Castelinhos e paralelepípedos: conheça a história do saneamento em Florianópolis 10372r

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No livro “O Saneamento em Dois Tempos: Desterro e Florianópolis”, o engenheiro Átila Alcides Ramos faz um histórico sobre o assunto em Florianópolis e região

No livro “O Saneamento em Dois Tempos: Desterro e Florianópolis”, o engenheiro Átila Alcides Ramos faz um histórico do saneamento na Capital e região, citando também avanços em outras cidades do Estado.

Até o século XVIII, o abastecimento era precário, feito por rios e fontes próximas dos povoados. Nem mesmo a chegada dos primeiros alemães, em 1828, para ocupar terras nos municípios da área geográfica contígua a Florianópolis, mudou o cenário.

Em 1910, homens trabalham na implantação da primeirarede de água do Estado, no Centro de Florianópolis – Foto: Divulgação/NDEm 1910, homens trabalham na implantação da primeirarede de água do Estado, no Centro de Florianópolis – Foto: Divulgação/ND

A década que começou em 1910 foi marcante para o saneamento em Florianópolis. Nesse período, o governo do Estado investiu fortemente na implantação dos primeiros sistemas de abastecimento de água, fornos de incineração de lixo e redes de coleta e tratamento de esgoto.

Uma herança desse tempo são as três estações elevatórias que bombeavam o esgoto para uma estação de tratamento localizada próximo à ponte Hercílio Luz. São os chamados “castelinhos” (situados junto às praças 15 de Novembro, Celso Ramos e dos Namorados, também conhecido como largo São Sebastião) que ainda hoje enfeitam a paisagem urbana da capital. Naquele momento, a cidade tinha cerca de 14 mil habitantes.

O rio da Bulha, como era chamado o curso d’água que veio a se transformar no canal da avenida Hercílio Luz, era a principal fonte de abastecimento da cidade, junto com outras fontes nas atuais avenida Mauro Ramos, largo Fagundes e rua Vidal Ramos.

Na segunda década do século XX, o reservatório do morro do Antão ou a receber água captada no Itacorubi e morro da Lagoa, transportada sem qualquer tratamento. Em 1922, a água do rio Tavares também ajudou a abastecer o reservatório.

A primeira fonte pública – equipamento que em todos os lugares ganhou o nome de Carioca – do Estado teria sido inaugurada em Laguna em 1863. Mais de 20 anos depois, em 1884, carroças puxadas a burro começaram a transportar lixo e fezes, até então jogados nas praias, no Desterro.

Outro fator que facilitou o bombeamento de esgoto (para não depender apenas da gravidade) na Ilha de Santa Catarina foi a energia elétrica fornecida pela usina de Maruim, em Palhoça, inaugurada em 1910.

Outras cidades do Estado, como Imbituba, Laguna, Lages e Tubarão, criaram sistemas de abastecimento de água e coleta de esgoto na primeira metade do século XX.

Com a criação da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), em 1971, as políticas públicas para a área de saneamento aram a ter uma diretriz. Hoje, a Casan atende a 198 cidades do Estado, enquanto outras 97 contam com sistemas municipais ou privados de saneamento.

Quando o lixo era recolhido e queimado 6hd2k

A primeira providência para estancar o depósito de lixo e esgoto nas praias e rios da cidade do Desterro foi tomada em 1830 pela Câmara Municipal, numa época em que a maioria das casas era construída com os fundos voltados para o mar.

Quase cinco décadas depois, em 1877, foi apresentado pedido de concessão para um serviço de remoção de lixo, águas servidas e materiais fecais, o que só aconteceu de forma definitiva em 1884.

Em 1914, foi construído o incinerador de lixo na cabeceira insular da ponte Hercílio Luz. A fumaça incomodava os moradores, mas a unidade continuou ali.

Em 1956, o lixo começou a ser depositado num “banhado” atrás do Morro da Cruz, entre o cemitério São Francisco de Assis e a penitenciária estadual.

O engenheiro Átila Ramos lembra que só em 1986 foi aberta uma concorrência pública para a aquisição de duas usinas de reciclagem e compostagem de lixo, pela prefeitura  da Capital. O projeto, contudo, não avançou.

Em 2002, todo o lixo recolhido em Florianópolis ou a ser enviado para Biguaçu, não sem antes ir, em forma bruta, para uma estação e transbordo em frente ao cemitério do Itacorubi.

Sem pavimentação, pedras eram usadas para barrar a lama 2f44n

Antes de 1816, não havia ruas calçadas na cidade do Desterro. Até ali, o máximo que as famílias faziam era colocar pedras irregulares na frente das casas para protegê-las da erosão provocada pela água das chuvas.

De acordo com a arquiteta e pesquisadora Eliane Veras da Veiga, aterrar as ruas centrais foi a solução encontrada para reduzir os lamaçais que dominavam as vias públicas nas épocas de enxurradas.

“Em 1831, a municipalidade impôs aos moradores a obrigação de cercarem os seus terrenos, regularizando desta forma a testada dos prédios urbanos, cabendo ao poder público definir o nível e a largura do calçamento”, escreveu ela no livro “Florianópolis – Memória Urbana”.

No ano de 1876, foi feito um orçamento para calçar e assentar lajes na frente do palácio do governo, na praça central da cidade. Na mesma época, foi retificado o trecho entre a rua do Senado (atual Felipe Schmidt) e o lado da praça do Palácio.

Em 1879, a via em frente à Alfândega recebeu uma calçada com dois metros de largura. Escreveu a pesquisadora: “Nos calçamentos mais antigos empregaram-se blocos de pedra dos mais variados tamanhos, multiformes, ajustados da melhor maneira possível.

A arte dos calceteiros consistia em arrumá-las como melhor pudessem e em colocar para cima a face menos irregular”. Presos que cumpriam pena na Cadeia Pública costumavam ser recrutados para trabalhar nessas obras.

No século XX, com a urbanização e as obras de infraestrutura na cidade, o calçamento com paralelepípedos alcançou a maior parte das vias da área central.

Além de facilitar o deslocamento de pedestres e veículos (inicialmente carroças puxadas por animais, depois os primeiros automóveis), isso ajudou a superar o problema da irregularidade dos pisos onde a água empossava, lembrando em parte os lameiros do século anterior.

O surgimento do meio-fio, dos bueiros e bocas-de-lobo deu uma aparência melhor às ruas e facilitou o escoamento das águas das chuvas. Com o concreto e o asfalto, posteriormente, as vias urbanas ganharam a configuração que mantêm até hoje.