O trânsito é um ambiente compartilhado por toda a sociedade, com regras claras para garantir a segurança dos usuários. São direitos e deveres que na prática deveriam ser respeitados, mas nem sempre acabam seguidos à risca, deixando cicatrizes por todos os lados. Vidas perdidas, sonhos destruídos e estatísticas que colocam as estradas catarinenses entre as mais violentas do país.
Em 2021, o Estado ocupou a segunda posição no ranking nacional de acidentes nas rodovias federais brasileiras, com 7.881 ocorrências. O número representa 12,2% de todos registros em BRs do país somente no ano ado. Em quantidade de mortes o Estado ficou na quarta colocação, com 357 óbitos.
Na tentativa de reverter estes dados as autoridades ligadas ao trânsito investem na conscientização dos atuais e dos futuros motoristas.

“Educação para o trânsito é uma das principais atribuições da PRF, não só para crianças, mas para os jovens e adultos”, lembra Adriano Fiamoncini, chefe do núcleo de comunicação da Polícia Rodoviária Federal em Santa Catarina.
A instituição, por meio do Grupo de Educação para o Trânsito da PRF/SC (GTRAN), leva para as escolas públicas e particulares um projeto pedagógico voltado a orientar o comportamento das crianças quando elas estiverem no trânsito, seja como pedestre, ciclista ou, no futuro, na direção de um veículo.
A garotada se diverte em um circuito lúdico com pista para carros, espaço para pedestres e ciclistas, sinalização e todo o aparato encontrado no trânsito. “É um lugar que tem carros, ônibus, caminhões até bicicletas e trens”, descreve Anakin Henrique Wenning, de 7 anos, enquanto escuta atentamente as instrutoras.
Eles conhecem as leis e as consequências quando se desrespeita as regras. “Ganha multa”, conta Lívia Quitino Rodrigues, de 6 anos.
Em meio à brincadeira, uma das crianças chama a atenção para uma atitude simples, mas inadequada. “Jogar papelzinho de bala no chão pela janela do carro”, conta Gabriela de Vasconcelos Moreira, de 7 anos, reprimindo esse tipo de comportamento.
Espaço para aprender 16516r
Cones, faixas, semáforo, placas e policiais de verdade fizeram da quadra de esportes da escola Sabedoria Júnior no bairro Carianos, em Florianópolis, um cenário para testar os conhecimentos teóricos dos pequenos futuros motoristas.
Depois de entender o significado de cada símbolo desenhado na sinalização e compreender a responsabilidade de cada pessoa quando se está no trânsito, as crianças assumiram a direção. Patinetes se transformaram em carros para um dos momentos mais esperados pela Beatriz Silveira Pereira, a motorista mirim consciente. “Devagar”, conta sorrindo a estudante de 7 anos ao começar o trajeto.
Os alunos percorrem todo o circuito com a orientação das instrutoras. Eles assumem o papel de motoristas, pedestres e até brincam como agentes de fiscalização do trânsito. Eles ganham um bloco de multas voltado para conscientizar toda a família.

“O nosso maior objetivo não é só que eles sejam futuros bons motoristas, mas que eles consigam mudar muitas vezes em casa ou com os tios, avós. Esta cultura do trânsito que muitas vezes eles não tiveram a oportunidade de aprender da forma correta e acabam muitas vezes infringindo as leis e causando acidentes”, afirma a policial rodoviária federal, Sheila Maria Neves Martins, que também é uma das instrutoras do GTRAN da PRF/SC.
A iniciativa é uma forma lúdica, leve e descontraída para as crianças levarem e compartilharem os ensinamentos com a família. “Eles vão puxar a orelha dos pais. Eu acho que isto realmente é o que pode transformar estes comportamentos que muitas vezes a gente vê e que não são os comportamentos que esperamos enquanto cidadãos”, conclui Martins.
O trabalho é realizado pela PRF em todo o Estado. Além das escolas, o GTRAN promove ações em empresas, hospitais e palestras para públicos específicos como motoristas profissionais.
