Depois de cinco anos trabalhando presencialmente em Florianópolis, a analista istrativa Águeda Piccoli finalmente conseguiu se mudar para perto do noivo, no Rio de Janeiro.
A empresa de marketing digital onde ela trabalha aderiu ao modelo home office em 2020, no auge da pandemia de Covid-19 no Brasil. Assim que sentiu mais segurança para viajar, Águeda fez as malas e colocou um fim na distância do relacionamento.

“Meu noivo é carioca e, por questões familiares, precisou sair de Floripa e vir para cá. amos um tempo lidando com a distância entre Rio de Janeiro e Santa Catarina e, quando tive a oportunidade, optei pela mudança, já que eu poderia trabalhar remoto,” conta.
A profissional acredita que a produtividade do trabalho e a carga horária não foram afetadas com a troca de modalidade, além de perceber melhora na qualidade de vida.
“Não preciso pegar trânsito ou transporte público, ajuda na rotina, no bem-estar e até na segurança. A empresa oferece auxílio mensal e o benefício de diárias de coworking, o que torna a experiência mais dinâmica, pois podemos nos encontrar com outros colegas que estão trabalhando pelo Brasil.”
Esse é um dos exemplos de adaptação no mercado de trabalho, com o uso de tecnologia e uma tendência dos próximos anos. De acordo com uma sondagem do ICRH (Índice de Confiança Robert Half), realizada em maio, mesmo após a flexibilização de medidas restritivas de isolamento social, o modelo de trabalho híbrido segue como preferência na maioria das empresas consultadas (57%).
Outros 33% confirmaram retomada ao formato presencial e os 10% restantes devem manter o formato totalmente remoto.
Outras Culturas 644n1q
O modelo anywhere office, uma modalidade que permite aos funcionários trabalharem de qualquer lugar, também tem sido adotado por alguns negócios.
É ocaso de uma desenvolvedora de software localizada no parque de inovação de Florianópolis, no Norte da Capital. A empresa tem 2.400 colaboradores, sendo que 80% não precisa trabalhar presencialmente.
“O grupo tem toda uma preocupação e um cuidado com seus funcionários, liberando auxílio financeiro para essas pessoas que estão em home office e fornecendo equipamentos de trabalho, como cadeiras e mesas. Contratamos pessoas de todo o país e isso nos gera um grande ganho, pois faz o grupo reinventar seus processos e se preparar para receber pessoas de outras culturas e religiões,” comenta a diretora de Gente e Cultura da Softplan, Waleska Cunha.
A adoção de modelos mais flexíveis foi apontada como tendência pelo ICRH. Recrutadores ouvidos destacaram a maior valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o reconhecimento da importância da saúde mental no ambiente de trabalho.
Ainda segundo o levantamento, a assistência médica, que era o benefício mais oferecido pelas empresas antes da pandemia, deu lugar à oferta de notebooks.
Outro dado que chamou atenção foi o fornecimento de celulares e chips aos colaboradores, que subiu da oitava para a sexta posição no ranking. O apoio psicológico,que nem estava no top 10, ou a ocupar o terceiro lugar na lista das prioridades.
Trabalho remoto autorizado na pandemia deve ser regularizado s4q6y
Durante o estado emergencial provocado pela pandemia de Covid-19, algumas mudanças nas regras de trabalho foram autorizadas por meio de medidas provisórias.
O trabalho remoto no país, por exemplo, foi regulamentado pela MP 1.108, publicada pelo presidente da República em 25 de março deste ano. A medida classifica o teletrabalho como “prestação de serviços fora das dependências do empregado, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que não se configurem como trabalho externo’’.
O texto permite que o empregado preste serviços por jornada, produção ou tarefa. Essa medida deve ser votada pelo Congresso Nacional nos próximos meses para não perder a validade.
Segundo o advogado trabalhista, Cezar Luiz Pasold Junior, a jurisprudência já sinalizava que caminharia no sentido de adequação às demandas do mercado.
“Você tem um teletrabalho que não é por tempo à disposição e sim por tarefa. É a mesma característica que a reforma trabalhista trouxe, com mais flexibilização, onde o trabalhador gerencia a própria demanda.”
A prestação de serviço de forma esporádica,ou “contrato intermitente”, foi criada pela Reforma Trabalhista de 2017. O julgamento da constitucionalidade da modalidade está marcado para 17 de agosto, na agenda de pautas do STF (Supremo Tribunal Federal).
“Muita gente que estava na informalidade nos serviços de bares, restaurantes, hotéis e casas de festas virou formal e, agora, é preciso verificar se está correto. Mas se você coloca dentro do sistema, traz o mínimo de segurança jurídica,” destaca o advogado.
