Sob o olhar atento de suas babás, todas as tardes, por volta de 16h, crianças brincam, correm e pulam no tablado de madeira do Parque Linear do Córrego Grande, no bairro de mesmo nome, em Florianópolis. Atrás da singela cena se encontra uma obra urbanística sobre um corredor ecológico que em janeiro deste ano completou 10 anos de existência.

O corredor ecológico do Parque Linear do Córrego Grande liga duas unidades de conservação: o Parque Natural Municipal do Maciço da Costeira ao Parque Natural Municipal do Manguezal do Itacorubi.
O tablado de madeira está a 30 metros de recuo das margens do curso d’água. A estrutura urbanística causou baixo impacto na área de preservação permanente. E o resultado foi tão eficaz que o projeto foi selecionado como exemplo para a mostra “o Livre: Espaço Público Contemporâneo na América Latina”, em Santiago do Chile. O tablado de madeira tornou-se arela e ponto de encontro e conexão.

Não somente as crianças vivenciam a tranquilidade e a segurança em meio à natureza. Os moradores e visitantes do bairro têm o privilégio de contemplar a mata e as aves entre prédios residenciais, galpões de concreto e construções de alvenaria.
Ao lado do rio há uma trilha para caminhada, corrida e meditação. O Parque Linear do Córrego Grande conta hoje com uma área de 17.676 metros quadrados. O impacto positivo desse investimento é sentido por toda a comunidade. “Este espaço é o coração do parque”, diz César Floriano dos Santos, arquiteto e morador do Córrego Grande, um dos autores do projeto.
Histórico de parcerias 1k2al
O parque linear tem uma longa e significativa história. Hoje, há um comitê gestor com nove associações de moradores e entidades locais. Mas o começo não foi nada fácil. A obra urbanística do parque linear foi executada por conta de um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) da Fazendinha pelo Ministério Público.

De acordo com o professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), arquiteto César Floriano dos Santos, o parque é fruto de um trabalho de extensão da universidade, sem remuneração pessoal. Em contrapartida, as quatro construtoras aceitaram a parceria público-privada e arcaram com os custos de execução das obras.
Conselho gestor do parque faz mapeamento de plantas exóticas invasoras 4b4h4w
Aparentemente inofensivo, um cipó ameaça destruir as mudas de árvores nativas plantadas pelo conselho gestor do parque. São plantas exóticas invasoras. É necessário um controle contínuo para que o mesmo se esgote.
O conselho gestor está inventariando e mapeando as espécies exóticas invasoras para nortear as ações de controle, de acordo com a Política Nacional da Biodiversidade.
Outro ponto importante é o cuidado com o corredor para os animais que circulam entre esses dois sistemas, salienta o arquiteto César Floriano. A preservação do rio com água limpa é fundamental.
Além de despoluir completamente o córrego, para melhorar a qualidade de vida na região, ainda falta estender a ciclovia e a calçada até a avenida Madre Benvenuta. “É realmente frustrante ver um trecho tão pequeno que ainda falta ser tratado, especialmente quando já existe infraestrutura de esgoto instalada. Espero que a Casan assuma sua responsabilidade e resolva essa questão emergencial o quanto antes”, considera o arquiteto.
A iniciativa do conselho gestor destaca a importância da responsabilidade ambiental e social das empresas, bem como o papel fundamental das instituições públicas na promoção do bem-estar coletivo.
Feira de artesanato e gastronomia reúne 19 microempreendedores 2k3e5j
A Feira Integração no Parque da Amosc (Associação dos Moradores do Córrego Grande) comemora cinco anos de atividade. “É ótimo ver como a iniciativa cresceu ao longo dos anos e é impressionante que já estejam na 65ª edição da feira! Acredito que o trabalho em equipe e o esforço da comunidade são fundamentais para o sucesso desse evento”, diz a coordenadora e artesã Elisa Faride Seleme.

