A Prefeitura de Florianópolis propõe, na revisão do Plano Diretor, uma multi centralização dos espaços urbanos na Capital, com o objetivo de encurtar caminhos e facilitar a vida dos moradores.

Poder encontrar serviços e produtos no próprio bairro, sem precisar percorrer grandes percursos, pode ser a solução para amenizar os problemas com o trânsito e os conflitos de locomoção, principalmente daqueles que moram longe do trabalho e do Centro.
No entanto, a forma como a centralização está na proposta de revisão do Plano Diretor causa discussão entre moradores, associações e a prefeitura.
Um exemplo pode ser encontrado no Campeche, na avenida Pequeno Príncipe. Com diversas lojas ao longo da via, o trânsito fica parado nos horários de pico, impactando diretamente a mobilidade dos moradores.
Para o presidente da Amonc (Associação dos Moradores do Novo Campeche), Carlos Apollaro, antes de pensar em centralização, é fundamental delimitar quais espaços estão preparados.
“Pode existir a centralidade, mas não de uma forma genérica. É preciso demarcar as áreas com capacidade antes mesmo de iniciar esse projeto”, aponta.
“Há 30, 40 anos tudo era feito no Centro. Hoje é possível trabalhar nos bairros. O fortalecimento dessa centralidade pode gerar o uso racional das vias, seja de carro, ônibus ou bicicleta”, complementa.
O representante da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis) no Conselho da Cidade, Rodrigo Vieira, ressalta que quando o comércio está localizado em uma única via ocorre o afunilamento e todo o trânsito acaba sendo canalizado para essas vias principais, o que é “contrário ao conceito de mobilidade urbana”.
Segundo ele, a descentralização é fundamental para dissipar a concentração de veículos em vias principais.
Regras acendem discussão 6k1y5
A possibilidade de alteração nas AUEs (Áreas de Urbanização Específica) é um dos aspectos em debate.
Conforme o texto da minuta, os espaços são destinados para futuras expansões que devem ser pensadas a partir de um plano específico de urbanização, priorizando o desenvolvimento gradual, regulado por ato do poder executivo.
A permissão para construções nas planícies alteraria o coeficiente de aproveitamento do solo e, segundo o arquiteto Gustavo Andrade, seria permitido construir dez vezes mais.
Mais do que a alteração no visual, a nova opção de uso pode afetar a vida de quem já reside na região. “Os impactos ambientais decorrentes da falta de planejamento já estão visíveis em vários bairros, incluindo a falta de água, de saneamento, a erosão nas praias e poluição hídrica.
Como exemplo, temos a seca na Lagoa do Peri”, aponta o coletivo Tecendo Redes.
Opinião dos vereadores 2r4856
“Um dos maiores potenciais construtivos está concentrado em AUEs. Liberar a região para a construção, conciliando desenvolvimento econômico com preservação ambiental sempre foi o destino dessas áreas”, diz a vereadora Manu Vieira (Novo).
Ela salienta que a infraestrutura precisa acompanhar as mudanças.
O vereador Marquito (Psol) alerta para os impactos ambientais na região. “O Sul é uma região que possui características ambientais importantes e deveria ter um projeto de desenvolvimento específico.
Uma das preocupações é o afrouxamento ou a permissão para as áreas de urbanização, ou seja, da planície entre mares e da planície do Pântano do Sul”, diz.
Áreas verdes podem ter funcionalidades 13362w
A AVL (Área Verde de Lazer) é um espaço importante para os bairros, sendo utilizado para a construção de ambientes que promovem qualidade de vida e bem-estar da população.
Conforme o Plano Diretor atual, são permitidas as construções de equipamentos de apoio ao lazer, como playgrounds, sanitários, vestiários, quiosques e dependências para os serviços de segurança e conservação. Com a proposta de alteração, novas construções podem ser feitas.
A minuta prevê equipamentos e edificações de uso coletivo ou interesse público, incluindo áreas de lazer ao ar livre, quadras esportivas, edificações para fins istrativos, ambientais, comunitários, educacionais e de cultura, turísticos, comerciais e de serviços.
