Criado por mulher, dominado por homens: por que autores prevalecem no gênero ficção científica? 1f3g4s

Obra precursora do gênero foi escrita por Mary Shelley, em 1818, e várias mulheres publicaram grandes livros de ficção científica desde então; conheça algumas autoras 575s6s

Quando você pensa no gênero de ficção científica, quais autores vem à mente? Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, George Orwell e Philip K. Dick são alguns dos primeiros nomes que aparecem se você pesquisar pelo termo no Google.

A lista de escritores célebres é grande e majoritariamente masculina. No buscador, a primeira mulher citada, Ursula K. Le Guin, aparece na 9ª posição. Mas por que os homens continuam dominando um gênero literário que foi concebido por uma mulher?

Mary Shelley foi a precursora da ficção científicaMary Shelley foi a precursora do gênero de ficção científica – Foto: Divulgação/ND

“Frankenstein”, publicado por Mary Shelley em 1818, é considerada a primeira obra de ficção científica da história da literatura. O livro já ganhou inúmeras adaptações e todos certamente conhecem o monstro horripilante construído em laboratório.

Mary Shelley escreveu o livro quando ainda era adolescente, em um contexto ideal para o surgimento de uma obra tão marcante: ela e o futuro marido estavam de férias na companhia dos escritores Lord Byron e John Polidori.

Eles se desafiaram a escrever histórias de fantasmas. A única mulher do grupo teve dificuldades para pensar em um enredo e foi a última a concluir a narrativa.

Mary teve uma visão de um estudante dando vida a uma criatura, que depois se tornou o plot de “Frankenstein”.

A primeira edição recebeu críticas desfavoráveis, porém, caiu no gosto dos leitores. Em primeiro momento, no entanto, o sucesso não foi atribuído à Mary, já que o volume foi lançado sem creditá-la como autora.

Naquele período havia pouco espaço para as mulheres no mercado editorial. A autoria só foi reconhecida na segunda edição, em 1823.

Quando descobriram que o livro havia sido escrito por uma mulher jovem, os jornais não pouparam críticas e chegaram a considerar o romance irrelevante, como mostra uma resenha do British Critic.

“Isso é um agravante daquilo que é a falha predominante do romance. Mas se nossa autora pode esquecer a delicadeza de seu sexo, isso não é motivo para fazermos o mesmo. Portanto, dispensaremos o romance sem mais comentários”, publicou o jornal.

Gênero em lenta transformação 39q2i

Infelizmente, a publicação de “Frankenstein” não abriu tantas portas para as mulheres.

Outro grande nome da ficção científica, Alice Sheldon também começou escrevendo sob um pseudônimo masculino e foi recebida com entusiasmo pela crítica, na década de 1960.

Alice Sheldon usou pseudônimos masculinos para publicar os primeiros livros – Foto: Divulgação/NDAlice Sheldon usou pseudônimos masculinos para publicar os primeiros livros – Foto: Divulgação/ND

“Um nome masculino me parecia uma boa camuflagem. Tinha a sensação de que um homem poderia errar sem ser julgado”, relatou a autora em uma entrevista.

Ela manteve o pseudônimo até o fim dos anos 1970, mesmo com leitores especulando que seria uma mulher escrevendo as obras, por conta das temáticas retratadas, como o feminismo.

Com o nome de “James  Tiptree Jr.”, Alice venceu dois dos prêmios mais importantes da ficção científica. Quando revelou sua identidade, assim como Mary Shelley, acabou perdendo prestígio no meio literário.

Demorou um pouco, mas o cenário começou a apresentar mudanças e as mulheres aram a ser reconhecidas como escritoras de ficção científica de qualidade. Prova disso são as últimas edições do Prêmio Hugo, o mais importante do gênero.

Na categoria romance, as mulheres dominaram a edição de 2022: foram quatro, dos seis finalistas. O troféu ficou com a autora Arkady Martine, por “A Desolation Called Peace”, ainda sem tradução para o português.

Nos últimos anos, adaptações audiovisuais ajudaram a popularizar livros escritos por mulheres. É o caso de “O conto da aia”, de Margaret Atwood, publicado em 1985 e adaptado em série pelo Hulu em 2017.

Na obra, um golpe militar transforma os Estados Unidos em uma nação regida por princípios cristãos. As mulheres perdem praticamente todos os direitos e são divididas em categorias: esposas, martas (empregadas domésticas) e aias (fins reprodutivos).

A história é extremamente chocante e dolorosa. Acompanhamos a rotina de Offread (que na verdade se chama June, mas é tratada como propriedade de Fred), uma aia que é abusada sexualmente do seu comandante.

A impressão de novas edições, principalmente de luxo, também fez muitos leitores conhecerem ficções científicas escritas por mulheres. “Metrópolis”, de Thea Von Harbou, por exemplo, ganhou um exemplar comemorativo de fazer brilhar os olhos.

