Diversidade: Os avanços da literatura LGBTQIAP+ no Brasil 5k1f4k

Livros, autores e personagens que abordam a temática da diversidade ganham cada vez mais espaço no mercado editorial

Finalmente os livros com temáticas LGBTQIAP+ estão ganhando o destaque que merecem. As editoras brasileiras aos poucos abrem espaço para autores e obras com personagens representativos e encontram um grande público consumidor, principalmente entre os jovens.

Na lista da Publish News dos livros de ficção mais vendidos até o momento em 2022, quatro tratam de temáticas LGBTQIAP+. No entanto, observando o nicho específico de literatura infanto-juvenil, esse número sobe para oito.

Infelizmente, o cenário nem sempre foi esse. Demorou até que os personagens LGBTQIAP+ conquistassem espaço, não só na literatura, mas também no cinema e na televisão, isso quando não eram retratados de forma ridicularizada, estereotipada ou até vitimizada.

Um dos grandes autores da literatura mundial sofreu censura e até foi preso por tratar de temáticas LGBTQIAP+ – Foto: Library of Congress/Reprodução Internet/NDUm dos grandes autores da literatura mundial sofreu censura e até foi preso por tratar de temáticas LGBTQIAP+ – Foto: Library of Congress/Reprodução Internet/ND

Na história da literatura, muitos autores tentaram trazer a temática para suas obras, porém acabavam silenciados. Um dos grandes clássicos mundiais, “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, por exemplo, sofreu censura quando foi publicado em 1891.

O livro tinha referências à homossexualidade e insinuava um relacionamento entre dois personagens homens. Na época, a publicação deixou a sociedade horrorizada, por “atacar a moral e os bons costumes”.

Wilde sofreu até processo judicial e foi condenado à dois anos de prisão, porque na Inglaterra a homossexualidade era considerada crime (o que só mudou em 1967). Aliás, demorou até que a versão da história sem cortes e censura fosse conhecida pelo público. No Brasil, a primeira edição foi publicada em 2013, pela editora Biblioteca Azul.

Dificilmente os leitores conhecem Safo, mas a poetisa era aclamada na Grécia Antiga e falava sobre o amor entre duas mulheres – Foto: Safo Galeria/Tate Britain/Internet/NDDificilmente os leitores conhecem Safo, mas a poetisa era aclamada na Grécia Antiga e falava sobre o amor entre duas mulheres – Foto: Safo Galeria/Tate Britain/Internet/ND

O apagamento das pessoas LGBTQIAP+ na literatura é ainda mais antigo. Antes mesmo do nascimento de Cristo, por exemplo, já existiam poemas lésbicos, informação desconhecida pela maioria dos leitores. A poetisa mais famosa do período foi Safo, que viveu na Grécia no século XI a. C.

Na Grécia, não havia preconceito contra relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Safo era valorizada na comunidade artística, sendo inclusive comparada ao grande poeta épico Homero. Lamentavelmente, boa parte dos textos da poetisa se perderam com o tempo.

No Brasil, a literatura LGBTQIAP+ viveu muitos episódios tristes. “O Bom Crioulo”, de Adolfo Caminha, é considerado o primeiro livro brasileiro com romance homossexual. Publicada em 1895, a obra foi até chamada de “maldita” porque o protagonista era gay, negro e ex-escravo.

Anos depois, com a instauração da Ditadura Militar no país, em 1964, os casos de censura aumentaram espantosamente. O governo vetou oficialmente mais de 300 títulos, que eram considerados “imorais, perigosos e subversivos”. Muitos deles abordavam temas LGBTQIAP+.

Cassandra Rios foi sucesso de vendas durante a Ditadura, mas seus livros foram censurados e se perderam com o tempo – Foto: Cassandra Rios/Reprodução Internet/NDCassandra Rios foi sucesso de vendas durante a Ditadura, mas seus livros foram censurados e se perderam com o tempo – Foto: Cassandra Rios/Reprodução Internet/ND

Uma das autoras mais perseguidas pelos militares foi Cassandra Rios, que bateu recorde de obras censuradas: 36 títulos. Lésbica assumida, publicava histórias eróticas e era extremamente popular entre o público leitos. Cassandra foi a primeira escritora brasileira a atingir a marca de um milhão de livros vendidos.

Assim como Safo, Cassandra é pouco lembrada atualmente, já que sua produção literária foi retirada de circulação, como explica o doutor em Literatura Jair Zandoná. “Essas obras tinham uma cultura de massa, mas foram escritores que, ou foram censurados pelos órgãos competentes durante a ditadura, ou com o ar do tempo, por conta da temática, dessa personificação de quem eram e quem são, não são reeditados”.

