Os pescadores do Campeche esperavam tainhas, corvinas, sardinhas ou anchovas. Tudo, menos aviões. Na década de 30, o bairro do sul da Ilha de Santa Catarina era isolado, habitado somente por pescadores e suas famílias. Com a instalação de uma escala de abastecimento da companhia sa Aéropostale, o local desértico ganhou um hangar, aeródromo, casa de pilotos e um posto de rádio. O líder da expedição pela América do Sul era Antoine de Saint-Exupéry, autor do best-seller “O Pequeno Príncipe”. Suas obras narram muitas de suas aventuras a bordo dos precários aviões da Aéropostale e sua relação com os companheiros. Em seis capítulos curtos em forma de carta, Saint-Exupéry fala sobre o exílio de um amigo na França em 1942. O livro “Carta a um refém” foi traduzido recentemente por Mônica Corrêa, paulista radicada em Florianópolis, e lançado em forma de e-book.
O livro foi escrito durante o período de exílio de Saint-Exupéry nos Estados Unidos. Na época a Europa era palco dos principais conflitos armados entre Eixo e Aliados em consequência da Segunda Guerra Mundial. A perseguição ao povo judeu era uma das marcas do regime do alemão Adolf Hitler, obrigando muitos judeus a viverem como refugiados. O amigo do autor, Léon Werth, era um deles. Vivendo no departamento francês do Jura, Werth recebeu um prefácio do piloto da Aéropostale para seu manuscrito “Trinta e três dias”, que acabou não incluído na obra. O texto, que seria intitulado de “Carta a um amigo” ou “Carta a Léon Werth”, foi publicado de fato em junho de 1943.

Tradutora de “Carta a um refém”, Mônica Corrêa é presidente da AMAB (Associação e Memória da Aéropostale), instituição responsável pelo resgate da memória do autor francês. O site da AMAB reúne artigos, livros e fotos das épocas de 1920 e 30, quando a empresa estava em maior atividade. No Brasil eram 11 escalas ao longo da costa, indo da capital do Rio Grande do Norte, Natal, até a gaúcha Pelotas. A obra “Voo Noturno”, de Saint-Exupéry, retrata os sobrevoos pelo país, os encontros com seus colegas e Florianópolis. Mônica já traduziu algumas edições do livro “O Pequeno Príncipe”, pela editora Companhia das Letras. Moradora de Florianópolis há 12 anos, Corrêa é a representante oficial da família de Antoine Saint-Exupéry.
Companhia Aéropostale
A companhia aérea sa foi fundada em 1918 por Pierre Georges Latécoère. Por anos realizou apenas trajetos entre Toulouse e Barcelona, até estender as viagens para Málaga. A bordo do avião BREGUET XV, pilotos como Jean Mermoz, Marcel Reine e Paul Vachet se arriscavam pelos céus. A aeronave tinha cabine aberta, alcançando altitude de até 5.000 metros com velocidade máxima de 150 km/h. Com a expansão a empresa começou a operar na América do Sul e nas colônias sas na África realizando entregas de postais. Em 1933, quatro empresas compraram a companhia que ou a se chamar Air .
Relação com os pescadores do Campeche
“Zeperri” era a forma como os pescadores da praia do Sul da Ilha se referiam ao piloto francês. A relação com os funcionários da Aéropostale é contada no documentário “De Saint a Zeperri” com roteiro de Delmar Duarte e dirigido por Branca Regina Rosa, com bases nas pesquisas de Mônica Corrêa. O relato de brasileiros e ses remonta o que foi trazido através de gerações pela tradição oral. A importância da agem de Saint-Exupéry pelo Campeche pode ser traduzida nas ruas em sua homenagem — Avenida Príncipe, Servidão Saint Exupéry e Servidão Aviação sa — e pelo casarão que recupera sua memória.
Serviço:
O quê: Livro “Carta a um refém”
Quanto: R$ 5,90 (pela Amazon)