Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no rock ‘n’ roll, gênero musical sempre tão dominado por homens. Levando a máxima ao pé da letra, a banda catarinense Dirty Grills, composta pelas integrantes Mariel Madiel, de 38 anos, e Jessica Gonçalves, de 37, nasceu na pandemia de Covid-19, em 2021, e hoje desponta no cenário independente com o projeto “Faz teus corre, irmão”, lançado em outubro de 2022.

As duas integrantes, que já eram amigas de longa data e se encontravam pelos palcos de Santa Catarina tocando com suas respectivas bandas resolveram fazer um som juntas, desejo que foi potencializado durante o período de isolamento social, em que os músicos estavam parados.
“Foi quase uma necessidade que fez a gente descobrir uma conexão única, assim. Em cada ensaio uma música nova saia e tudo sempre foi muito fluído. Tanto que conseguimos gravar nosso EP de estreia bem antes do primeiro show. Além disso, temos um combinado de que a Dirty Grills é uma banda que não pode ter estresse. Somos adeptas da leveza, da tranquilidade e da diversão”, conta Jéssica, natural de Florianópolis, vocalista e guitarrista da banda.

Paixão pela música 5t6e6e
As meninas da Dirty Grills contam como nasceu a paixão de ambas pela música. “Comecei a tocar guitarra quando era adolescente porque via meu pai tocar. Aí tive umas bandas na adolescência e, depois de um tempo, parei pra me dedicar aos estudos. Depois de um tempo voltei com tudo com a Cigarkills, banda que tenho até hoje e também toco na “Ghost Bitch”, explica Jessica.

A baterista Mariel, que é de Canoinhas, explica que também começou tocar na adolescência e nunca mais parou. “Minha mãe tocava violão na adolescência e tenho dois tios músicos. Acho que tudo isso influenciou. Já toquei na Somato, banda que teve uma relevância bem legal na época, e na Menage. Hoje, além da Dirty Girlls, também toco na Cosmic Void e Petit Mort, complementa.
Influências musicais 3f2v6
A Dirty Grills, que se apresenta em Florianópolis e já esteve em palcos de São Paulo e Curitiba, se referencia em grupos musicais de sucesso encabeçado por mulheres como L7, Sonic Youth, Hole, Distillers, Deap Vally e Bikini Kill. “Apesar de a gente repudiar a postura de alguns integrantes, o Queens of the Stone Age musicalmente também é uma grande influência pra nós”, comenta Mariel.
Os desafios das mulheres na cena musical o5s6g
Apesar de circularem em um meio musical composto por mulheres, Jéssica e Mariel apontam a representatividade como principal desafio da cena musical em Santa Catarina e em todo o país. “É muito difícil você ver a mesma quantidade de mulheres do que a de homens nos line-ups dos grandes festivais. A discrepância é absurda”, reclama Jéssica.
Mariel complementa que a defasagem não se dá por falta de artistas. “Há um bilhão de mulheres fazendo trabalhos incríveis em todos os segmentos artísticos. Até acho que o cenário está bem melhor do que já esteve, mas pense que se o artista homem trabalha um, a mulher artista precisa trabalhar dez para alcançar o mesmo patamar”, diz.
“Também noto que a abordagem de alguns festivais é a de colocar bandas formadas por mulheres para serem reconhecidos como eventos que promovem representatividade. E acabamos caindo em um lugar de que estão nos fazendo um favor. Enfim, os desafios para mulheres são inúmeros e infinitos, mas a gente está aqui para incomodar e se apoiar até o fim”, emenda a guitarrista.
Situações de preconceito revelam lado B da cena 5f5f4l
Para além da falta de representatividade, as integrantes da Dirty Grills também relembram situações de preconceito explícito de gênero. “O que mais lembro eram comentários do tipo ‘ah, toca melhor que muito homem’. Ou mesmo nos shows muitos homens que ficavam na frente do palco só para ver se ‘essa banda de minas sabe tocar mesmo’. São coisas que ainda acontecem”, lamenta Mariel, que também cita o mansplaining, ou seja, a famosa “palestrinha”, como algo recorrente.
Mas há luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo em que existem essas intercorrências, há mãos dadas e e. “Atualmente eu sinto um acolhimento muito grande da galera, apesar de tudo. Percebo que estamos vivendo um momento forte e intenso de bandas incríveis e de muita união e empatia pelo outro. Então, se você é mulher e quer ter uma banda, faça, comece. Do jeito que for, onde for, pra quem for, só faça sem pensar em mais nada além da tua vontade de estar ali. Chama as amigas, os amigos, monta tua banda e curte, que é o principal”, aconselha Mariel.