Por muito tempo, autores, personagens e livros LGBTQIAP+ permaneceram apagados, contribuindo para aumentar o preconceito e a intolerância e fazendo com que pessoas que fogem dos padrões da heteronormatividade não consigam se enxergar nas narrativas, como comenta a psicóloga Bruna Alves.

“Se você pega hoje, abre um livro, consciente de uma sociedade diversa e não encontra ninguém como você na história, parece que você não existe, é apagado da história, não só do livro, mas também do mundo”.

Entretanto, ao abrir um livro e identificar um personagem que a pelos mesmos dramas e sente como a gente, percebemos que não estamos sozinhos, porque alguém conseguiu escrever uma história sobre aquilo. É isso que vem gradativamente acontecendo no mercado editorial.

O autor David Levithan já publicou quase dez livros com personagens LGBTQIAP+ – Foto: David Levithan/Grupo Editorial RecordO autor David Levithan já publicou quase dez livros com personagens LGBTQIAP+ – Foto: David Levithan/Grupo Editorial Record

As estantes das livrarias estão cada vez mais cheias de livros protagonizados e escritos por pessoas LGBTQIAP+. Pode-se dizer que esse movimento começou em 2014, quando as obras do escritor norte-americano David Levithan chegaram ao Brasil. São títulos que falam de relacionamentos de forma leve e divertida, voltados para o público jovem.

Desde então, muitos livros fizeram sucesso, inclusive de autores nacionais. Um deles é “Bem-vindos à Rua Maravilha”, de Gabriel Mar, que alcançou o topo da lista de mais vendidos da Amazon. A história conta os bastidores da montagem de um espetáculo musical e traz temas como amizade, autoestima e descoberta da própria identidade.

O livro de Gabriel Mar chegou ao topo dos mais vendidos da Amazon na categoria romance LGBTQIAP+ – Foto: Gabriel Mar/Reprodução Internet/NDO livro de Gabriel Mar chegou ao topo dos mais vendidos da Amazon na categoria romance LGBTQIAP+ – Foto: Gabriel Mar/Reprodução Internet/ND

“É um gancho bacana para mostrar para outras pessoas, que estão fora do espectro da representatividade, como que às vezes essas discriminações podem ser sutis, como só um olhar já é suficiente para causar um incômodo gigantesco em outra pessoa, como uma palavra dita na brincadeira consegue causar um trauma grande em alguém”, relata o autor.

Os escritores LGBTQIAP+ encontraram na Internet um refúgio para divulgar suas obras. Livros com essa temática bombam no TikTok, no YouTube e no Instagram. Muitos até começam publicando os livros em plataformas como o Wattpad, até que os direitos são comprados por uma editora.

Conectadas é sucesso no mercado nacional e começou publicando histórias em redes sociais – Foto: Clara Alves/Reprodução Internet/NDConectadas é sucesso no mercado nacional e começou publicando histórias em redes sociais – Foto: Clara Alves/Reprodução Internet/ND

É o caso de Clara Alves, autora do romance “Conectadas”. As primeiras histórias foram publicadas no extinto Orkut e hoje o livro figura na 15ª posição da lista de mais vendidos infanto-juvenil de 2022 da Publish News. Lançado em 2019, conta a história de duas garotas que se conhecem em um jogo on-line e acabam se apaixonando.

Outro autor nacional que ganhou o mercado editorial, não só brasileiro, mas também internacional, é Vitor Martins. O primeiro romance, “Quinze dias”, lançado em 2017, já ganhou edição em inglês e alemão. Ele tem outras duas obras publicadas, “Um milhão de finais felizes” e “Se a casa 8 falasse”.

No exterior, a demanda por narrativas com representatividade é ainda maior, tanto que a maioria das obras LGBTQIAP+ publicadas aqui no país são estrangeiras. O caso mais emblemático é o de “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, de Casey McQuiston. O livro foi um fenômeno de vendas e já ultraou as 100 mil cópias no Brasil.

Com mais de 500 mil leitores no Good Reads, o livro conta a história do filho da presidente dos EUA, Alex, e do príncipe mais adorado do mundo, Henry. O que começa como uma relação de ódio, logo pode se transformar em amor.

Outro fenômeno LGBTQIAP+ recente é a série em quadrinhos “Heartstopper”, que ganhou uma adaptação que foi sucesso de público e crítica na Netflix. Os três primeiros volumes figuram no ranking de mais vendidos deste ano no Brasil, com mais de 50 mil exemplares.

“Heartstopper” acompanha a vida de Charlie, um estudante que se assumiu gay e ou a sofrer bullying. Depois de conhecer o popular Nick, os meninos desenvolvem uma amizade profunda, apesar de Charlie acreditar estar se apaixonando pelo amigo.

*Com informações do Trabalho de Conclusão de Curso “Papo Literário: produção de conteúdo jornalístico sobre literatura e mercado editorial para o YouTube”, de Fernando Perosa e Pâmela Schreiner

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