No Oeste, 1 milhão de pessoas não têm coleta de esgoto 581v17

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Dos 118 municípios da região, 84 têm índice zero para esgotamento sanitário. Chapecó tem 40,2% de cobertura com rede coletora

Quando o assunto é rede coletora de esgoto, o cenário não é dos melhores para o Oeste catarinense. O SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), com dados de 2021, aponta que dos 118 municípios, 72 ainda contam com índice zero, e outros 12 estão inadimplentes, já que não prestaram contas ao SNIS.

O que significa que 71% das cidades da região ainda não iniciaram qualquer implementação. Essas residências fazem uso de fossas, banheiro seco ou despejam os dejetos direto em rios e córregos. Sem uma coleta adequada, a população normalmente opta por fazer uso de fossas sépticas, ou seja, uma câmara que armazena os dejetos das residências.

A rede coletora de esgoto no Oeste – Foto: Arte: Leandro MacielA rede coletora de esgoto no Oeste – Foto: Arte: Leandro Maciel

Quando construídas fora das normas técnicas ou sem manutenção regular, os dejetos podem acabar contaminando os lençóis de água, o curso do rio, se tiver proximidade ou mesmo ocorrer vazamentos e contaminação da água.

Muitas doenças estão relacionadas com a falta da coleta adequada de esgoto, dentre elas as vetorizadas por parasitas ou mesmo por mosquito, como é o caso da dengue.

Apesar das 84 cidades sem implementação do sistema, algumas já estão em estado avançado quando o assunto é saneamento básico.

As cidades de Herval d’Oeste e Luzerna lideram a lista, com 77,7% e 76% da população atendida com coleta de esgoto. Nestas duas cidades, também há o tratamento dos efluentes coletados. A maior cidade da região, Chapecó, possui 40,2% da população com coleta de esgoto instalada, segundo as informações do SNIS.

Pequenos municípios têm mais dificuldade para investir 21i16

Conforme a engenheira sanitarista que trabalha na região, Carolina Ludwig, uma explicação para os baixos índices de implementação dos sistemas de coleta na região Oeste está no tamanho das cidades e no tempo de existência.

Ela observa que, por ser uma região com cidades menores e com menor arrecadação e verba, acabam sendo priorizadas outras pastas.

“Muitas cidades possuem pouco tempo de fundação, e existem muitas cidades com poucos habitantes. Muitas vezes o investimento em saneamento acaba sendo reduzido e a verba a a ir para outras necessidades”, afirma.

Drenagem urbana também precisa avançar 2w6c65

A má distribuição das chuvas é um desafio no Oeste. Além da seca, moradores enfrentam enxurradas que evidenciam os problemas de drenagem. Morador do bairro Quedas do Palmital, em Chapecó, Guilherme Galinski teve que lidar com os prejuízos da chuva em outubro do ano ado.

“Foram 40 centímetros de água dentro de casa que comprometeram móveis, alimentos, roupas e equipamentos”, diz. Alguns vizinhos tiveram danos estruturais nas casas, com quebra de parede.

Desafios com a má distribuição das chuvas 1k461b

De acordo com o climatologista e professor da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Sergey Alex de Araújo, uma análise geral sobre os índices pluviométricos da região indica que não falta chuva no Oeste durante o ano, já que os índices gerais são positivos.

A dificuldade aparece em épocas específicas. “O grande problema do Oeste não é a regularidade da chuva nos dados históricos, é quando a gente tem sistemas como o La Niña. Para o Oeste catarinense, ela se torna muito presente, pois temos a diminuição da chuva e uma má distribuição tanto espacial como temporalmente. Já no Litoral não, como tem o oceano Atlântico, acaba tendo uma maior evaporação e tem aquela chuva ligada ao oceano”.

O professor de engenharia ambiental e sanitária da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), Silvio Rafaeli, esclarece que nesses casos de estiagens, a seca ocorre por meios naturais, e não por excesso de consumos.

“Não que o ser humano esteja gastando demais, mas é a própria natureza mesmo. Processo de evapotranspiração, a transpiração das plantas, a evaporação dos rios, dos lagos… o próprio escoamento dos canais, isso tudo são processos naturais e aí nós precisamos das chuvas para que aconteça a reposição. O que nós não estamos verificando”.

Esse tipo de influência faz com que a região e longos períodos de estiagem. E é o que nos leva para outro problema: a falta de reserva da água. “Por lá, ainda são bacias pequenas e encaixadas, tem um problema maior de você perder muita água”.

Sergey relaciona os problemas da seca com a falta de tratamento de esgoto. “Além das bacias hidrográficas pequenas no Oeste catarinense, muitos municípios não têm estrutura, pois são menores. Há muito tempo falta investimento em captação de água e principalmente em esgoto”.

E qual é a relação entre a rede de esgoto e a falta d’água? As poucas fontes de água são contaminadas. Além da poluição do esgoto irregular, as produções de agricultura e suinocultura na região por muito tempo também afetam os mananciais do Oeste.

Obras no rio Chapecozinho 5r67w

A maior obra de abastecimento de água em execução em Santa Catarina está no rio Chapecozinho. O projeto, da Casan, tenta resolver as dificuldades de captação de água nos municípios de Chapecó, Xaxim, Xanxerê e Cordilheira Alta, onde os mananciais próximos são vulneráveis a estiagens, segundo a própria companhia.

A água bruta do rio Chapecozinho será transportada por uma rede de 58 km de extensão – que começa na adutora, localizada no município de Bom Jesus, e segue até a estação de tratamento de água em Xanxerê.

Chapecó, maior cidade da região, assim como diversos outros municípios ao redor, são abastecidos pela água do Lajeado São José, um reservatório.

Para aumentar a capacidade hídrica da área, a Casan realizou um estudo para saber qual o local mais propício para realizar a obra da macroadutora.

As análises foram feitas no rio Uruguai, rio Chapecó e rio Chapecozinho, sendo o último mais propício para a obra por questões financeiras, técnicas e geográficas, esclarece a companhia.

A seca e a falta de abastecimento de água em dados 29l2u

O Oeste catarinense é a área que mais enfrenta dificuldades para universalizar seus serviços de coleta de esgoto. Por lá, segundo os dados do SNIS, nenhum município atingiu sequer 80% de cobertura.

A cobertura de abastecimento de água também é deficitária, visto que 95% dos municípios ainda não conseguiram fornecer água na torneira a todos os seus moradores. Em 18 cidades, essa cobertura é inferior aos 50% da população.

Já os impactos das longas secas são vistos com uma frequência nada agradável para os moradores. A região terminou 2021, por exemplo, como o único ponto de todo o Sul do Brasil com registro de “seca extrema” no Monitor de Secas da ANA (Agência Nacional de Águas).

Naquele ano o Oeste catarinense registrou 12% a menos de chuva do que a média histórica.  Os problemas com a estiagem têm ocorrido com frequência desde 2017, e se intensificaram a partir de 2019, de acordo com informações da Epagri/Ciram.