Chega ao fim nesta quarta-feira (8) a série de cadernos especiais no Jornal ND intitulada ‘Saneamento: Atraso e Desafio’. Foram dez edições especiais encartadas semanalmente entre os dias 14 de dezembro e 8 de fevereiro.

No total, 80 páginas de conteúdo cumpriram o objetivo de levar luz, dados e transparência sobre assuntos que por muito tempo foram esquecidos – tanto por gestores, quanto pela população.
Apesar das edições especiais dos cadernos terem chegado ao fim, o projeto continua. O jornal ND segue com atenção especial ao assunto em suas edições diárias, assim como a NDTV e o portal nd+.
Executado pelo Núcleo de Dados e Jornalismo Investigativo do Grupo ND (NDI), o projeto tem o intuito de provocar mudanças e promover melhorias através da prática de jornalismo de soluções. Para isso, foram desenvolvidos conteúdos educativos sobre o tema.
Na próxima etapa do projeto, um documento especial será entregue aos gestores. A defesa do saneamento digno faz parte dos assuntos de defesa permanente do Grupo ND.
Além dos conteúdos e promoção do processo educativo sobre o tema, o projeto busca a exposição dos dados aos gestores públicos e privados e cobrança de medidas para resultados a curto, médio e longo prazo.
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Relembre as reportagens que ilustraram as capas dos cadernos
07/12/22 – Sete em cada dez catarinenses vivem em locais com saneamento precário
Santa Catarina tem um dos piores índices de rede coletora de esgoto do Brasil: apenas 26% dos moradores contam com esgotamento sanitário. São 5,3 milhões de pessoas com saneamento precário.
Apesar de ser uma das maiores economias do país, Santa Catarina tem o pior desempenho da região Sul em saneamento básico. Na lista das 27 unidades federativas, apresenta números similares aos estados com maior incidência de pobreza do país.
14/12/22 – Água contaminada por microorganismo é capaz de tirar a visão humana
Em abril de 2020, Katja Plotz Fróis, de 58 anos, recebeu o diagnóstico de contaminação por conta da Acanthamoeba, um microorganismo que vive na água e está presente em abundância em locais com problema de saneamento básico. É um tipo de ameba que está no mar, em rios e pode estar até mesmo na água da torneira e do chuveiro. Pelo contato com a água contaminada, Katja, escritora, ficou cega.
A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) catalogou 22 doenças mais frequentes que estão relacionadas ao saneamento básico precário. Levantamento do Núcleo de Dados e Jornalismo Investigativo contabilizou 3.358 internações no último ano por essas enfermidades com 271 registros de morte.
21/12/22 – ‘Nunca livre para banho’: registros mostram Beira-Mar imprópria durante um século
Florianópolis tem rede coletora de esgoto para 65% da população. Embora de forma tardia, a região da Beira-Mar, uma das mais nobres da Capital, foi uma das primeiras a ser contemplada com o serviço de saneamento. Entretanto, o problema é histórico e cultural.
São décadas de despejo irregular. Há moradias que despejam esgoto in natura na água do mar. Os arquivos históricos mostram que não houve época, desde que há registros de análises, em que a Beira-Mar foi própria para banho.
28/12/22 – Entre o lucro e o prejuízo, economia catarinense precisa driblar má qualidade das praias no verão
Com picos de praias impróprias e surtos de doenças, Santa Catarina perde dinheiro. Além de deixar de potencializar os lucros do turismo, a poluição e descaso com o saneamento básico mancha o veraneio de milhões de turistas. De acordo com o Trata Brasil, o Estado é um dos que mais tem prejuízo no Brasil por conta do saneamento precário.
Um estudo do instituto indicou que o lucro líquido da universalização do serviço de saneamento em 35 anos seria de R$ 23,8 bilhões, já que o valor necessário de investimento é de R$ 8 bilhões. Os principais retornos seriam na saúde, aumento de produtividade no trabalho, valorização imobiliária e turismo.
04/01/23 – Problemas de drenagem em SC são escancarados pela chuva todo ano – mas não são resolvidos
Ao se falar de saneamento básico, muitas vezes as pessoas não lembram ou sequer sabem que o assunto vai muito além de água e esgoto. O desconhecimento se estende por muitos campos e o reflexo é a falta de dados históricos, modelos defasados e falta de políticas voltadas para outros pilares, como as águas pluviais.
A moradora do Papaquara, em Florianópolis, Josinei Plácido do Nascimento, sente na pele os efeitos do descaso com esse pilar todo ano. Segundo ela, as enchentes são recorrentes: “todo fim de ano tem”. Foram mais de 20 anos consecutivos que a vendedora ambulante teve que recomeçar do zero. “Agora é tudo improvisado, a gente nem compra mais móveis porque vai ter que trocar depois”, relata.
11/01/23 – Na rua, penico ou na casa do vizinho, catarinenses que não têm banheiro vivem no improviso
Segundo dados do IBGE, mais de 4 mil moradias catarinenses não têm banheiro. São cerca de 10 mil pessoas que utilizam espaços improvisados, desde a rua até casas de vizinhos. Os registros de falta de banheiro estão nas regiões mais pobres de Santa Catarina. Num dos maiores bolsões de pobreza do Estado, o bairro Frei Damião, em Palhoça, um levantamento realizado entre os moradores mapeou 180 casos de famílias que não têm sanitário.
