Poucos atletas no mundo podem se vangloriar de ter uma carreira tão vitoriosa quanto Clodoaldo Silva. O potiguar de 38 anos, que está na Capital para acertar detalhes da Semana Inclusiva da Grande Florianópolis – que será em setembro –, foi o primeiro grande ídolo do esporte paralímpico brasileiro.

Ao todo, o nadador conquistou 14 medalhas em cinco Paraolimpíadas, seis delas douradas só em Atenas 2004, que lhe renderam os apelidos de Clodoágua e Tubarão Paralímpico. A última foi a prata no revezamento 4×50 m livre, ao lado de Daniel Dias, Joana Maria Silva e Susana Ribeiro, na Rio 2016, antes de encerrar uma trajetória de 20 anos como nadador profissional.
Mas a maior emoção de Clodoaldo foi vivida fora das piscinas, quando ele foi escolhido para acender a pira olímpica na Paraolimpíada de 2016. “Era um sonho que eu tinha, mas sabia que quase improvável, porque só ex-atletas são escolhidos para acender a pira. Eu lembro que estava cozinhando quando o [presidente do COB, Carlos Arthur] Nuzman me ligou e disse que o meu nome tinha sido escolhido por unanimidade porque nenhum ex-atleta ou atleta em atividade tinha feito o que eu fiz pelo esporte paralímpico brasileiro. Até hoje não sei o que aconteceu com a comida que eu estava cozinhando. Deve ter queimado”, brincou.
Em sua despedida, antes da final dos 100 m livre no Estádio Aquático, o Tubarão Paralímpico voltou a se emocionar. Com a filha Anita, então com quatro anos na arquibancada, o brasileiro foi cumprimentado pelo compatriota Daniel Dias e por cada um dos outros nadadores, que deixaram suas raias e vieram abraçá-lo como forma de homenagem. “Geralmente, antes de uma final paralímpica está todo mundo focado, concentrado. Mas o Daniel estava do meu lado e veio me agradecer e dizer que estava ali por minha causa, porque me viu em Atenas. E depois todos os demais, de outras nacionalidades, também vieram me cumprimentar. Foi muito emocionante. Minha filha estava na arquibancada. Eu já larguei chorando”, recordou.
Da periferia de Natal a recordista paralímpico
Nascido em Natal, Clodoaldo teve paralisia cerebral e tem os movimentos das pernas debilitados — condição decorrente da falta de oxigenação durante o parto. O caminho até se tornar um campeão paralímpico foi longo e cheio de dificuldades. Foram quatro cirurgias para tentar amenizar sua condição física, antes da fisioterapia e da natação, em 1996.
Clodoaldo morava na periferia da capital potiguar. Quando criança, se locomovia praticamente só se rastejando pelo chão. Chegou a ar fome e, muitas vezes, não tinha dinheiro para pegar o ônibus para ir treinar e ficava na dependência da boa vontade do motorista e do cobrador.
Na mesma piscina onde ele nadava pela manhã, à tarde treinava a equipe paralímpica do Rio Grande do Norte. E foi ali que a natação deixou de ser apenas uma forma de reabilitação para mudar para sempre a vida de Clodoaldo – e de muita gente inspirada por ele. “Eu coloquei na minha cabeça que ia fazer parte daquela equipe e quatro anos depois estava em Sidnei em minha primeira Paraolimpíada”, lembrou.
Mais quatro anos depois e Atenas 2004 foi um marco em sua carreira. Lá, Clodoaldo conquistou seis ouros e se tornou o maior medalhista em uma única edição dos Jogos. “Atenas foi um divisor de águas para o esporte paralímpico brasileiro. Até então, as pessoas nem sabiam que Olimpíada e Paraolimpíada eram disputadas na mesma cidade. Depois daquilo, todo mundo começou a me reconhecer nas ruas e a dizer que eu era um exemplo para elas. Pessoas com e sem deficiência. Isso é muito gratificante”, ressaltou.
Ex-paratleta dará palestra motivacional na Capital
Hoje, Clodoaldo dá palestras motivacionais e fala sobre sua experiência de superação através do esporte. O ex-nadador é o principal nome da Semana Inclusiva da Grande Florianópolis, que ocorrerá de 18 e 24 de setembro na Capital. Também terá uma exposição com medalhas, troféus, tocha paralímpica e uniforme no Beiramar Shopping.
Clodoaldo está confirmado na abertura e realizará uma palestra no segundo dia, na Fundação Catarinense de Educação Especial. “Minha maior missão é essa, desde quando eu nadava. O principal objetivo é inspirar as pessoas com deficiência, trabalhar essa questão da ibilidade, conscientizar todos. Por isso, essa Semana Inclusiva é fundamental”, afirmou o ex-atleta, que filiou-se ao PSOL em março deste ano.