Fórmula pouco cativante, estádios precários, públicos minguados e geografia, por vezes, desconexa. Esses são alguns dos elementos pinçados pelo Arena ND+ para diagnosticar uma competição tão aquém do que, de fato, é a história do futebol de Santa Catarina.
O gatilho do final de semana veio em uma pixotada da FCF (Federação Catarinense de Futebol) que foi avalista de um pedido da emissora detentora dos direitos de transmissão do campeonato, de transferir a rodada devido a disputa da Supercopa do Brasil entre Palmeiras e Flamengo.

Entre alguns dos jogos que foram empurrados para o final de semana que vem estão vários clássicos: Concórdia x Chapecoense, Marcílio Dias e Camboriú, além do maior entre os maiores: Avaí x Figueirense.
O resultado de toda essa lambança ficou escancarado ao constatar que o único estadual do país que ficou completamente parado nestes dias foi o de Santa Catarina.
Se o campeonato não entregou, não cativou e parece não ter engrenado até agora, é nesse momento que um grande ponto de interrogação é levantado.
Protestos e omissão 545h73
Depois de encaminhar uma nota, na última semana, informando a transferência de toda a rodada de número 5 do Campeonato Catarinense, a FCF adotou o silêncio.
Trocedores do @AvaiFC e @FigueirenseFC unidos nas redes sociais para lembrar que hoje foi um dia de muita vergonha para o futebol de Santa Catarina. pic.twitter.com/hI7ChUbmaC
— FÁBIO MACHADO (@_fabiomachado) January 28, 2023
A reportagem do ND+, desde o início da semana, vem em busca de um contato ou de um manifesto da entidade, sobretudo, diante da mudança do calendário e até mesmo do nível técnico apresentado, até agora, na competição. Apesar da insistência, no entanto, não foi obtido um retorno.
Em paralelo muitos manifestos frente a uma mudança que, com o ar dos dias, se tornou ainda mais inexplicável. Torcedores de Avaí e Figueirense, por exemplo, se uniram e até fizeram uma parte clamando por “mais respeito” pelo futebol de Santa Catarina.
“Eu me lembro do Campeonato Catarinense lá na década de 90, que só nós sabia [sic] que os times daqui iam jogar”, revelou Roberto de Andrada, 63 anos, manezinho e torcedor do Figueirense, às vésperas do duelo contra o JEC onde as equipes empataram em 1 a 1.

“Por isso que ninguém sabe dos nossos clubes. Na verdade sabem cada vez menos. Só sabem que existe, mas tão cada vez mais perdendo a relevância”, disse um torcedor do ville de 37 anos, que pediu para não ser identificado.
Não há, no momento, um entendimento externo de que o estadual vá ter uma mudança na fórmula. Um manifesto do presidente da FCF, Rubens Angelotti, em entrevista concedida ao canal do Polidoro Júnior, chamou a atenção já que ele revelou que o formato “ideal” teria que incluir não mais que oito clubes.
Cadê o público? 3r2w6z
A segunda rodada do Campeonato Catarinense de 2023 trouxe três jogos com públicos inferiores a 700 pessoas. De seis jogos disputados, três deles, não conseguiram somar 1,5 mil torcedores.
A 3ª rodada não repetiu em número de jogos, mas trouxe um duelo entre Concórdia e Barra, no Oeste de Santa Catarina, para 460 pessoas. Os “guerreiros” presentes testemunharam um pobre 0 a 0 no improvisado estádio Domingos Machado de Lima.
O palco do Concórdia a por reformas e oferece, em parte da sua estrutura, arquibancadas metálicas. Atualmente são 2,6 mil lugares disponibilizados em espaços “móveis” sendo 260 para o torcedor visitante.

Na 2ª rodada o mesmo Concórdia recebeu o Figueirense e, nem o gigante alvinegro foi capaz de catapultar os números: 637 pessoas viram o empate sem gols entre as equipes, onde totalizaram uma renda de R$ 16.795,00.
A última rodada chegou e mostrou que os números podem ser ainda piores: foram 305 pessoas presentes para acompanhar Barra e Atlético Catarinense, vitória do time de Hemerson Maria por 1 a 0. A renda do jogo não bateu em R$ 6 mil: R$ 5.995.
Do outro lado, o maior público – os maiores, na verdade – ficou em Criciúma: foram 8.856 torcedores para Criciúma e Concórdia, na primeira rodada; e 8.879 na última quinta-feira (26). Rendas dos jogos foram parecidas com R$ 170 e R$ 180 mil, aproximadamente.
Em 24 jogos disputados nesse começo de campeonato tivemos um público total de 67.813 pessoas. Esse total poderia, muito bem, ser o número de presentes em apenas um jogo, mas engloba todos o que foram disputados nessas quatro rodadas. Com base nele a média do público está em tímidos 2,8 mil por partida dando a certeza de jogos deficitários para todos os participantes.

