Sucesso nos anos 90, a banda brasileira “Mamonas Assassinas” marcou a história da música e por onde ou deixou uma legião de fãs. Mesmo 26 anos após o trágico acidente aéreo que matou os cinco integrantes da banda, os momentos ao lado dos ídolos seguem vivos.
Um grupo de fãs de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, não apenas assistiu ao show, mas ou um dia com os integrantes da banda durante a agem dos Mamonas Assassinas pelo município, no ano de 1995.

A psicóloga Grasiela Pavin Bohner e as amigas assistiram ao show da banda no dia 12 de novembro de 1995 e aram um dia todo com os ídolos. Alberto Hinoto (Bento), de 25 anos; Alecsander Alves (Dinho), 24; Júlio César Barbosa, 28; Samuel Reis de Oliveira, de 22, e Sérgio Reis de Oliveira, 26 anos, saíram direto de um programa de televisão para o show no pavilhão 01 do Parque de Exposições Tancredo de Almeida Neves – Efapi.
Cerca de 800 pessoas se reuniram e cantaram os sucessos dos Mamonas Assassinas. A banda esteve em Chapecó quatro meses antes do acidente na Serra da Cantareira, em São Paulo. Todos que estavam a bordo morreram. A tragédia encerrou a curta e meteórica carreira da banda, mas o sucesso ficou eternizado.
Vivos na memória 5w4c72
Grasiela e quatro amigas foram as privilegiadas de ar o dia ao lado dos ídolos em uma chácara da cidade. Ela lembra do sucesso meteórico da banda. “Não tinha quem não gostasse de Mamonas. Comecei a pesquisar sobre eles como podia, porque naquela época não tinha redes sociais, e me tornei fã.”

O dia ao lado dos Mamonas Assassinas ainda está vivo na memória de Grasiela. O dia na chácara teve futebol, piscina e muita diversão. “Eles eram muito simples. Eram o que transmitiam no palco. Pediram o que a gente gostava de fazer e como era morar em Chapecó. Faziam piada o tempo todo. Parecia que a gente se conhecia há muito tempo, eles tinham cuidado com os fãs e amos um dia muito especial”, afirma.
Após o dia todo na chácara, elas ainda foram convidadas pela banda para jantar com eles no hotel. “Eles contavam o tempo todo da vida e da carreira. Muito respeitosos e educados.”
Pedido especial 11241y
Grasiela ainda teve um momento marcante e inesquecível. Japa pediu de presente um moletom que ela havia acabado de comprar e ela teve uma surpresa. “Pensei: mas ele tem muitos moletons, deve estar pedindo só por pedir. Então ele me disse: — Me dá ele que um dia você vai me ver usando. Pensei: — Perdi o moletom, mas depois do acidente vi ele usando o moletom em uma exibição do programa MTV na Estrada. Ele estava no avião, dando entrevista, e com o moletom. Foi marcante”, recorda.
Atrás das câmeras 3h73r
Roberto Panarotto fazia o programa Voo do Morcego, através da produtora independente Skip Produções, e registrou toda a agem dos Mamonas por Chapecó. O programa foi um dos pioneiros na produção autônoma e o primeiro a ar na TV a cabo, e depois veiculado no SBT.
Os registros feitos pelo Voo do Morcego foram ao ar em um programa especial com uma hora e meia de duração, mostrando os bastidores, entrevistas e o show da banda no município.
A agem por Chapecó 192y20
Panarotto lembra que o show atrasou porque a banda estava ao vivo no Domingão do Faustão. Assim que terminou a participação deles no programa, pegaram um jatinho e voaram para Chapecó, mas o show acabou atrasando mais de uma hora. “O público presente era basicamente de jovens em geral, mas também se via muito a presença de famílias com crianças”, lembra.
Como eles tinham na agenda outros shows na região ou em outra localidade próxima, pela logística e deslocamento, ficava mais ível que eles permanecessem em Chapecó na segunda-feira após o show.

