O Promotor de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, Bruno Poerschke Vieira, se emocionou ao falar sobre as vítimas mortas no ataque à creche de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, durante o segundo dia do julgamento do acusado pela chacina. Ele é réu por cinco mortes e outras 14 tentativas de homicídio.

Ele chegou a citar os filhos e a lembrança que teve do dia da chacina, em 4 de maio de 2021. Vieira teve uma hora e meia para expor os argumentos da acusação para os sete jurados que decidirão o futuro do réu.
A quinta-feira (10) iniciou com a exposição das teses da acusação e da defesa. O julgamento acontece no Fórum de Pinhalzinho e é presidido pelo juiz da Vara Única, Caio Lemgruber Taborda.
Durante a exposição do Ministério Público, o acusado optou por não permanecer no tribunal. Ele ficou em uma sala separada e retornou apenas quando a defesa apresentou a tese.
Foram momentos de grande comoção entre os presentes. Durante a explanação do promotor de justiça, o plenário foi tomado pelo som da voz do jurista e pelo choro dos familiares, amigos e demais presentes. Servidores, policiais, socorristas e outros envolvidos profissionalmente no julgamento também não conseguiram conter as lágrimas.
Vieira apresentou o relatório gerado a partir do que foi encontrado no computador do réu. São 98 páginas detalhando as pesquisas que ele realizou.
As buscas eram sobre fabricação de bombas, acusados por ataques em escolas, compra de arma de fogo e assuntos que demonstravam ódio por crianças e mulheres.
Houve o relato do crime e dos ferimentos causados. A apresentação foi encerrada com um emocionante vídeo feito a partir de fotos das vítimas, reluzindo felicidade em suas curtas vidas.
“Quando a esposa perde o marido, ela se torna viúva. Quando alguém perde o pai ou a mãe, se torna órfão. Mas quando se perder um filho, ficam apenas saudades”, fazendo referência ao município onde aconteceu o crime.
Segundo a acusação, a dificuldade de adquirir a arma de fogo, mudou o alvo dois meses antes de praticar o crime. O acusado entrou na escola com um livro para disfarçar a intenção. Os quatro promotores que trabalharam no caso fizeram questão de participar do julgamento, embora apenas Vieira fez uso da palavra, já que é o titular do caso.
“A denúncia apontou cinco homicídios consumados e 14 tentativas, considerando apenas as pessoas que tiveram real risco de morte, como as professoras que seguraram a porta impedindo a entrada do acusado”, explicou o promotor.
Explanação da defesa 4y1m50
O advogado Demetryus Eugenio Grapiglia também teve 1h30 para exposição. A imprensa não teve o à sala do júri na manhã desta quinta. Ele manteve o argumento de que o réu foi manipulado por amigos da internet e que tem doenças psiquiátricas.
Após a apresentação das teses de acusação e defesa houve pausa para o almoço. Réplica iniciou por volta das 13h50 com fala do assistente de acusação, advogado Luiz Geraldo Gomes dos Santos.

