SAF, uma sigla que vem se transformando em esperança para inúmeros torcedores – e times. A Sociedade Anônima do Futebol foi efetivada em 6 de agosto de 2021, pela Lei 14.193/2021. Apesar de o conceito ser mais antigo, a SAF só ou a ser legal há pouco menos de oito meses e, a partir dela, permite que os clubes de futebol se transformem em empresas, uma tentativa de profissionalizar o futebol, como já acontece em outras ligas, como a NBA.

E o que esse modelo tem a ver com o JEC? Desde que a lei foi promulgada, uma comissão foi formada dentro do clube para avaliar a viabilidade e o melhor caminho para tornar o JEC uma “empresa” a fim de mudar o cenário de gestão dos últimos 46 anos.
Para que um clube possa deixar de ser uma instituição teoricamente sem fins lucrativos para ar a ter uma gestão profissional há obrigações formais amparadas na legislação e que devem ser adotadas pelos clubes como a transparência e a adoção de medidas de gestão. Além disso, o Conselho Deliberativo do clube precisa aprovar a mudança de modelo.
No caso do JEC, esse processo começou logo após a aprovação da lei com a criação de uma comissão. O coordenador da comissão JEC-SAF, Geraldo Campestrini, explica que a comissão foi criada abraçando todas as esferas do clube, com Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria Executiva.
A primeira fase, iniciada logo após a promulgação da lei, foi a de estudo, ressalta. “Ouvimos especialistas, pessoas que lideraram processos similares de constituição de clubes empresas, como foi o caso do Red Bull Bragantino, consultorias, tudo para trazer um pouco da visão de cada um e fomos mesclando isso com os nossos debates para o que queríamos para o JEC”, conta.
Além de Campestrini, fazem parte da comissão: Edigar Zimmermann, Joffrãn da Silva, Leonardo Roesler, Maycon Truppel Machado e Roberto Pugliese Junior. Além dos membros efetivos da comissão, o presidente Charles Fischer, o presidente do Conselho Deliberativo, Darthanhan Oliveira, e o presidente do Conselho Fiscal, Alexandre Poleza, acompanham o processo.
Ele reforça, ainda, que alguns cuidados foram tomados para que o direcionamento fosse assertivo no melhor caminho para o que se pretende para o JEC, como desviar de investidores agressivos, daqueles que possuem histórico de promessa e não cumprimento e, ainda, daqueles que alteram a identidade e história dos clubes.
“Procuramos entender os riscos e benefícios e optamos por modelos híbridos, com investidores qualificados com experiência em processos parecidos, seguindo essa lógica de esporte e entretenimento, como acontece nas ligas americanas e mesclando com a participação da comunidade através de investimento minoritário de torcedores ou empresas locais, para que também em a olhar o JEC com uma perspectiva de investimento, não de ajuda”, salienta.
O modelo preliminar definido pela comissão foi de divisão das ações do JEC em 51% para o investidor maioritário e 39% para os minoritários. Dentro dos minoritários há um teto de 2% para pessoa física e 5% para pessoa jurídica. No entanto, esse modelo pode ser alterado. “Vamos ter de nos adaptar ao mercado”, frisa Campestrini.
A primeira fase de estudo e direcionamento foi apresentada e aprovada pelo Conselho Deliberativo ainda em novembro e, depois disso, o projeto foi apresentado em Assembleia aberta à comunidade. A partir da primeira fase, veio o próximo o: contratar uma empresa especializada. Mas, há também o problema: o JEC possui recursos – muito – limitados. “Estamos extremamente defasados no conceito de profissionalização, ainda defendemos o trabalho voluntário, que é ruim para a instituição”, comenta o coordenador da comissão.
Os trabalhos foram retomados em meados de janeiro, a fim de analisar as propostas enviadas pelas empresas para a consultoria. No total, 10 empresas apresentaram suas propostas e direcionamentos de trabalho e duas foram as “finalistas”, a Contea Capital e a Win The Game. Novamente as empresas apresentaram suas propostas baseadas em um edital formulado pela comissão para nortear as empresas a seguirem no caminho que o clube deseja para dar andamento ao processo.
A consultoria deverá realizar um diagnóstico do clube, apresentar o valuation, um plano de negócios e o road-show ao fim da consultoria. O valuation nada mais é do que a valoração do clube, ou seja, quanto o JEC “vale” para ser negociado e o road-show é a proposta de apresentação para potenciais investidores.