“Era um período em que a banda tocava praticamente todos os dias. E como o show foi até tarde, eles dormiram na manhã seguinte e após o meio-dia foram para uma chácara para ar o dia”, conta.
O objetivo era esse, eles solicitaram da produção um local para que eles pudessem descansar. A chácara na época era da família Davi e ficava no caminho para o atual parque industrial. “Nesse dia rolou um churrasco com futebol, piscina, algo mais simples mesmo. Eles não tiveram tempo para ear pela cidade ou visitar pontos turísticos”, recorda.
Quem eram Mamonas Assassinas por trás dos holofotes? 1n2x46
Panarotto conta que enquanto as câmeras estavam ligadas, tudo era diversão e os cinco mantinham esse pique de brincadeiras e curtição que era visto na televisão.
“Quando as câmeras desligavam, o clima era um pouco mais tranquilo, mas dava para ver que eram cinco jovens no auge de suas carreiras, se divertindo muito mais com tudo aquilo do que preocupados com alguma coisa. Eram pessoas simples, que não criava nenhum tipo de problemas ou exigências. Pelo contrário, faziam questão de atender bem o público.”
Ele cita que sempre gostou muito de música alternativa e de outros estilos para além do rock e lembra de conversar com eles sobre música. “Na época me chamou a atenção o fato de que eles não tinham um grande conhecimento musical. Eram bons músicos, mas o conhecimento deles parecia aos nomes mais conhecidos de bandas que se consolidaram como clássicos, mas nada além disso.”
Panarotto lembra que o cantor Tyto Livi que tem um compacto duplo lançado em 1977, procurou os Mamonas Assassinas no hotel e deu o disco de presente para eles. “Posteriormente eles entraram em contato com o cantor demonstrando interesse em gravar uma das músicas. Eles tocaram aqui em novembro e o acidente aconteceu cerca de 4 meses depois. E lógico que as negociações sequer chegaram a evoluir nesse sentido. Se a música realmente ia ser gravada ou não, daí são especulações.”

Registros 265w3h
Os registros da banda estão todos arquivados em VHS, tanto do show quanto da matéria que foi ao ar após a morte deles. Panarotto diz que mesmo ao nível nacional não existiam muitas cenas deles fora do circuito de shows, backstage, programas de tv.
“Algumas cenas deles em ambientes como o que gravamos aqui acabaram sendo geradas para a rede Globo utilizar no programa Globo Repórter especial que aconteceu na sexta-feira posterior ao acidente. Lembro que algumas cenas que gravamos com eles em frente ao hotel Bertaso (onde eles estavam hospedados) andando de bicicleta e cenas deles jogando futebol, foram utilizadas no programa”, diz.
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Análise musical 733l5g
Panarotto é um grande conhecedor de música e de arte. Ele cita que, o fato de conhecer a banda, o faz entender que eram caras bacanas conquistando um espaço e ainda sem muita noção do que estava acontecendo com eles.
Porém, ele achava o tipo de humor que eles faziam meio pasteurizado, ensaiado demais. “O show era bacana, as pessoas cantavam junto, tinha uma catarse coletiva pelo fato de ser uma banda que estava na mídia. O show era todo certinho, tinha um roteiro e os momentos certos da troca de figurino, de uma piada sonora, musical etc. Isso a indústria entendia como organização, mas no meu ponto de vista, achava tudo muito repetitivo.”
Segundo ele, de todo o repertório dos Mamonas Assassinas, a música “o Vira” tem uma proposta de letra muito boa, mas o restante das piadas seria o que hoje a nova geração chamaria de “piadas de tiozão” e que na época tinha um amigo que definia “piada de escritório”.

Na análise de Panarotto, o sucesso que aconteceu com os Mamonas é “um pouco” planejado para acontecer. Eles tinham um produtor (Rick Bonadio) que os conduziu num caminho musical e artístico. Esse direcionamento fez com que eles utilizassem como base um monte de músicas conhecidas, fizessem versões divertidas e engraçadas, tudo muito a partir desse lado criativo e explosivo do Dinho. “Lógico, com uma estrutura de lançamento por parte da gravadora. O próprio produtor deles já deu um monte de entrevistas falando sobre isso.”
De acordo com Panarotto, eles estavam na hora certa num momento certo. Mas frisa que não foram eles que inventaram esse estilo. Era uma movimentação da música que acontecia desde a década de 70, de bandas como “Joelho de Porco”, “Premeditando o Breque”, “Língua de Trapo”, só para citar algumas que lidavam com esse tipo de possibilidade de usar o humor na música e misturando estilos musicais.
Outro fator interessante é que eles faziam sucesso com um público infantil o que faz sentido porque o fato de aparecerem fantasiados, com um discurso mais ível e piadas mais populares fazia com que as crianças se afeiçoassem com eles. Mas elas não tinham noção dos temas e palavrões.
“Vivemos um momento muito complicado da música em geral e não sei se o que eles faziam não cansaria muito rápido. Até porque outras bandas se aventuraram na tentativa de ocupar o espaço deixado por eles e não deu certo. Tem uma máxima na história da música que tudo que sobe muito rápido, cai rápido também, era bem possível que a fórmula se desgastasse tão rápido quanto foi a ascensão deles.”