“Eu acho os jogos bem caros, vou ser sincero. Ao menos pra mim, eu não tenho como ir em todos os jogos, acho que poucas pessoas têm condições. Já fui sócio mas tive que optar por não ser mais” contou Bruno de Oliveira Lopes, torcedor do Avaí de 39 anos.
Conforme levantamento da reportagem, ingressos para um jogo do Campeonato Catarinense giram entre R$ 20 e R$ 120, sempre com possibilidades intermediárias denominadas “meias”.
Geografia desconexa 6p464a
Se os grandes clubes de Santa Catarina são indiscutivelmente conhecidos e levam suas cidades, praticamente, em seus nomes, tem uma fatia da competição que atravessa a lógica e dobra o raciocínio geográfico no meio.
Enquanto Avaí e Figueirense, Criciúma, JEC, Chapecoense e Brusque têm palcos conhecidos e indiscutíveis em todo o Brasil, os demais, no entanto, necessitam consultas paralelas.
O Concórdia, apesar de estruturas provisórias, joga em estádio que é seu. O Hercílio Luz, em Tubarão, a mesma coisa. O Marcílio Dias joga no lendário Dr. Hercílio Luz, em Itajaí.
O Barra, que é de Balneário Camboriú, manda seus jogos em Itajaí, no Dr. Hercílio Luz. Já o Camboriú, que é da cidade de Camboriú, manda seus jogos no vizinho e coirmão Balneário Camboriú, no estádio das Nações, em concessão adquirida pelos próximos 20 anos.
O novato Atlético Catarinense é de São José e manda seus jogos em Florianópolis, no estádio Orlando Scarpelli. Primeiro jogo do time que foi fundado em 2020 e, pela primeira vez, disputa a Série A, contou com 566 pessoas no bairro do Estreito, em jogo com ingressos entre R$ 20 e R$ 30.
(falta de) Estrutura e horários 4n3ja
Outro ponto é o problema dos horários dos jogos da competição. Na segunda rodada, por exemplo, a partida entre Concórdia e Figueirense foi disputada às 16h de uma quarta-feira.
A situação aconteceu em função de problemas nos refletores do estádio Domingos Machado de Lima, em Concórdia.
A situação seguiu no dia seguinte. O Barra enfrentou o Criciúma no estádio Dr. Hercílio Luz, em uma quinta-feira à tarde, uma vez que o estádio também enfrenta problemas com a iluminação. Apenas 519 “almas” compareceram ao jogo.
Na rodada seguinte, embora tenha acontecido em um sábado, a partida entre Marcílio Dias x Avaí no mesmo Gigantão das Avenidas também ou para o período da tarde diante de um forte calor em Itajaí que cruzou a barreira dos 30°C.
Média de gols 1t2a2r
Se os públicos da edição de 2023 do Campeonato Catarinense não empolgam, a média de gols ajuda, em partes, a explicar o “desinteresse” do público pela competição.
Desde 2021, quando foi aderido o atual formato com 12 clubes disputando a primeira divisão, neste ano é onde há a menor média de gols após as quatro primeiras rodadas da competição.

Até aqui foram “apenas” 30 gols nas 24 primeiras partidas do campeonato, com média de 1,25 por partida. A edição de 2022 somou 38 gols no mesmo período, enquanto a de 2021 teve 46 bolas na rede.
Os poucos momentos de comemoração, até aqui, são refletidos na artilharia do Campeonato Catarinense. Reportagem do Arena ND+, deste sábado (28), escancara a escassez de gols, até aqui, ao ser balizada em cima do centroavante Olávio, do Brusque.
O atleta soma quatro gols no Campeonato Catarinense e, além de artilheiro, tem mais gols sozinho do que oito dos outros 11 times do campeonato.
Cultura plural 5k6b3a
Afora todas as questões enumeradas ao longo da reportagem, é importante enaltecer a cultura do futebol local.
Com uma característica bem específica em relação aos gigantes do futebol nacional, são pelo menos cinco grandes camisas que adentram a competição com “favoritismo”. Há, ainda, um emergente Brusque que é o atual campeão e ocupa a liderança do campeonato.
Essa constatação deixa muito clara a pluralidade do futebol local que, definitivamente, está sendo subaproveitada.