evento é muito mais do que uma competição, mas também é palco para valorização da música local.
“O grande ponto do concurso vai além da competição, é reunir grandes nomes do Carnaval de Floripa. Nós temos a missão de representar a música de Carnaval realizada aqui e o concurso busca valorizar esses compositores”, explica.
Marchinha de Carnaval e marcha-rancho 2ki46
Willian Farias, manezinho da Ilha, participou de cinco edições e em três delas foi premiado, com duas marchinhas e uma marcha-rancho. Os dois estilos musicais apresentam algumas diferenças.
A marchinha é um tipo de música que lembra as melodias tocadas pelas fanfarras militares, daí o nome marcha. Com letras alegres, porém carregadas de reflexões, eram as marchinhas que embalavam os folguedos de rua e de salão do Carnaval durante quase todo o século 20 no Brasil.
Já a marcha-rancho é um tipo de música mais elaborada, andamento mais lento e com letras poéticas. “A marcha rancho surgiu nos princípios do século 20 para acompanhar os cordões, os blocos e ranchos, daí vem o nome, porque naquela época ainda não existia escola de samba”, explica Cristiana de Azevedo Tramonte, professora do Centro de Educação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e comentarista de Carnaval.
Segundo ela, as marchas-rancho “foram as primeiras formas cadenciadas, os primeiros sinais do surgimento do samba. A marcha-rancho é mais dolente”.
Quais critérios são avaliados? 2n1i48
Para definir qual a melhor marchinha ou marcha-rancho do concurso, os avaliadores classificam entre 5 até 10 pontos com os critérios de letra, melodia, afinação, criatividade e interpretação.
As músicas inscritas devem ser inéditas e originais, não pode ter sido apresentada em outro concurso, editada ou gravada comercialmente, mesmo em casos de CD independente. O tema é livre, mas não pode ter conotação política, religiosa ou de atentado ao pudor. Além desses critérios, qualquer irregularidade ou má qualidade da gravação desclassifica a canção.
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O concurso que já marca sua 20ª edição, acontece anualmente, com interrupção apenas entre os anos de 2021 e 2022, em decorrência da pandemia de Covid-19. No entanto, os músicos comentam que a falta de registros das edições é algo que poderia ser melhorado.
“O ideal seria fazer um registro a cada ano para a gente divulgar as marchinhas gravadas. Mesmo que não seja para vender, mas para quem sabe, entregar uns CDs nas escolas para as crianças e manter essa tradição. Isso a gente pede para o pessoal que promove o concurso de marchinhas, para que eles tentem marcar esse momento através de uma gravação”, comenta Costa.
Farias também pontua que esse é um pedido de toda classe artística da Capital. “A gente fala a tanto tempo que o ideal seria pegar pelo menos as finalistas desse concurso, as 12 melhores e gravar um CD. Que houvesse uma gravação para a posteridade e registrar todos os anos”.
Mas apesar dos desafios Costa defende que o evento “é cultural e é um evento que não deve ser desprezado, deve ser sempre lembrado porque é muito importante”.
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O que: Final do Concurso Carnavalesco de Marchinhas e Marchas-Rancho
Quando: 16 de fevereiro, a partir das 19h
Onde: Largo da Alfândega, em Florianópolis