Com 1.005 quilômetros de extensão, a Região Metropolitana da Foz do Rio Itajaí tem importância vital para Santa Catarina. Em apenas 11 municípios, se encontra o maior PIB, o maior porto e o segundo aeroporto mais movimentado do Estado, além de destinos turísticos memoráveis, como o maior parque temático da América Latina e os litorais de Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas.

Na alta temporada, de dezembro a março, a região recebe mais de 2 milhões de turistas, segundo dados da Secretaria de Turismo do Estado. Mas à medida que a área prospera, os desafios de mobilidade urbana se intensificam, com rodovias cada vez mais sobrecarregadas e poucas alternativas viáveis para o movimentado tráfego intermunicipal.
A principal via de ligação entre as cidades é a BR-101, a sexta maior rodovia do país, que se estende por todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Assim, os moradores que precisam se deslocar para o município vizinho para trabalhar, estudar ou ir ao médico dividem vias com o enorme volume de veículos que cruzam o país de norte a sul.
Em dias normais, o tráfego pode atrasar mais de 1h30 só no trecho da Foz do Itajaí, que tem cerca de 50 km de extensão, além do entroncamento com a BR-470, que atravessa Navegantes.
Além disso, a seção catarinense da BR-101 tem o maior índice de acidentes e mortes de toda a estrada, que já é a mais perigosa do país – conhecida como “Rodovia da Morte”. Dos cinco trechos mais inseguros do estado, dois se encontram na Foz do Rio Itajaí, em Balneário Camboriú e em Itajaí.
Os cinco trechos mais perigosos da BR-101 em Santa Catarina em 2023 4c5k3b

De acordo com a FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), os segmentos da rodovia no entorno das cidades de Navegantes, Itajaí e Balneário Camboriú têm o nível de serviço “F”, nota que corresponde ao pior índice possível na classificação da Highway Capacity Manual, principal referência para estudos de capacidade viária no mundo.
Isso significa um baixíssimo nível de eficiência, ou seja, possibilidade de atraso em função da movimentação, o que também aumenta o número de acidentes, os custos operacionais e até as emissões de gases do efeito estufa.
Para Cássio Taniguchi, urbanista e ex-Secretário de Mobilidade Urbana do Estado de Santa Catarina, de todos os investimentos que deveriam ser feitos na BR-101, o mais urgente é a construção de um desvio para separar o intenso tráfego norte-sul do intermunicipal, especialmente nas épocas de safra e do verão.
Em dezembro de 2023, em resposta aos pedidos da Amfri (Associação de Municípios da Região Metropolitana da Foz do Rio Itajaí), a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) realizaram um teste nos trechos de Itapema e Balneário Camboriú, transformando o acostamento da rodovia em terceira faixa para aliviar o fluxo.
A medida deveria permanecer até o final da temporada de verão, mas as autoridades determinaram que novos estudos precisam ser conduzidos antes de implementar a mudança.
Na publicação de 2020 da FIESC intitulada “BR-101 do Futuro”, calcula-se que, apenas em Itapema, intervenções de cerca de R$ 83 milhões na infraestrutura da rodovia federal trariam benefícios estimados em R$ 2,7 bilhões.
Na travessia de Navegantes a Balneário Camboriú, é estimado que o investimento de R$430 milhões resultaria em benefícios de até R$ 2,67 bilhões.
Região do Vale do Itajaí tem transporte coletivo escasso e sem infraestrutura 2o669
Outra raiz dos desafios da mobilidade urbana são as linhas de ônibus intermunicipais insuficientes, o que estimula o uso de automóveis individuais e aumenta os congestionamentos.

