Familiares e sobreviventes do incêndio que matou 242 pessoas e feriu outras 636 na boate Kiss, em Santa Maria, deixaram, em forma de protesto, a sala onde o julgamento está ocorrendo. A manifestação ocorreu no plenário do Foro Central I, na manhã desta quarta-feira (8). As informações são do portal UOL.

A saída ocorreu após o ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, criticar o inquérito policial do incêndio e tentar isentar a prefeitura municipal das responsabilidades daquela noite. As falas do prefeito foram criticadas pelos parentes das vítimas.
“É um sinal de protesto a todos os desrespeitos que estamos ouvindo lá”, disse o residente da Associação de Vítimas e Familiares da Tragédia da boate Kiss, Flávio da Silva.
“O prefeito deveria ter agido na hora porque ele era o gestor e não o fez. Agora ele vem aqui para se promover politicamente. É um desrespeito muito grande com as famílias e com os jurados”, continuou. No mesmo momento, a mãe de uma das vítimas ou mal, e deixou o recinto.
Para Fátima de Oliveira Carvalho, mãe da vítima Rafael Carvalho, os pais e amigos das vítimas estavam na expectativa pelo depoimento do prefeito. “Meu sentimento em particular é de que ele estava usando o meu filho, os nossos filhos, a nossa dor para se promover. Não é justo isso”, relatou.
“Foi um depoimento apelativo, uma atitude horrível e de desrespeito conosco. Senti que ele estava fazendo uma propaganda política ali”. Fátima também disse que os sobreviventes que já depam reviveram novamente os traumas da tragédia.
“Quis estar aqui com as outras mães que estão na mesma situação que eu. Por isso achei um ato de muita maldade, criminoso até, de utilizar esse momento para se promover. Não é fácil ouvir tudo que estamos ouvindo”, afirmou.
Como foi o depoimento de Cezar Schirmer 2q733t
O ex-prefeito de Santa Maria narrou em seu depoimento como ele recebeu a notícia do incêndio e quais foram as ações tomadas na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. Ele reforçou sua opinião de que mais pessoas deveriam estar entre os réus do julgamento.
“Havia um esforço desde o começo de que ‘falta mais gente no julgamento’. Isso era uma narrativa para responsabilizar, é uma estratégia da defesa. Não fiz nada que pudesse comprometer a mim e nenhum servidor da prefeitura”, disse.
“Aquilo foi um incêndio. Faltou coragem, isenção, responsabilidade. O inquérito é muito ruim. Mais de 150 funcionários foram chamados. Não foi nem uma nem duas vezes que eu tive que acompanhar funcionárias chorando com a truculência da polícia”, continuou.
No fim, ele disse ter ficado muito abalado com tudo o que estava ocorrendo. “Nunca dei entrevista para evitar constranger mais ainda o ambiente difícil e traumático que vivia a minha cidade”, relatou à promotora de Justiça do Ministério Público, Lúcia Helena Gallegari.