Diz-se que não há nada mais íntimo e familiar do que a casa da gente. Para o Vasco, a máxima é derradeira: desde que o clube voltou a mandar os jogos com torcida em São Januário, o clube saiu derrotado apenas uma vez: contra o Internacional, no dia 26 de outubro, pelo placar de 2×1.

Naquela ocasião, o cruzmaltino pouco teve o que fazer ante uma noite inspirada de Enner Valencia. Mas na última segunda-feira (6), teve muito o que fazer para parar o desidratado Botafogo – que sentiu o baque e já não vence há 3 jogos.
Muito disso se deu na garganta da torcida. O Vasco foi capaz de anular por completo o rival – e mais, não o deixar respirar. Assim como também não respirava o vascaíno que pulsava nas arquibancadas.
Essa ressonância entre clube e torcida se mostrou fisicamente em maior entrega dos jogadores – um sistema defensivo impecável que deu merecida folga a Léo Jardim.
Completando a poética de um clássico de opostos – um líder, outro fugindo da Zona, um herói improvável para coroar uma vitória que ninguém esperava: o lateral Paulo Henrique.
Pela direita, o garoto trouxe Paulinho para trocar es nas costas de Marçal. Num espasmo inexplicável, levou a gordinha para o centro do campo e chutou forte, de fora da área, para ensandecer a própria estrutura de São Januário.

Últimas partidas do Vasco em casa 5nn1v
Desde que a Justiça derrubou a liminar que impedia o povo no estádio, no dia 14 de setembro, são 7 jogos: 5 vitórias, 1 empate e uma derrota.
Além do Botafogo, também caíram Atlético-MG, Fluminense, Coritiba e Fortaleza; nesta ordem. Contra o São Paulo, um empate sem gols.
Agora fora da zona, o Vasco ainda enfrenta, na casa própria, América-MG, Corinthians e Bragantino.
Por que a torcida foi barrada? 5j4g5u
A confusão é longa e complexa. Primeiramente, é preciso compreender onde fica localizado São Januário.

Segundo a sabedoria popular, a antiga AMEA boicotava a presença de negros e operários no futebol – à época, boa parte do plantel vascaíno. O clube foi, então, proibido de competir junto aos demais.
A desculpa? O time não tinha estádio.
A solução? Construir um estádio.
Em abril de 1927, São Januário foi construído por iniciativa da própria torcida logo quando o clube migrou das regatas para o futebol. O apelido de “Gigante da Colina” nasceu em decorrência da topografia da região: mais elevado em relação à baía.
Pouco depois, o então presidente Getúlio Vargas doou o terreno no entorno para que a Igreja Católica construísse cassa populares. Ao longo do tempo, essas casas formariam a chamada Barreira do Vasco – comunidade que hoje abriga mais de 25 mil pessoas. Isso deu ao clube um caráter popular que o diferia dos outros quatro grandes do Rio – mais brancos e mais ricos.
Com o bairro em volta do estádio levando o nome do clube, é de se esperar que se forme uma relação íntima entre as partes – quase como um apêndice do time tomando parte da cidade.
Pulando aos tempos modernos, o estopim para a proibição da presença de público em São Januário foi numa partida contra o Goiás, ainda no primeiro turno do Campeonato Brasileiro deste ano.
Após uma confusão generalizada envolvendo torcedores, a Justiça carioca decretou que o estádio seria interditado.
Mesmo após cumprida a pena na esfera desportiva, a Justiça comum optou por manter a decisão sob preceito de que o lugar, em decorrência da localização, não era ível de receber partidas – por mais que o fizesse por mais de 100 anos.
Acordo entre Vasco e Ministério Público libera torcida 3x5473
O estádio foi “reinaugurado” em setembro, após a Justiça do Rio de Janeiro suspender a liminar que impedia a presença de torcida na estrutura.
O Vasco enfrenta o América-MG, em casa, no próximo domingo (12). O que acontece a partir de agora, é história.