Não existe um transporte coletivo que integre os 11 municípios e, de acordo com um estudo realizado pela Amfri, toda a infraestrutura de ônibus da região deixa a desejar.
O município de Bombinhas, por exemplo, só tem ligação direta via transporte coletivo para Porto Belo. Já Ilhota não possui nenhuma conexão de ônibus para os demais municípios da região.
Além disso, as paradas de ônibus da região não têm informações suficientes e frequentemente não contam com recuo ou mesmo bancos e cobertura adequada.
O doutor em Engenharia Civil, Edésio Lopes, ilustra a insuficiência das linhas de transporte coletivo regionais: “Se você desembarca no único aeroporto da região, em Navegantes, e quer ir para Balneário Camboriú, você tem que pegar um táxi ou Uber, porque não existe ônibus direto entre as duas cidades.” Apesar de ser o terceiro maior município da região, Navegantes só se liga via ônibus a Balneário Piçarras, Penha e Itajaí.
Sem alternativas satisfatórias de transporte coletivo, a população precisa usar automóveis individuais para se locomover entre municípios.
Dados de 2023 da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) apontam para uma frota de 628 mil veículos na Foz do Itajaí – um aumento de 63% desde 2013, quando a região já tinha um índice de motorização superior ao do restante do estado.
Um estudo realizado pela Amfri calcula que 54% das viagens dentro dos municípios e 80% das viagens intermunicipais são realizadas por carros e motocicletas, contra apenas 5% de viagens de ônibus.
Para Taniguchi, com o adensamento populacional na região, é urgente investir em infraestrutura de transporte público para que o problema não se intensifique ainda mais.
“A especulação imobiliária da região, especialmente em Balneário Camboriú, resulta numa densificação exagerada. A área se valoriza, constroem prédios e mais prédios, e há cada vez mais automóveis nas ruas. Poderia ter um transporte coletivo eficiente entre todas as cidades, mas, em vez disso, fica cada vez mais congestionada”, afirma.
João Luiz Demantova, consultor do Promobis, o Projeto de Mobilidade Integrada Sustentável desenvolvido pela Amfri, aponta a necessidade de um transporte coletivo integrado e de uma ligação entre o aeroporto de Navegantes e o restante das cidades, o que ajudaria a explorar o potencial turístico e facilitaria a vida de cerca de 1 milhão de habitantes da região.
“Facilitar o o do turista aos atrativos é fundamental, mas esse também é um direito dos próprios moradores da região. Vias mais apropriadas e um transporte público de qualidade vai possibilitar deslocamentos mais tranquilos, rápidos e eficazes. Nós não teremos espaço para tantos carros no futuro”, pontua.
Travessia fluvial deixa a desejar 5m23o
A alternativa às estradas movimentadas para quem precisa se deslocar entre as cidades vizinhas de Itajaí e Navegantes é atravessar o Rio Itajaí de balsa. Uma empresa, a NGI Sul, istra a travessia de pedestres e veículos com embarcações tipo ferry boat há mais de 50 anos.
Para Demantova, o serviço “foi uma alternativa viável por muitos anos, mas agora, com o nível de conurbação da região e a demanda da travessia, ele não é mais capaz de atender tudo.”
Segundo Edésio Lopes, a dependência da balsa resume os principais problemas de mobilidade da região: “Há uma desconexão viária entre Itajaí e Navegantes, que geograficamente são muito próximos, mas por rodovias estão muito distantes.
E o transporte público é praticamente inexistente. Então a única alternativa é a balsa, que já não tem mais capacidade para operar um eixo como esse.”
Entre embarque, travessia e desembarque, o ferry boat leva de 20 a 30 minutos para transportar os ageiros de uma margem à outra, separadas por cerca de 350 metros. Com a construção de uma ponte, como defende o engenheiro, o percurso levaria cerca de 3 a 5 minutos.
As três alternativas propostas pelo Promobis para melhorar a mobilidade e a ibilidade da região são a implantação de um sistema de transporte coletivo regional com uma frota de veículos elétricos, novas rotas e ciclovias em Balneário Camboriú e a construção de um túnel subaquático entre Itajaí e Navegantes.

Em 2023, o projeto foi aprovado pelas Câmaras Municipais de Balneário Camboriú, Navegantes e Itajaí, cidades com maior envolvimento na iniciativa. Agora, para que seja colocado em prática, os municípios negociam parcerias e financiamentos com o Governo Federal e o Banco Mundial.