Há 1,6 milhão de moradias no Brasil em que as famílias utilizam métodos rudimentares para fazer as necessidades fisiológicas. A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) trabalha na oferta de editais para os municípios receberem recursos para a construção.
18/01/23 – Rios ‘campeões de poluição’: dez dos 1.000 rios mais poluídos do mundo ficam em Santa Catarina
Santa Catarina é um dos ‘campeões’ de poluição dos mares no Brasil. O Estado conta com 10 entre os mil rios mais poluídos do mundo, de acordo com balanço da Ocean CleanUp, destrinchado pelo NDI (Núcleo de Dados e Jornalismo Investigativo). De Norte a Sul do Estado, eles levam juntos 2,3 toneladas de plásticos ao oceano por ano. Entre todos os estados do país, apenas o Rio de Janeiro (com 12) e Pernambuco (11) superam o número de rios catarinenses na lista.
O Estado possui um papel de destaque negativo no país ao poluir um de seus bens mais preciosos: a água de suas praias. Os prejuízos na pesca, maricultura e em todo o turismo afetam diretamente o dia a dia de milhões de catarinenses.
25/01/23 – Índice de coliformes fecais ultraa 30 vezes o ‘limite aceitável’ em Santa Catarina
O NDI (Núcleo de Dados e Jornalismo Investigativo) analisou os índices de balneabilidade nos principais pontos do litoral catarinense. Apesar desses índices não serem amplamente divulgados, eles são publicados semanalmente nos relatórios de balneabilidade do IMA/SC. Os parâmetros do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) indicam que até 800 coliformes fecais para uma amostra de 100 mililitros são aceitáveis para a saúde humana.
Mais do que isso é indicativo de que a água está poluída e causa risco de doenças A apuração identificou casos em que as amostras apontaram mais de 24.196 coliformes fecais por 100 mililitros. Trinta vezes mais do que o tolerável. Esses níveis foram encontrados nas praias do Litoral Norte, Vale do Itajaí, da Grande Florianópolis e da Capital.
01/02/23 – Sem dinheiro, estrutura ou conhecimento, municípios de SC ‘esquecem’ do saneamento básico
Falta de recursos, estruturas, conhecimento e interesse são parte da justificativa para o panorama tão atrasado do saneamento básico em Santa Catarina. São 212 municípios que não deram nem o primeiro o para a instalação da rede coletora. O perfil da grande maioria desses municípios é de pequenas comunidades, muitos com a população urbana menor até do que a rural, mas também há problemas nas cidades grandes.
Nesses municípios, é possível identificar problemas até mesmo na prestação de contas. Na plataforma do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), há cidades sem dados informados para indicadores básicos, como água e esgoto. Alguns não preencheram nenhum desses indicadores, como é o caso de Paial e Arvoredo, no Oeste, e Jaguaruna, Pedras Grandes e Morro Grande, no Sul do Estado.
08/02/23 – Saneamento é básico: projeto cobra ações para o saneamento de Santa Catarina deixar de ser uma vergonha
O último caderno recupera os temas debatidos até então e anuncia as próximas etapas do projeto. Também nesta edição, a versão atualizada do mapa do saneamento básico de Santa Catarina e uma entrevista com o novo presidente da Casan, que faz a gestão do saneamento de quase 200 municípios catarinenses. O Núcleo de Dados e Jornalismo Investigativo (NDI) também acionou gestores públicos para perguntar o que pode ser feito para o saneamento do Estado avançar.
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Na mesma semana que o projeto ‘Saneamento, atraso e desafio’ foi lançado pelo Grupo ND cobrando ações para melhorar o serviço, a prefeitura de Florianópolis notificou a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) para apresentar um novo Plano de Negócios para Florianópolis.
A prefeitura informou que a Companhia não tem realizado os investimentos firmados em contrato e pediu para a Casan antecipar as metas de tratamento de esgoto para que a cidade atinja 100% de cobertura nos próximos 5 anos.
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Novos critérios para balneabilidade
Após diversas reportagens sobre o alto índice de coliformes fecais na água com exposição dos riscos para a população e impactos em diversos setores, incluindo a economia, o Governo do Estado anunciou uma força-tarefa com diversos órgãos para aumentar a frequência de coleta das amostras de coliformes fecais. O aumento da frequência da análise promove um monitoramento mais atualizado da situação das praias.
Plano de ação lançado na Capital
A Prefeitura de Florianópolis lançou um plano de ações para melhorar o saneamento da cidade com ações de curto prazo. A meta é encaminhar o projeto para a Câmara de Vereadores no início do ano legislativo e iniciar a implementação das medidas ainda no primeiro semestre.
A meta é investir R$ 20 milhões em ações que envolvem a drenagem urbana e a rede coletora de esgoto. O projeto também prevê o apoio financeiro para famílias de baixa renda regularizarem suas ligações de esgoto ou investirem na manutenção das fossas sépticas nas regiões onde não há rede coletora.
> Veja o mapa do saneamento básico de SC elaborado pelo projeto
