Se essa Copa fosse hoje: como é o Catar no período habitual dos Mundiais 6m492y

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Calor intenso, umidade e tempestades de areia impediram a Copa de ser realizada no meio do ano, como é o padrão; conheça mais sobre o país

Em outros tempos, milhares de pessoas estariam reunidas a partir dos próximos dias em um único país para acompanhar mais uma edição da Copa do Mundo. A da Rússia, em 2018, começou em 14 de junho. A do Brasil, em 2014, em 12 do mesmo mês. Porém, ao contrário das demais edições, o Mundial de 2022 vai acontecer apenas no fim do ano.

Início do Mundial será no dia 21 de novembro - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
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Início do Mundial será no dia 21 de novembro - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
Doha, capital do Catar, já está pronta para receber a Copa do Mundo - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
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Doha, capital do Catar, já está pronta para receber a Copa do Mundo - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal

O principal motivo para que esta edição comece apenas em novembro é o forte calor associado à alta umidade do ar nesta época do ano no país. Agora em junho, o Catar vive o início do verão com as temperaturas beirando os 50°C.

A reportagem do ND+ conversou com dois brasileiros que moram no país da Copa e relataram as dificuldades para se fazer qualquer tipo de atividade física ou mesmo do dia a dia nesta época do ano.

Estádio 974 foi construído com contêineres e receberá o segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo – Foto: Diogo Maçaneiro/arquivo/NDEstádio 974 foi construído com contêineres e receberá o segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo – Foto: Diogo Maçaneiro/arquivo/ND

“O grande problema não é apenas o calor, mas sim o ‘bafo’ da umidade que fica no ar. Você não consegue respirar. Você se sente esgotado em dois minutos. É um negócio que te ‘suga’, é algo como nunca vi na minha vida”, conta o brasileiro Gabriel Aguiar.

Natural do Rio de Janeiro (RJ), Gabriel mora e trabalha no país da Copa do Mundo desde outubro de 2021 na área de tecnologia.

Lusail, palco da estreia do Brasil e da grande final da Copa do Mundo – Foto: Diogo Maçaneiro/arquivo/NDLusail, palco da estreia do Brasil e da grande final da Copa do Mundo – Foto: Diogo Maçaneiro/arquivo/ND

Segundo o brasileiro, o ar condicionado acaba sendo a solução para aguentar as altas temperaturas, uma vez que, do lado de fora do escritório onde ele conversou com a reportagem, os termômetros marcavam incríveis 47°C durante a tarde desta quinta (9) em Doha.

“Seria absolutamente inviável ter uma Copa no Catar nesta época do ano. Você até pode ter um sistema refrigerado nos estádios e na arquibancada. Porém, quando acabar o jogo, o pessoal vai querer sair, conhecer a cidade, os pontos turísticos e não vai conseguir”, explica.

“Para ser ter uma ideia, ontem (8 de junho) à tarde fui fazer alguns trabalhos externos e eu não conseguia respirar. Parece que tem um peso esmagando seu peito.”, completa.

“A gente nunca se acostuma” 14341k

Morando no Catar há pouco mais de sete anos, a brasileira Vanessa Gerônimo de Moraes, de 41 anos, conta que, apesar do tempo relativamente longo como residente no país, ainda não conseguiu se adaptar ao forte calor.

“A gente não se acostuma nunca. Hoje eu fui ao shopping e estava 49°C. Quando saí do carro, senti como se tivesse aberto um forno e vindo aquela onda de calor no meu rosto”, conta.

Vanessa em frente ao estádio Al Bayt, em Al Khor, no Catar – Foto: Arquivo Pessoal/NDVanessa em frente ao estádio Al Bayt, em Al Khor, no Catar – Foto: Arquivo Pessoal/ND

“Mais para frente um pouco a tendência é piorar. Entre agosto e setembro começa o tempo da umidade, chegando algumas vezes a 70%. Ou seja, a temperatura marca 38°C, mas a sensação térmica é de 56°C. É a sensação de estar em uma sauna”, completa.

Triatleta, Vanessa conta que normalmente os exercícios são praticados durante o período da noite ou mesmo na madrugada.

“Hoje, por exemplo, o ‘melhor horário’ seria às 4h da manhã, onde vai estar 28°C. De noite os termômetros devem marcar na casa dos 33°C. Você não tem o sol te queimando, mas é extremamente quente”, pontua.

Ela conta ainda que, durante esta época do ano acontecem as férias escolares, que costumam ter duração de três meses, período do verão catari.

“A maioria das mães não trabalha aqui no país. E como esse período de férias dura três meses, normalmente elas pegam os filhos e vão para os países de origem. É difícil você fazer qualquer atividade com a criança ao ar livre”, conta. Vale ressaltar que cerca de 80% dos cerca de 3 milhões de habitantes do Catar é de estrangeiros.

Outro ponto a se ressaltar são as fortes tempestades de areia que atingem o país normalmente no início do verão.