Benefícios 50z63
ANTES DA PANDEMIA
- Assistência médica
- Assistência odontológica
- Notebook
- Vale-refeição
- Estacionamento
- Vale-alimentação
- Vale-transporte
- Celular + chip
- Aportes na previdência
- Auxílio combustível
ATUALMENTE
- Notebook
- Assistência médica
- Apoio psicológico
- Assistência odontológica
- Vale-refeição
- Celular + chip
- Auxílio financeiro
- Vale-alimentação
- Auxílio internet
- Estacionamento
Cenário rotativo e especializado 5loi
A proposta para ampliar as formas de contratação no Brasil surge num contexto de alto índice de desemprego e informalidade.
A desocupação atingiu 11,9 milhões de brasileiros no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística).
Já a taxa de informalidade ficou em 40,1% no mesmo período. Além disso, o país registrou 6,1 milhões de pedidos de demissão, no agregado de 12 meses, até maio deste ano, segundo levantamento da LCA Consultores. Um recorde!
Em contrapartida à desocupação, o cenário nacional é de um mercado que ainda precisa de profissionais em vários setores e os mais qualificados ganham destaque.
A área de tecnologia ficou em primeiro lugar no saldo líquido das contratações do país no ano ado. As atividades técnicas ocuparam a segunda colocação,contemplando cargos jurídicos, contábeis e de pesquisa de mercado.
Em terceiro lugar ficaram as atividades financeiras, principalmente pela expansão via grandes instituições e fintechs. Em seguida, o setor da Indústria de transformação e atividades istrativas também com resultados positivos.
As informações são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Previdência.
Também houve um aumento de 29,9% na criação de startups no Brasil nos últimos dois anos, segundo relatório elaborado pela PwC e a Liga Ventures,com base no radar da Startup Scanner.
Conforme o pesquisador e doutorando em contabilidade, Igor Pereira da Luz, esses novos modelos de negócio surgem com formatos mais flexíveis de trabalho,onde serviços são prestados por demanda em vez de carga horária.
“Nas startups, existe uma flexibilidade maior. Só que isso faz sentido quando você trabalha com informação ou criatividade porque, efetivamente, você libera a pessoa para ser mais criativa. De onde vem a maior parte da criatividade? Da hora que você para! É preciso deixar as pessoas livres para elas pensarem e o ambiente da startup visa este ponto,” sustenta.
Seguindo na linha de mudanças nas formas de trabalho, algumas empresas no mercado internacional fazem testes para diminuir a carga horária de trabalho de 40 para 32 horas semanais, sem alteração no salário.
Os experimentos são realizados em corporações de países como Bélgica, Escócia,Estados Unidos, Islândia, Reino Unido e Nova Zelândia. Segundo o doutor em economia, Cassiano Ricardo Dalberto, a redução na jornada de trabalho vem de uma perspectiva histórica.
“Se a gente comparar com o século 19 a jornada de trabalho em todos os países vem reduzindo. As pessoas trabalhavam mais de 10, 12, 15 horas por dia, às vezes até mais. Em geral, quem lidera esse processo de redução são os países mais desenvolvidos,”contextualiza o economista.
Dalberto ainda explica que a medida apresenta ganhos para segmentos específicos da economia, principalmente trabalhos que precisam de mais tempo livre para estimular a criatividade.
“Existem setores onde muitas vezes essa lógica do trabalho criativo não se aplica tanto e talvez não tenhamos essa mudança. Pelo menos não tão rapidamente. Pode vir a acontecer no Brasil, mas acredito que ainda teremos que esperar para ver isso acontecer.”
A redução de jornada, sem perdas salariais, assim como o aumento no emprego, dependem principalmente do crescimento econômico do país. O surgimento de novas tecnologias também pode contribuir para impulsionar novos negócios e estimular transformações significativas.
Segundo a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Florianópolis, Cristiane Faria, como os trabalhos operacionais devem continuar substituindo a mão de obra humana por máquinas e robôs, o ser humano vai ser cada vez mais alocado para áreas em que é preciso pensar.
O perfil do profissional do futuro deve se caracterizar pela capacidade humana de ter emoções 6u2j72
A analista destaca que o diferencial no perfil do profissional do futuro deve se caracterizar pela capacidade humana deter emoções.
“A escuta ativa e a flexibilidade para se adaptar em diferentes situações são fundamentais. A inteligência artificial está aí para nos ajudar. Não somos concorrentes. Ela traz informação, dados, estatística. O que fazemos com isso? Tomamos decisões”
Funcionários qualificados tendem a ser mais valorizados no mercado de trabalho. A taxa de desemprego dos profissionais com 25 anos, ou mais, e formação superior, ficou em 5,3% no primeiro trimestre deste ano, conforme dados do Caged, enquanto a taxa para o público geral, no mesmo período, foi de 11,1%.
Segundo Dalberto, um maior nível de ensino e especialização,geralmente, vem acompanhado de um acréscimo de renda. “O que determina a renda dos trabalhadores é justamente o nível de instrução. Eu diria que a busca por mais conhecimento vai continuar sendo cada vez mais importante no mercado de trabalho futuro.”