Todo mês o ponto de encontro dos moradores e visitantes recebe a feira de artesanato e gastronomia da Amosc. O objetivo, segundo Daniel Dedeu, é promover e valorizar a integração entre as pessoas nativas da região e os novos moradores. “Antes era só um tablado árido. E o Dedeu foi um visionário. A Amosc tem licença da prefeitura para funcionar”, explica Elisa Faride Seleme.
Hoje, dezenove artesãos e microempreendores participam da feira municipal. Como o deck central da praça comunitária do Parque Linear era praticamente uma intersecção de vários caminhos, segundo Dedeu, surgiu o projeto de implantar uma feira de artesanato e gastronomia que apresentasse, além de artesanato e gastronomia de qualidade, também atrações culturais.
A Feira de Integração no Parque acontece com atividades culturais frequentes, boi de mamão, apresentações musicais, oficinas, arte, pet friendly, lazer para crianças e adultos, bem como produtos artesanais de qualidade.

LINHA DO TEMPO 49546s
- 2007: suspensão da limpeza das margens do rio Córrego Grande devido à determinação do MPF, resultando no acúmulo de lixo e insegurança para os moradores.
- 2008: discussões no Plano Diretor levaram à sugestão de criar um Parque Linear ao longo do rio, ando por vários bairros, com a proposta sendo aprovada em audiências públicas.
- 2009: interrupção do processo participativo para o Plano Diretor pela prefeitura e criação do Fórum da Bacia do Itacorubi envolvendo diversas associações comunitárias.
- 2010 e 2011: o fórum priorizou sua atuação para a criação do parque, promovendo reuniões com a Secretaria do Patrimônio da União para confirmar a existência de áreas públicas ao longo do rio Córrego Grande.
- 2012: por intercessão do então vice-prefeito, João Batista Nunes, o fórum foi convidado a integrar comissão mista, criada por decreto, composta por técnicos e dirigentes da prefeitura, com o objetivo de elaborar projeto de lei para a criação do Parque Linear do Córrego Grande.
- 2013: foi firmado pelas construtoras o TAC no MPSC para executarem as demandas solicitadas pelas associações comunitárias envolvidas no processo e o Fórum da Bacia, com 12 medidas compensatórias.
- 2014: em 23 de janeiro o parque foi criado pela lei 9.455/2014. A Casan elaborou um anteprojeto da ciclovia sobre os 530 metros lineares, sobre a tubulação subterrânea, no Jardim Itália e Parque São Jorge.
- 2015: em 23 de março, a trilha para o à Cachoeira do Poção foi revitalizada e entregue à comunidade no aniversário de Florianópolis.
- 2016: o fórum participou de reuniões com a Diretoria de Gestão Ambiental da Floram, gestora do parque, para solicitar a criação do comitê gestor do parque e a elaboração do plano de uso do parque.
- 2017: a prefeitura assinou o decreto 17.926/2017 que regulamentou a lei 9.455/2014. Foi inaugurado oficialmente o Parque Linear em 23/03.
- 2018: a prefeitura assinou o decreto 19.240/2018, que designou os membros do comitê gestor do parque, sendo indicadas nove entidades comunitárias para compor o comitê gestor do local.
- 2020: integrantes do comitê gestor do parque se reuniram com a Rede de Espaços Públicos e com arquiteta do Setor de Projetos Especiais da prefeitura, a qual elaborou projeto para todo o trecho três do parque. O projeto prevê ciclovia iniciando a partir da rua João Pio Duarte Silva pela margem esquerda do rio.
- 2021: o Fórum da Bacia do Itacorubi enviou ofício para a prefeitura que versava sobre procedimentos para a licitação do projeto de construção de ciclovia.
- 2023: o comitê gestor elaborou o plano de uso do parque, faltando a revisão final da coordenadora do comitê e técnicos da Floram.
- 2024: é preciso buscar verba para a parte faltante da ciclovia, arelas e equipamento do trecho três. Membros do comitê gestor do parque sugeriram à prefeitura que fosse utilizada verba federal do PAC.