“É um trabalho de longo prazo. Nós temos que começar agora com as crianças pequenas para que daqui há 5, 10 anos, isso se reflita lá na frente em trânsito mais seguro. E se desta brincadeira resultar em um acidente a menos e uma morte a menos no trânsito já vai ter valido a pena”, ressalta Fiamoncini.
Lições para além dos muros r3o1m
Há 18 anos, a Guarda Municipal de Florianópolis tem a educação como um pilar de transformação cultural e comportamental dos motoristas partindo de lições nas salas de aula.
“Estudos demonstram que os comportamentos e valores que são obtidos nesta faixa etária tem uma tendência maior de permanecer no comportamento do condutor de veículo durante toda a sua vida. Da mesma maneira a nossa experiência demonstra que essas crianças acabam se tornando em agentes de trânsito de transformação dentro das suas próprias casas”, aponta o secretário de Segurança Pública da Capital, Araújo Gomes.
A reportagem do ND acompanhou uma das ações da Guarda Municipal na Escola Básica Vitor Miguel de Souza onde estuda a Analu Santana Macedo, de 8 anos, que logo no começo da brincadeira em um triciclo sinalizou para uma das regras importantes para a segurança no trânsito. “Quando a sinaleira está vermelha é para parar e os pedestres atravessarem”, alerta a aluna.
“O que está certo no trânsito é esperar o sinal ficar verde”, afirma Uelison Garcia de Oliveira, de 9 anos, enquanto os guardas orientam os outros colegas.
E nada de desrespeitar a lei. “Leva multa e pode dar acidente”, lembra Emerson Neves Capistrano dos Santos, de 9 anos. As crianças se revezam como motorista, pedestre e guarda municipal. “O mais difícil é ser o Guarda porque tem que ter atenção de quando os carros estão vindo”, conta Vinícius Santana, de 8 anos.
“Uma das questões que é trabalhada neste tipo de oficina é para que a criança se enxergue como parte do sistema. Não apenas alguém que observa, não apenas alguém que é conduzido, mas alguém que interage e que tem condições de cuidar da própria segurança, tenha condições de vigiar e cuidar da segurança dos outros, mas principalmente de espalhar, de propagar uma cultura de condução no trânsito com segurança e responsabilidade”, enfatiza Gomes.
Para o subinspetor da Guarda Municipal de Florianópolis e instrutor do programa, Ramon Pereira da Silva, cada nova etapa do projeto é como plantar uma semente para germinar no futuro.
“Eu acredito muito no potencial das crianças porque elas são como uma esponja sem nada. Tudo o que a gente coloca ali elas absorvem, tanto para o lado bom quanto para o ruim. E a gente vem com a parte boa trazendo uma questão de cidadania e fazer entender que ela é importante para o futuro dela mesma”, comenta.
“Aprende a criança, os pais e soma com a Guarda Municipal que a gente a a ter menos trabalho porque estas crianças terão uma percepção muito diferente do que muitos que não tiveram esta oportunidade”, complementa Valci Brasil, comandante da Guarda Municipal da Capital.
Campanha SC Não Pode Parar 4w3l70
A iniciativa da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina) em parceria com o Grupo ND tem voltado o foco para despertar na sociedade catarinense a reflexão sobre a responsabilidade de cada cidadão na construção de um trânsito mais seguro.
Lançado em julho do ano ado, o movimento tem construído uma ponte de transformação da realidade encontrada nas rodovias federais catarinenses.
RODOVIAS FEDERAIS zy73
Santa Catarina (2021)
2º estado em acidentes: 7.881
12,2% registros em BRs do Brasil
4º estado em mortes: 357
6,6% registros em BRs do Brasil
Brasil (2021) 1a5m4u
Acidentes: 64.452
Mortes: 5.391
Acidentes e Mortes de Motociclistas 3v4m2g
Santa Catarina (2021)
1º estado em acidentes com motos: 3.323
42,2% dos registros em BRs do Brasil
6º estado em mortes de motociclistas: 95
26,6% dos registros em BRs do Brasil
Fontes: PRF, FIESC/GETMS