Se você ainda não se aventurou por algum universo criado por autoras mulheres incríveis, acompanhe as dicas abaixo!

Ursula K. Le Guin 2f1h5s

A autora norte-americana é famosa por obras de ficção especulativa, mas também escreveu ficção científica. Ursula publicou o primeiro livro em 1959 e até sua morte, em 2018, lançou mais de 20 romances e cerca de 100 contos.

Ursula publicou mais de 20 romances e se destacou no gênero de ficção científica – Foto: Divulgação/NDUrsula publicou mais de 20 romances e se destacou no gênero de ficção científica – Foto: Divulgação/ND

Ursula ganhou três vezes o Prêmio Hugo de melhor romance na década de 1970. A autora aborda temas complexos, como gênero, política, filosofia, religião e até sexualidade. Seu trabalho de maior sucesso e que a consagrou na ficção científica foi publicado em 1969.

“A mão esquerda da escuridão” conta a história de um terráqueo enviado a outro planeta com o objetivo de convencer a população a se juntar à confederação informal interplanetária.

Esse personagem, chamado Genly Ai, tem dificuldade de entender a cultura daquele povo: eles são ambissexuais, ou seja, não têm sexo fixo.

Também vale a pena ler: “Os despossuídos” (1974) e “O feiticeiro de Terramar” (1968)

Margaret Atwood 3x3l10

A canadense Margaret Atwood coleciona prêmios e honrarias por sua escrita: recebeu até a Ordem do Canadá, considerada a mais alta distinção do país. A autora escreve ficção científica e ficção especulativa.

Margaret aborda o feminismo em suas obras e coleciona prêmios literários – Foto: Divulgação/NDMargaret aborda o feminismo em suas obras e coleciona prêmios literários – Foto: Divulgação/ND

A autora lançou o primeiro livro em 1969 e tem um vasto acervo de romances, poesias e contos. O título mais conhecido da autora, como já comentei, é “O conto da aia”, publicado em 1985.

Por conta do sucesso da série, Margaret lançou uma continuação em 2019. “Os testamentos” se a 15 anos após os eventos do primeiro livro. O regime teocrático começa a dar sinais de queda e acompanhamos a vida de três mulheres que vão se entrelaçar.

O feminismo é um tema recorrente em seus livros e a autora já declarou ser feminista publicamente. As protagonistas são geralmente mulheres fortes, corajosas e guerreiras, que revertem a submissão do patriarcado.

Também vale a pena ler: “Vulgo Grace” (1996) e “Oryx e Crake” (2003)

Octavia Butler 5o5k6i

Racismo e feminismo são as temáticas centrais da obra da norte-americana Octavia Butler, que começou a escrever após participar de um programa de escrita voltado à autores de minorias.

Octavia chegou ao Brasil recentemente e tem como temáticas recorrentes o racismo e o feminismo – Foto: Divulgação/NDOctavia chegou ao Brasil recentemente e tem como temáticas recorrentes o racismo e o feminismo – Foto: Divulgação/ND

A autora é consagrada nos Estados Unidos, inclusive conquistou o Prêmio Hugo na categoria conto em 1984. Entretanto, sua obra chegou ao Brasil há pouco tempo, em 2017.

“Kindred – Laços de Sangue”, um dos livros mais famosos da autora, já vendeu mais de 500 mil cópias no mundo todo. A história acompanha uma mulher que consegue viajar no tempo, para o século XIX, quando os EUA ainda viviam o regime escravocrata.

O livro é uma ficção científica com cunho social e, além do racismo, trata de assuntos como escravidão, amor e ódio.

Também vale a pena ler: “A parábola do semeador” (1995) e “Despertar” (1987)

Becky Chambers t3q3c

A autora mais nova da lista tem apenas 37 anos e dois Prêmios Hugo na estante. A norte-americana Becky Chambers publicou o primeiro livro de forma independente em 2014 e conquistou os leitores.

Becky já publicou romances, novelas e contos, e já ganhou dois Prêmios Hugo – Foto: Divulgação/NDBecky já publicou romances, novelas e contos, e já ganhou dois Prêmios Hugo – Foto: Divulgação/ND

Becky já nasceu rodeada por ficção científica: seus pais são cientistas espaciais e ela é fã de Stark Trek. No Brasil, seus livros são publicados pela editora DarkSide.

A série que teve início com o título “A longa viagem a um pequeno planeta hostil”, lançado em 2014, conta a história da construção de um túnel espacial que vai permitir ao planeta do título participar de uma aliança galáctica.

O livro aborda temáticas como racismo, força feminina, poliamor, novos conceitos de família e amizade, por meio de personagens que geram empatia com os leitores.

Também vale a pena ler: “A vida compartilhada em uma irável órbita fechada” (2016) e “Os registros estelares de uma notável odisseia espacial” (2018)

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