Primeiro dia de julgamento
Na quarta-feira (9) foram ouvidas as vítimas e testemunhas de acusação e defesa. A sessão começou com o sorteio dos jurados dentre 26 pessoas previamente convocadas. Seis mulheres e um homem compõem o conselho de sentença que decidirá o futuro do réu.
Foram nove pessoas que detalharam o ataque, o socorro imediato na escola e também as avaliações psiquiátricas feitas no réu. Os trabalhos da-feira encerraram com o interrogatório do acusado que usou o direito de permanecer calado.
Depois da formação do conselho de sentença, foram ouvidas três vítimas do ocorrido. Na sequência iniciou a oitiva de testemunhas de acusação, duas presencialmente e uma online.
A defesa ouviu duas testemunhas de maneira remota e outra presencial. Foram dispensadas três vítimas, cinco testemunhas de acusação e uma de defesa.
O ND+ não irá publicar fotos do rosto do assassino, tampouco destacar o nome dele ao longo da cobertura. Também não irá mostrar o rosto das vítimas. A decisão editorial foi feita em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), além de não compactuar com o protagonismo de criminosos.
O dia da chacina 604z62
O pacato município de Saudades, distante a 42 km de Chapecó, nunca mais foi o mesmo depois do fatídico 4 de maio de 2021, quando a creche Pró-Infância Aquarela foi alvo do ataque brutal de um jovem de 18 anos. O crime resultou em uma chacina.
Armado com uma espécie de espada, o rapaz invadiu a escola de educação infantil e matou três bebês, com idades até 1 ano e 9 meses, uma agente educacional, de 20 anos, e uma professora, de 30. O crime completou dois anos em maio de 2023 e teve repercussão internacional.
Conforme a Polícia Civil, o jovem — que morava na cidade — dirigiu-se de bicicleta à creche, localizada na área urbana do município. Ao entrar no local, começou a atacar a professora que, embora ferida, correu para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola, na tentativa de alertar sobre o perigo.
O jovem atacou, então, as crianças que estavam na sala e a funcionária. Duas meninas de menos de dois anos e a professora que sofreu o ataque inicial, morreram no local. Outra criança e a funcionária morreram depois no hospital.
Após a chacina, o jovem deu golpes contra si e foi internado. O acusado teve a prisão preventiva decretada no dia 5 de maio de 2021, um dia após o crime, e responde processo por cinco homicídios qualificados, por motivo torpe, cruel e em ação que impossibilitou a defesa das vítimas.
Além disso, é réu por 14 tentativas de homicídio. Ele recebeu alta no dia 12 de maio e foi levado ao Presídio em Chapecó, onde permaneceu preso até a data do júri. Segundo a investigação da Polícia Civil, o jovem planejou o crime e tinha consciência do que estava fazendo quando invadiu a creche.
O delegado Jerônimo Marçal Ferreira, responsável pela investigação do caso, informou, à época, que o acusado confessou o crime. Marçal ainda disse que a agente educacional e a professora foram heroínas ao impedir que o jovem fosse para outras salas, conseguindo com êxito, mesmo que feridas, evitar o pior.
Durante a investigação, que contou até com o apoio da Embaixada dos Estados Unidos, mais de 20 pessoas foram ouvidas, tendo o próprio acusado prestado depoimento no dia 10 de maio, enquanto ainda estava internado, sob custódia policial, no Hospital Regional do Oeste, em Chapecó. A polícia também apreendeu aparelhos eletrônicos e dispositivos pertencentes ao jovem.

No dia 14 de maio de 2021, os delegados realizaram uma coletiva de imprensa após o fim do inquérito, detalhando, entre outras coisas, que o jovem teria escolhido a creche pela fragilidade das vítimas, que tinha plena consciência do que fez e que foi um crime premeditado durante 10 meses.
Os relatórios dos dados e das informações encontradas nos aparelhos eletrônicos do réu demonstram que, durante o período em que planejou o ataque, ele participou de fóruns de discussão na internet sobre crimes violentos e pesquisou serial killers.
Exame de insanidade mental foi negado 1b3s25
A defesa do acusado pediu exame de insanidade mental, mas a Justiça negou três pedidos nos dias 25 de maio, 23 de junho e 7 de julho de 2021.
No dia 5 de agosto, durante uma audiência online, o juiz decidiu ouvir o jovem presencialmente. No dia 24 do mesmo mês, durante a oitiva do acusado, o advogado de defesa apresentou um laudo particular e o juiz Caio Lemgruber Taborda deferiu o pedido para a realização do exame de insanidade mental, o qual foi realizado pela Polícia Científica de Blumenau.
O laudo foi concluído no dia 19 de outubro de 2021 e o juiz solicitou mais detalhes ao perito. A partir disso, o juiz decidiu no dia 2 de fevereiro de 2022 que a questão da insanidade mental será definida no júri.
No dia 7 de fevereiro a defesa questionou em primeira instância a decisão e pediu um novo exame de insanidade mental. O pedido foi negado. Em 1º de maio a defesa entrou com novo recurso pedindo um novo laudo, a Justiça negou a solicitação no dia 28 de junho.
No dia 11 de outubro, o juiz decidiu que o caso iria para juro popular no dia 9 de agosto.