Dia 28 de agosto de 2020: a data vai ficar marcada para sempre como o dia em que a cidade de Canelinha, na Grande Florianópolis, tomou conta dos noticiários nacionais e internacionais. O motivo, a morte de uma jovem grávida e o roubo do bebê que estava em sua barriga.
Rozalba Maria Grime, de 27 anos, foi imediatamente acusada do crime. Ela havia sido a última pessoa a ver a vítima, uma jovem de 24 anos. A grávida acreditava que iria para um chá de fraldas organizado pela colega. No entanto, ela foi levada até uma cerâmica abandonada, longe de onde o suposto evento deveria acontecer.
Depois, em depoimento, Rozalba confessou o crime, e contou aos investigadores que havia escolhido a vítima por ela estar gestando uma menina, e ter o período de gestação parecido com o que a ré dizia estar.

Até então, a acusada sustentava uma mentira, de que estava grávida do primeiro filho. Rozalba, no entanto, havia perdido a criança meses antes, mas não contou a ninguém: nem ao marido, nem à família ou às amigas.
Para sustentar a mentira, ela precisava de uma criança, e fingir um parto que nunca aconteceu. Por isso, a ideia de matar uma colega, professora da educação infantil, roubar o bebê e criá-lo como se fosse seu.
O crime 636k1i
Rozalba teria levado a vítima até a cerâmica. O primeiro golpe fez a jovem, grávida de oito meses, desmaiar: uma tijolada atrás da cabeça. Depois, com um canivete, ela teve sua barriga cortada para forçar o parto.
Depois, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) atestou que a vítima morreu devido à perda de sangue em excesso, durante o parto forçado. A bebê, arrancada da mãe de forma brutal, também foi ferida no processo.
Carregando a criança, Rozalba foi até o hospital da cidade, onde alegou que ou por um parto emergencial na beira da estrada, com a ajuda de um bombeiro, e que ele, no processo, cortou a criança.
Os médicos estranharam a história: Rozalba não apresentava características físicas de uma mulher imediatamente após dar a luz. Foi quando a Polícia Militar foi chamada. Ela e o marido foram presos em flagrante no dia seguinte ao crime, acusados de homicídio e sequestro de incapaz.

Julgamento 12tv
Na Delegacia de Polícia Civil de Tijucas, Rozalba Maria Grime confessou o crime. Presa, ela foi encaminhada ao Presídio Feminino de Chapecó, no Oeste Catarinense. Mais tarde, ela foi transferida para o Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí. Ameaçada, ela foi transferida novamente, desta vez para a Grande Florianópolis, onde aguarda julgamento.
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) apresentou uma denúncia contra Rozalba, depois que as investigações foram concluídas: ela é acusada de homicídio, qualificado por feminicídio e motivo torpe, entre outras qualificadoras. Além disso, é acusada de tentativa de homicídio contra a criança, além de ocultação de cadáver e uso de um meio que impossibilitou a defesa da vítima.
Para a promotora de Justiça Mirela Dutra Alberton, todas as qualificadoras do crime estão comprovadas nos autos do processo.
Rozalba deve ser julgada por sete pessoas, escolhidas aleatoriamente, e que são voluntárias do Poder Judiciário. O julgamento deve acontecer ainda em novembro deste ano, na comarca de Tijucas.
Para Bruna dos Anjos, advogada de defesa da acusada, não se questiona a autoria ou a materialidade do crime. Ela afirma que, o que se busca, é uma interdisciplinaridade, entre e a criminologia e a preservação da saúde mental de Rozalba.

“Ainda que a Rozalba receba a pena máxima, será que essa sentença vai cumprir seu objetivo? A saúde mental dela será resguardada? Essa é a preocupação da defesa”, afirma.
“Defendê-la não significa que concordo com ela. Matar alguém sempre será injustificável. A função do advogado é preservar um direito constitucional de todas as pessoas”, diz. “Há dois tipos justiça: a divina e a legal. Um advogado faz a legal. O que não pode acontecer é se confundir justiça com vingança”, conclui.
Exame psiquiátrico 3x3dj
Presa e com as investigações em andamento, Rozalba ou por um exame de sanidade mental. De acordo com o laudo, emitido pelo IGP (Instituto Geral de Perícias), a ré “não possui qualquer transtorno psiquiátrico, doença mental, perturbação da saúde mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado”.
A defesa ainda pode solicitar outro exame, que, segundo a psiquiatra forense Barbara Saviato, da A (Associação Catarinense de Psiquiatria), deve ser deferido pela Justiça. O exame avalia as funções mentais do indivíduo, como funções cognitivas, capacidade de atenção, discernimento, ou se a pessoa se contradiz, por exemplo.
A defesa de Rozalba, após o laudo do IGP, entrou com um pedido de reavaliação, que foi feita por um assistente da defesa.
O marido 2l29q
Preso no mesmo dia que Rozalba, Zulmar Schiestl, hoje ex-companheiro da acusada, foi absolvido pela Justiça, conforme conta seu advogado de defesa, Ivan Martins Jr. Ele afirma que Zulmar até hoje recebe ameaças, mas que desde o começo sustentou que não sabia de nada.

Foi o que as investigações concluíram: ele realmente acreditava que a então esposa estava grávida de uma menina. Foi ele, inclusive, que insistiu para que os celulares dele e da mulher fossem periciados.
“Ele ficou sabendo do que tinha acontecido depois de preso, pelos próprios policiais e por mim”, conta o advogado. “A primeira reação foi não acreditar naquilo. Ele acreditou nela, a criança que ele achava ser dele, já tinha até padrinhos”, afirma.
Marcas na cidade 18356a
O crime praticado contra uma professora de educação infantil de Canelinha ainda é uma ferida aberta na cidade de cerca de 12 mil habitantes. A bebê hoje vive com o pai. Amigos e familiares da jovem assassinada ainda lutam contra a saudade e a tristeza.
“É uma coisa que jamais vai se apagar”, afirma Valdireni Silva, amiga da vítima.
Em 12 meses, o local do crime também está sendo desmanchado. Com o julgamento se aproximando, é como se a cidade se preparasse para um novo capítulo de sua história.
“Todo mundo comenta, todo mundo sabe. As pessoas vêm aqui ver, às vezes”, conta um senhor, que mora próximo ao local. Perguntado se ele sente medo no local, ele afirma veementemente que não teme os mortos. “Eu tenho medo é de quem está vivo”.
