Quem conheceu a praia do bairro João Paulo, em Florianópolis, nos anos 1990 pode ter um pouco de dificuldade para reconhecer a paisagem nos dias atuais. A água clara e limpa e a faixa de areia que existia no balneário deram lugar a um cenário bem diferente, com urubus ocupando o espaço que era de garças e outros animais marinhos.

Silvani Ferreira é morador do bairro e conselheiro fiscal da Associação de Pescadores do João Paulo. Ele cresceu tomando banho na praia.
“A nossa praia era disputada para colocar uma toalha de tanta gente que vinha de todos bairros vizinhos aqui. A gente vivia da extração do berbigão. A gente tá vendo cada dia mais a nossa praia, a nossa orla sumir”, contou Ferreira.
Os moradores da praia do João Paulo dizem que a coloração da água mudou depois que um emissário submarino foi instalado na região. A estrutura joga para o mar o esgoto que é tratado na estação da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento).
Segundo Ferreira, “se você correr toda a nossa baía aqui, tanto a Norte como a Sul, você vai ver que a parte que tem mais água parada, que tem menos corrente marítima, é justamente onde eles colocaram esse emissário. Esse emissário, com certeza, tá num local totalmente impróprio”.
O engenheiro sanitarista Márcio Freitas também é morador do bairro e disse que essa degradação ambiental é resultado da falta de planejamento e fiscalização das ligações clandestinas de esgoto. Ele concorda que o emissário da estação de tratamento está mal localizado.
“É notável o aumento de sólidos sedimentáveis em função do lançamento da estação. A estação existente já foi notificada e já foi autuada por lançamento fora do padrão estabelecido pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina). A universidade inclusive tá estudando isso e, até onde ela foi, já identificou essa relação de causa e efeito do lodo da estação com esse lodo que está chegando aqui”, explicou o engenheiro.
Ao caminhar pela orla é possível sentir o mau cheiro. A comunidade pesqueira da região está preocupada com o futuro, uma vez que a Casan está em obras no bairro para ampliar a estação de tratamento. a preocupação é que mais lodo se acumule na praia.
As obras de ampliação da Casan estão em andamento no bairro. A estrutura vai aumentar a capacidade de tratar o esgoto de outros bairros da região. Enquanto a estação existente trata dez litros de esgoto por segundo, a nova estação de tratamento vai ampliar para 84 litros por segundo depois de pronta.
Segundo a gerente de Meio Ambiente da Casan, Andréia Senna, a estação “vai abranger os bairros do Saco Grande, João Paulo, Monte Verde e também as redes coletoras que já estão implantadas em Santo Antônio, Sambaqui e Cacupé”.
Sobre o lodo que está se formando na faixa de areia da praia, a Casan disse que isso é uma característica da região de baía e que não pode ser diretamente relacionado à presença de uma estação de tratamento. A engenheira informou que será feito um monitoramento de toda a área em dez pontos do bairro. As coletas de água já começaram a ser feitas.
“Foi feito todo um estudo, um levantamento da qualidade ambiental da região e, junto com o IMA, foi aprovado fazer a coleta da água da baía em sete pontos no entorno da estação ecológica de Carijós e em dois afluentes da bacia hidrográfica. Então, periodicamente, a gente tá fazendo essas análises, desde 2020, para ter esse diagnóstico ambiental”, contou Andréia.
Confira mais informações na reportagem do Balanço Geral Florianópolis.