
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) se manifestou sobre o retorno de Claudia Tavares para a prisão, no sábado (31), após dois anos em liberdade.
Claudia é acusada de matar o marido, Valdemir Hoeckler, de 52 anos, e congelar corpo em um freezer no interior de Lacerdópolis, no Meio-Oeste de Santa Catarina, em 2022.
A decisão foi do STJ, que atendeu a um pedido do Ministério Público de Santa Catarina contra a liberação dela, em agosto de 2023.
Embora tenha reconhecido a gravidade do crime investigado, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) concluiu que seria suficiente a aplicação de medidas cautelares.
Então, o MPSC recorreu ao STJ, com o argumento de que, mesmo que estivesse supostamente vivendo em um ambiente de violência doméstica e familiar, há evidente desproporcionalidade entre o contexto e o crime praticado contra o marido. “Por isso há a necessidade de garantir a ordem pública com a prisão”, afirmou o MPSC.
A decisão do STJ confirmou que a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares não se harmoniza com as peculiaridades do caso concreto.
“[…] diante da gravidade da conduta imputada à recorrida, que teria praticado o homicídio contra seu marido, de forma premeditada, após ministrar medicamento que impediu ou ao menos dificultou a defesa dele, seguido de prática delitiva que teve por objetivo assegurar a ocultação do homicídio, já que a investigada escondeu o corpo da vítima em refrigerador da residência, ao tempo que registrou o desaparecimento, mantendo-se firme na versão, o que dificultou o trabalho investigativo”.
O objetivo do MPSC é que a ré permaneça presa preventivamente até ser julgada por homicídio – qualificado por asfixia e emprego de recurso que impossibilitou a defesa -, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

Claudia se entregou voluntariamente 2p6k1x
Cláudia respondia ao processo em liberdade desde agosto de 2023, mediante o cumprimento de algumas medidas cautelares. A defesa afirmou que irá recorrer da decisão e acredita que o STJ voltará a conceder a ela o direito de aguardar o julgamento em liberdade.
O advogado criminalista Matheus Molin explica que, durante o período em que Cláudia esteve em liberdade, ela cumpriu rigorosamente todas as medidas impostas pelo juízo da comarca de Capinzal.
Segundo ele, Cláudia nunca se esquivou da Justiça e tem buscado, incansavelmente, contar sua história e provar que foi vítima de violência doméstica durante os 20 anos de relacionamento.
“Infelizmente, precisou matar para não morrer. Não podemos esquecer que Cláudia, ao longo de duas décadas de convivência com Valdemir, vivenciou e sofreu todos os tipos possíveis de violência doméstica — física, moral, psicológica, financeira e, por vezes, até sexual — além de ter sido privada do convívio com a filha do casal”, destacou Molin.
Ainda segundo o advogado, a decisão causa, sim, estranhamento à defesa. “É importante deixar claro que essa decisão é fruto de um recurso interposto pelo MPSC em agosto de 2023, contra a decisão do TJSC que concedeu liberdade a Cláudia.”

De acordo com Molin, o recurso tramitava desde 2023 e, na última sexta-feira (30), o STJ acolheu o pedido apresentado pelo Ministério Público. “A defesa entende que, além de absurda, essa decisão é totalmente ilegal.”
O advogado afirma que Cláudia cumpriu todas as medidas cautelares impostas, utilizou tornozeleira eletrônica e manteve atividade profissional, inclusive nos três períodos do dia. “Agora, neste novo recurso que será interposto, a defesa irá novamente mostrar ao Judiciário tudo que Cláudia sofreu em sua vida e os motivos pelos quais ela merece aguardar esse julgamento em liberdade.”
Cláudia também se manifestou sobre a nova prisão e ressaltou que se apresentou voluntariamente para o cumprimento da ordem. “Assim como da outra vez, eu me entreguei. Desta vez também vou me entregar, e que a Justiça seja feita”, afirmou.
Ela reforça que sairá de cabeça erguida, pois acredita em sua absolvição. “Quero que todos conheçam cada detalhe da minha história e entendam o porquê de tudo que aconteceu”, declarou.
Claudia é acusada de matar marido e congelar corpo 1n35h
O corpo de Valdemir foi encontrado na noite do dia 19 de novembro de 2022. Ele estava desaparecido desde o dia 14, quando não apareceu para trabalhar. As buscas iniciaram no dia 15, nas redondezas do local onde teria desaparecido. Policiais militares, Corpo de Bombeiros, moradores e voluntários participaram das buscas.
No dia 18 de novembro a esposa da vítima foi até a Delegacia de Polícia Civil prestar depoimento. Segundo o delegado de Polícia Civil, responsável pelas investigações, Gilmar Bonamigo, algumas lacunas ficaram em aberto, sem respostas plausíveis.
“Em seu depoimento, a mulher de Valdemir consentiu e autorizou a realização de perícia no interior da sua casa para a noite do dia 19. No entanto, horas antes da perícia chegar ao local, a polícia tomou conhecimento de que a esposa da vítima havia fugido. Alguns moradores informaram que a casa havia sido trancada como nunca havia ocorrido antes”, disse o delegado.
Diante dos fatos, a polícia começou a acreditar que o corpo poderia estar ocultado na própria casa. Após iniciar as buscas, foi encontrado congelado no interior do freezer.
Em entrevista ao canal no YouTube do roteirista Roberto Ribeiro, ex-apresentador do Programa Investigação Criminal, a mulher confessou o crime e deu detalhes de como matou o marido, bem como da vida do casal. Ela revelou que vivia uma pressão psicológica constante no casamento.
Claudia afirmou que decidiu tirar a vida do companheiro por não ar mais ser agredida, perseguida e humilhada pelo homem.
“Ele não me deixava fazer nada, simplesmente eu não tinha vida própria. Eu não podia sair com as amigas. Eu ia ao salão fazer o cabelo e tinha que sair com o cabelo molhado, porque ele estava me enchendo o saco por estar demorando. Tinha que correr contra o tempo, a minha vida sempre foi sob pressão”, afirmou Claudia.
Ainda segundo a mulher, Valdemir exigia que ela mandasse fotos e fizesse videochamada para confirmar onde estava quando tinha compromissos do trabalho à noite. “Não podia me arrumar para essas ocasiões, porque não eu ia tá me arrumando para outro (sic)”.

Claudia se entregou à polícia na tarde do dia 21 de novembro, um dia depois da entrevista. Durante depoimento na delegacia, a mulher, segundo o delegado, não mostrou nenhum tipo de arrependimento, e mostrava-se tranquila pelo fato de ser presa, disposta a cumprir a pena, pois depois deste período reclusa não teria mais ninguém que pudesse oferecer perigo.
Essa informação também foi revelada por Claudia na entrevista ao escritor Beto Ribeiro. “Vou estar presa, mas estou leve. Tive que tomar essa decisão, porque vi que era ele ou eu. Ele não ia me deixar em paz nunca”.