Vanessa registrou tempestade de areia no Catar - Vanessa Gerônimo de Moraes/Arquivo Pessoal
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Vanessa registrou tempestade de areia no Catar - Vanessa Gerônimo de Moraes/Arquivo Pessoal
Cenário de filme? Região de Doha em dia de tempestade de areia - Vanessa Gerônimo de Moraes/Arquivo Pessoal
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Cenário de filme? Região de Doha em dia de tempestade de areia - Vanessa Gerônimo de Moraes/Arquivo Pessoal
Tempestade de areia se
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Tempestade de areia se "aproximando" em Doha - Vanessa Gerônimo de Moraes/Arquivo Pessoal

“Normalmente é no início do verão. Mas a vida segue normalmente. Eu só peguei uma muito forte [tempestade de areia] em que todo mundo ficou três dias trancado dentro de casa. Mas já faz uns 7 anos. Nos dias empoeirados alguns usam máscaras e a maioria evita atividades externas”, explica Vanessa.

Veja vídeos das tempestades de areia no Catar: 3vh2y

Tempestade de areia em Doha no dia 17 de março – Vídeo: Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal

Gabriel registrou tempestade de areia no dia 17 de março – Vídeo: Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal

Até quando vai o calor? v2k4w

A tendência é que o forte calor siga no país até o fim de agosto. No início do mês de setembro, as temperaturas costumam começar a baixar. Em novembro, quando começa o Mundial, a tendência é de estarem muito agradáveis.

“Estive aqui ano ado justamente nesta época [novembro]. Posso dizer com convicção, é um clima muito agradável. Você não sente frio nem calor. Algo em torno de 23°C, 24°C, é prazeroso, te dá vontade de ear”, conta Gabriel.

Gabriel posa em frente a relógio com contagem regressiva para a Copa do Mundo, localizado na orla de Doha – Foto: Arquivo pessoal/NDGabriel posa em frente a relógio com contagem regressiva para a Copa do Mundo, localizado na orla de Doha – Foto: Arquivo pessoal/ND

“Já em dezembro as temperaturas ficam um pouco mais baixas, dá até para puxar um casaco. Ano ado chegou a bater a casa dos 10°C. Tive até que comprar um casaco de couro [risos]”, completa. A final da Copa será em 18 de dezembro.

Um Catar em obras 4e4o3

Outro ponto que seria um impeditivo para o acontecimento do Mundial neste mês seriam as obras que rondam por toda a região de Doha, a capital do país.

“Tem obra em todo lugar aqui em Doha. Eu não consigo ir para a casa sem ver ’30 obras’. Não vejo a hora de acabar, inclusive. Às vezes tem uma rua fechada, aí uma rodovia que era em quatros pistas, só tem duas abertas”, relata Gabriel.

Doha segue em obras para receber a competição no fim do ano - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
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Doha segue em obras para receber a competição no fim do ano - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
Obras seguem nas ruas da cidade - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal
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Obras seguem nas ruas da cidade - Gabriel Aguiar/Arquivo Pessoal

Vanessa conta que a maioria das mudanças tem acontecido nas ruas. “O que acontece é que o Catar não tinha rede fluvial e de esgoto e então começaram a fazer. Isso não é apenas pela Copa, mas também por um projeto de expansão para o turismo”.

“Nas áreas mais próximas aos estádios e nas áreas turísticas vai estar tudo pronto, com certeza. Nos bairros que são mais distantes, as obras continuam neste sentido de fazer as linhas de esgoto”, completa.

Costumes do Catar e dicas para quem for ao Mundial 4o502g

Para turistas em geral, a dica é não desrespeitar os símbolos islâmicos nem captar imagem de ninguém sem autorização. Especialmente mulheres.

“O Catar realmente tem leis diferentes das que temos conhecimento. É um país de cultura islâmica. A dica para quem vier é respeitar os costumes do país”, reforça Gabriel.

Museu de Arte Islâmica que fica no Mia Park, em Doha, no CatarMuseu de Arte Islâmica que fica no Mia Park, em Doha – Foto: Rafaella Moraes/Arquivo Pessoal/ND

“O que o governo está pedindo é que respeitem a cultura local”, pontua, na mesma linha, Vanessa.

Bebida alcoólica só com autorização muito restrita 3d1934

Além disso, é bom reforçar, não se comercializam bebidas alcoólicas no Catar. A pessoa pode até mesmo ser presa se estiver portando uma sem autorização.

“Há bastante burocracia. Você precisa ter uma carta da sua empresa dizendo que não tem objeção a você consumir a bebida, outra carta da sua empresa mostrando quanto você ganha, tudo isso para você conseguir ter uma carteira do QDC, que é o único mercado do país que comercializa carne de porco e bebidas alcoólicas”, conta Gabriel.

Local em Doha, país da copaDica para quem for ao país é que respeite os costumes locais – Foto: Rafaella Moraes/Arquivo Pessoal/ND

“Então você agenda no site um dia para ir lá [QDC]. Se você for aprovado, você ganha uma carteirinha e aí você tem um limite para consumir mensal”, completa.

Para turistas, até se consegue beber uma cerveja em Doha, mas apenas em poucos hotéis e por um preço altíssimo. Uma long neck chega a custar R$ 70. Supermercados em geral não a vendem.