Faltando menos de 100 dias para o início da Copa do Mundo de 2022, a seleção brasileira segue se preparando para a busca do sonhado hexacampeonato. E, nesta segunda-feira (15), o técnico Tite concedeu entrevista ao jornalista Marcelo Cabral, do Arena ND+.

Tite falou sobre a expectativa para o Mundial do Catar, a ligação de jogadores de Avaí e Figueiorense na seleção, a permanência ou não após a Copa, além do aumento do número de convocados.
Confira a entrevista na íntegra: 3n6573
O que mudou no Tite da Copa de 2018 para a de 2022?
Tite: Quatro anos mais velho e vários cabelos brancos [risos]. Traz consigo um legado de experiências maiores e continua com a faísca do procurar saber, procurar estudar e evoluir. Tomara que eu possa representar dentro do campo esta melhoria.
Com tantos jovens atacantes bem, existe a possibilidade de uma seleção com Neymar no banco?
Tite: O Neymar não. É muita qualidade. Isso falando em condições normais, ele estando fisicamente bem, estando jogando no seu clube. Não tem como, pela grande qualidade e pelo extraordinário atleta que é.

Estudo dos adversários da Copa: Sérvia, Suíça e Camarões
Tite: Temos uma comissão técnica que eu delego responsabilidades e funções. Uma delas é este acompanhamento das equipes adversárias, de modo que tenhamos profundidade nas nossas análises. Eu não tenho humanamente a capacidade para fazer a istração de todos estes fatores. Fico atento agora a performance individual dos atletas nos seus clubes e acompanhando jogos importantes.
Qual o adversário mais difícil entre esses três?
Tite: Estando há 100 dias da Copa conseguimos ter um panorama. Mas ali na frente teremos uma condição mais real. São escolas diferentes, sabemos que a Suíça é uma equipe mais fechada, de contra-ataque, mais posicional, de mais contato físico, diferente de Camarões que é uma equipe mais intensa, de força e transição. Já a Sérvia é uma equipe que propõe, que gosta de jogar, que faz marcação alta. São estilos diferentes.
Vai permanecer na seleção após a Copa?
Tite: Vou deixar a seleção após a Copa do Mundo. Esse é um processo de maturidade, existem outros profissionais para seguir. Esse legado que foi dado me permite desenvolver um ciclo em termos de trabalho. Quero fazer o melhor trabalho possível, mas também com maturidade para deixar um legado para os outros profissionais que possam vir.
“Personagens” do futebol catarinense na seleção (Raphinha, Firmino e Gabriel)
Tite: O Firmino está retomando seu melhor nível, se consolidando, o Gabriel Magalhães está em um processo evolutivo e o Raphinha mais ainda em uma grande surpresas para mim, particularmente. Foi essa prospecção por parte da comissão técnica que trouxe o Raphinha, não fui eu que analisei ele. A partir daí veio uma evolução do próprio atleta.
Confira a entrevista em vídeo: 4p4867
Aumento do número de convocados de 23 para 26
Tite: Os outros técnicos não queriam, eu senti isso quando nos reunimos no sorteio da Copa do Mundo. Democraticamente foi colocado de 23 a 26, que os profissionais escolham. Para mim é interessante, porque há uma geração nova surgindo e você consegue mesclar alguns atletas experientes com outros mais jovens.

Como a Copa no fim do ano contribui para a performance física de atletas que jogam na Europa?
Tite: Vou pegar uma observação que o Carlo Ancelotti [técnico do Real Madrid] fez ontem. Ele falou que o cuidado maior que terá no retorno do Mundial será na parte mental. Esse aspecto é fundamental, porque primeiro se joga futebol com a cabeça, o teu corpo vai reagir ao teu estímulo. Os atletas europeus estarão menos pressionados porque não vão estar nas finais das grandes competições, isso é um fator importante. Assim como o aspecto físico, eles vão estar em melhores condições na sua teoria, diferentemente dos nacionais, onde tanto no aspecto físico quanto mental a exigência e o desgaste estarão fortes.
Atleta que atua na Europa conhece mais de tática, é mais disciplinado que o brasileiro?
Tite: Nós temos grandes profissionais aqui no Brasil. Se pegarmos na América do Sul, os últimos cinco campeões mundiais [por clube e seleção] eles são todos técnicos brasileiros. Hoje nós temos a CBF Academy onde você pode aperfeiçoar atletas, ex-atletas com o estudo para analisar e ar para quem está assistindo o que realmente acontece. O jogo tático é um jogo real, que dá para enxergar. Essas evoluções acontecem cada vez mais. O atleta desta nova geração quer saber o porque das coisas.
Vontade de enfrentar a Argentina antes do Mundial em jogo atrasado das Eliminatórias
Tite: Você precisa fazer as coisas que são justas no âmbito do esporte. Nós fizemos tudo o correto e ficamos em campo. Houve uma série de intervenções e aí entra no processo jurídico, instituciona. Falando apenas no aspecto técnico, se fosse lá pela 13ª ou 14ª rodada, legal, mas agora sendo pela 18ª rodada, eu tendo a chance de ter um atleta expulso e não jogar o primeiro jogo da Copa seria um prejuízo técnico enorme. Essa análise é contextual. Deveria acontecer? Sim! Como a 13ª rodada e logo depois? Sim! Mas agora? Aí leva uma série de aspectos.
Pressão aumenta por repetir o técnico da última Copa?
Tite: A pressão é sempre a mesma na busca da excelência. Nas últimas 13 Copas do Mundo este é o quinto ciclo que será completo, normalmente se interrompe no meio das Eliminatórias, cai técnico, assume outro. Foi conosco na outra Copa, assumimos na metade de um trabalho, agora temos a oportunidade de um ciclo completo. Eu acredito numa real avaliação quando há um trabalho com início, meio e fim.
Top 3 das favoritas para o Mundial
Tite: Brasil, França, não dá para deixar fora uma reformulação de Alemanha e Inglaterra, uma Bélgica que tem uma qualidade técnica extraordinária e a Argentina que vem fazendo uma grande campanha também.
O que sente mais falta de fazer que não consegue agora como técnico da Seleção?
Tite: Eu consigo me organizar em relação a isso. Eu vou ficar em casa, vou fazendo meu trabalho, é também meu dever ar para o público aquilo que é o nosso trabalho. Informação verdadeira é a melhor prevenção. Claro que tenho meu livro, minhas orações e meu café que está junto quando o chimarrão não acompanha [risos].