Proposta gera divergência 5h4m42
“Existe a opção de dar mais potencial de uso para as áreas de lazer. O que acontece hoje, quando você desmembra um lote, por exemplo, é a retirada de um espaço para o poder público. Então a cidade acaba ficando com vários terrenos abandonados”, avalia a vereadora Manu Vieira.
Uma vantagem mencionada pela vereadora é a opção de utilizar essa AVL em outra parte da cidade, realocando o espaço por meio de uma contrapartida. Como em outros pontos da minuta, a possibilidade de alteração também gera um embate.
“A mudança é preocupante porque atualmente os usos são s. Com o crescimento das opções, há a possibilidade de optar pela construção de equipamentos turísticos, até mesmo atividades comerciais e econômicas. Para o Sul da ilha há uma interferência enorme. Isso afeta os aspectos de mobilidade e de área verde nos bairros”, avalia o vereador Marquito.
Moradores e ambientalistas temem construções nas planícies do Sul da Ilha 5r4x7
Regiões possuem alto interesse imobiliário, mas construções anteriores já mostram problemas com drenagem e danos ambientais.
Ao dar uma volta pelas rodovias que cortam o Sul da Ilha, SC-045 e SC-406, você já deve ter visto longos gramados que parecem constantemente alagados.
À primeira vista, esses espaços, chamados áreas de planície, podem parecer regiões à esmo. Mas, na verdade, são espaços que vivem em grande efervescência e movimento ambiental, considerados “berços ecossistêmicos”, por absorver muita água da chuva e possuir fauna e flora específicas.
A Ilha de Santa Catarina possui algumas áreas de planície de Norte a Sul. Duas são as de maior importância ambiental, sendo consideradas áreas de preservação permanente.
A principal delas, porque é até hoje a mais preservada, é a planície do Pântano do Sul, que abraça diferentes bairros, mas principalmente Açores, Costa de Dentro e o próprio Pântano do Sul.
Desde a notícia de revisão do Plano Diretor, o temor de moradores dos bairros que contornam as planícies do Sul da Ilha é que as regiões deixem de ser áreas de preservação permanente e em a se enquadrar em categorias que permitem construções, mesmo que parcialmente.
O medo é justificável. Com o crescimento desordenado e veloz do Sul da Ilha, espaços que, à primeira vista, parecem grandes terrenos desocupados em uma das regiões mais valorizadas e disputadas do mercado de imóveis acabam despertando o interesse de empreendedores da construção civil e do setor imobiliário.
Hoje algumas das regiões de planície da cidade permitem construções limitadas, como é o caso das planícies entremares, que abraçam parte dos bairros Rio Tavares, Campeche, Tapera, Carianos, e Ribeirão da Ilha.
A vereadora Marina Caixeta (Psol) explica que a importância de acompanhar os movimentos nas regiões de planície não se dá só por ser um ambiente biodiverso, mas também essencial para o cotidiano da cidade.
“Aquela é uma área importante da cidade porque absorve e drena muita água de chuva, afinal, é um pântano. E é também a região que abastece a lagoa do Peri, que fornece água para uma boa parte da população de Florianópolis”, explica.
Em algumas partes, as mais adensadas, os alagamentos são recorrentes, a água invade não só as casas mas também vias públicas, como a SC-405.
“A planície (Entremares)possui um aquífero, por onde a toda a água da chuva. Por isso precisamos cuidar. Por exemplo, na região do Jardim dos Eucaliptos, no Campeche, já temos um grave problema de alagamento toda vez que chove entra água nas casas” aponta a presidente da Associação de Moradores do Campeche, Roseane Panini.
Segundo a prefeitura, este ponto não é uma questão e as áreas de planície não deixarão de ser de preservação ambiental. “A princípio não há nada disso que estão falando, porque todas as áreas de preservação irão continuar protegidas por lei”, afirma o secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis), Michel Mittmann.