Após a apresentação, a escolha da comissão foi pela Win The Game, que possui parceria com a Ernst & Young em outros clubes, como Fortaleza e Sport. “Da decisão, alinhamos com o presidente Charles Fischer a possibilidade de o JEC arcar com o investimento. Negociamos os valores, o parcelamento e a comissão para a empresa pelo sucesso em caso de venda. Agora, estamos na fase de contrato para que a empresa possa efetivamente iniciar os trabalhos”, explica.
Investimento e “valor” do JEC no mercado 4a1y3o
O clube investirá R$ 200 mil para a consultoria, valor que foi negociado e será diluído em 10 prestações. Além disso, a comissão foi negociada e, em caso de venda, a empresa fica com 5% do valor negociado.
O presidente Charles Fischer explica que o clube está com problemas financeiros e, devido às dívidas com impostos, que somam R$ 17 milhões, e estão bloqueando as contas do JEC. “Fica difícil de trabalhar, antes não existia esse bloqueio e está inviabilizando o andamento do clube, o clube está ficando inviável. Precisamos resolver isso para quem sabe colocar esse valor extra no orçamento do clube”, diz.
O valor do JEC, aliás, é outro ponto que, ressalta Campestrini, foi um “balde de água fria”. “Tínhamos falado em R$ 100 milhões, mas hoje, na situação do clube, falamos em ⅓ desse valor que mensuramos inicialmente. Quando se fala em valuation, a conta é na ordem de três, podendo chegar a quatro vezes o valor do faturamento e no JEC chegaríamos a, no máximo, R$ 35 milhões. Esse foi um balde de água fria e uma das defesas da Win The Game foi justamente nesse sentido. Eles são partidários de vender no momento certo, pensar na estruturação inicialmente e vender em um momento que o clube estiver melhor”, diz.
Campestrini não rechaça, ainda, a hipótese de recuperação judicial, que chegou a ser levantada no clube. “Hoje, é praticamente equalizar a dívida se mantivermos esse montante. Vamos aguardar a consultoria, houve conversas nesse sentido [de recuperação judicial], mas vamos aguardar a consultoria, até porque a lei discute, nesse momento, uma responsabilidade solidária da SAF com as dívidas do clube, a justiça tem caminhado para outro entendimento”, comenta.

Outra possibilidade, explica o coordenador, é abrir, em um primeiro momento, a negociação para os acionistas minoritários caso o valuation se confirme tão abaixo do que se esperava. “Assim começa a ter um aporte, a estancar as dívidas de curto prazo, colabora e, quando o clube estiver em uma melhor situação esportiva e econômica, pode vender por mais. Também é uma possibilidade”, fala.
Mas, para quem espera que esse processo aconteça a curto prazo, terá que ter paciência. A consultoria tem, a partir de agora, cinco meses de trabalho para avaliar as contas do clube e toda sua estrutura para realizar o diagnóstico, o valuation e o plano de negócios que é, basicamente, o documento que norteará as apresentações aos investidores com o potencial de negócio do JEC, apresentando onde o dinheiro será investido e como será o retorno.
Quanto às negociações, Campestrini é taxativo: pode sair em um mês ou cinco anos. “O que o mercado tem sinalizado é que os investidores estão com apetite para a compra dos maiores clubes e que a tendência é que os clubes médios e pequenos entrem em uma segunda ou terceira onda de SAF”, avalia.
A Win The Game em parceria com a Ernst & Young deve iniciar os trabalhos em maio encerrando no final de setembro e, a partir daí, abre-se uma nova fase a partir do diagnóstico e, principalmente, da valoração do clube que irá definir o momento e maneira de negociação do JEC com os investidores.
“Nós entendemos a angústia de achar uma solução rápida, mas nem sempre a mais rápida é a melhor e pode deixar outras consequências indesejáveis ou tornar o clube inviável. Temos tomado todos os cuidados, ouvido profissionais, várias correntes, padronizando processos e entendendo as melhores dinâmicas que o mercado tem apresentado, inclusive com os cases que tem aparecido e os problemas que estão ocorrendo”, diz.
O coordenador ainda cita exemplos que estão em pauta atualmente com o processo de transformação de gestão.”Estamos vendo o Botafogo com melhor sucesso porque eles estão discutindo antes mesmo de existir SAF, desgastou essa discussão na política interna. É um processo muito mais maduro. O do Cruzeiro foi feito às pressas, de forma acelerada e estão aparecendo problemas. No Red Bull Bragantino, a RBR ficou mais de um ano analisando profundamente as contas do Bragantino antes de efetuar uma compra. Nosso maior trabalho é profissionalizar e proteger a história e a marca JEC”, finaliza Campestrini.
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